"O discurso da técnica, travestido de defesa da vida, não apenas é insuficiente para as periferias quanto soa como hipocrisia e insensibilidade para aqueles que já estão constantemente fragilizados pelo mesmo mecanismo de mercado que se propõe como solução. A recessão vindoura e a destruição de emprego e renda precisam ser combatidas na mesma medida que o vírus. Enquanto a economia de mercado se encontra em suspensão, a tragédia virá sob qualquer circunstância ao colocar milhões de pessoas em situação absolutamente bárbara. As ações racionais podem não apenas abrir as portas do autoritarismo justificado pela técnica quanto as da reação às tecnocracias conduzida pela extrema-direita", escreve Henrique Costa, sociólogo, doutorando no programa de pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP). É autor do livro Entre o lulismo e o ceticismo: um estudo com bolsistas do Prouni de São Paulo (Alameda Casa Editorial, 2018)
“Todos têm de deixar sua zona de conforto”. A expressão surgida nos manuais de gestão corporativa, repetida como mantra nos departamentos de recursos humanos e que virou lugar-comum em um mundo fascinado e dependente de autoajuda, ganhou mais um uso criativo no último dia 30 de março ao sair da boca de Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria. Na ocasião, o parlamento local aprovava a “lei do coronavírus” com 137 votos a favor e 52 contra, garantindo a Orbán o direito de suspender sessões parlamentares e eleições, impor prisão de oito anos para quem desrespeitar as regras de quarentena, e de cinco anos para quem divulgar informação considerada incorreta pelo governo. A “zona de conforto” a que se refere o líder húngaro de extrema-direita se entende pelo nome de democracia liberal, a qual vem sendo minada por seu partido dia após dia.
Onde o populismo autoritário é hegemônico tanto na sociedade quanto no parlamento, a pandemia tem sido usada como justificativa para a implementação de estados de exceção, como na Hungria. Onde não é, mas ocupa o poder, como no Brasil, a crise do coronavírus é minimizada, por ora.
Como disse David Runciman recentemente [1], o exercício do poder continua exatamente como previra Thomas Hobbes no século 17, e autocracias e democracias se adaptam quando crises assim as acometem. Contudo, é a forma como se legitimam que é tipicamente contemporânea: é o império da técnica, acima mesmo do interesse nacional, que garante a vida e a morte de um governante mais do que nunca. Tecnocracias hoje não são uma imposição de agentes econômicos, mas uma demanda dos setores esclarecidos de lugares que ainda podem se definir como sociedades. Mas Runciman tem razão quando aponta que não se trata, afinal, unicamente de questões técnicas, mas do uso coercitivo do poder, e que esta disputa moldará nossos futuros.
É uma zona de guerra consentida que se anuncia, como indica a tímida reação da União Europeia [2] à implantação do estado de exceção em um de seus países membros. Com muito menos repercussão e indignação por parte da mídia e de acadêmicos ocidentais, China e Israel, países de tradições políticas e ideológicas tão distantes, impuseram monitoramento ostensivo de seus cidadãos através da tecnologia mais avançada disponível. Israel, que antecipou em dez anos a aliança populista autoritária entre a extrema-direita política e parte importante da classe trabalhadora precarizada segundo a socióloga Eva Illouz, viu seu modelo se reproduzir nas principais democracias liberais do mundo. Agora, Benjamin Netanyahu e sua coalizão veem na crise uma janela de oportunidade para sair do recente imbróglio das eleições em sequência em que se envolveram.
Mas o espelhamento da pandemia atual com um conflito bélico é feito inclusive pelos sobreviventes do neoliberalismo progressista, Emmanuel Macron à frente. O francês inaugurou seu mandato em 2017 prometendo um “Estado startup”, o que deixa evidente sua árvore genealógica de ex-banqueiro. Por ora, paralisou seus planos de reformar a previdência francesa, iniciativa explosiva que havia juntado sindicalistas e coletes amarelos e feito sua já escassa popularidade se esfumaçar. Aqui e ali, governantes veem na crise sem precedentes a oportunidade de reafirmarem a mão do Estado, novamente alcançando seus cidadãos, não pela via dos direitos, mas como uma seguradora que garante o “bem mais precioso”, a vida biológica e precária em um mundo dominado pela cultura do medo.
A novidade é como o fazem: a figura do gestor, consagração personalística da técnica, agora emerge como fênix tanto nos estados autoritários, naqueles em vias de erodir suas democracias, quanto nos campeões do liberalismo. A crise do coronavírus arrebentará os últimos diques de contenção que impediam o predomínio final do capital sobre atividades e sujeitos que lhe faziam oposição? Terá se tornado finalmente incontestável a afirmação de Herbert Marcuse de que “racional é aquele que mais eficientemente aceita e executa o que lhe é determinado, que confia seu destino às grandes empresas e organizações que administram o aparato”? Quem ainda se insurgiria contra o império da técnica em um mundo em vias de se tornar unidimensional? Seria finalmente este derradeiro réquiem da política?
O casamento da técnica com a autoridade, do qual o caso chinês é exemplar, gera prejuízos no curtíssimo prazo, mas garante as condições de sobrevivência do sistema no médio. Enquanto a produção industrial do país entre janeiro e fevereiro deste ano se mostrava 13,5% menor comparada com o mesmo período do ano anterior, impactada pelo coronavírus, o Estado chinês usou seu poder coercitivo para garantir a vida plena do mercado. Para o combate à propagação do coronavírus, a China deu início a um experimento em massa com uso de dados, exigindo que seus cidadãos baixem em seus aparelhos um aplicativo que determina, com alto grau de arbitrariedade, se devem ficar em quarentena ou se estão liberados para usar o metrô e circular em shoppings e outros espaços públicos. O aplicativo em questão é o Alipay, operado pela unidade financeira do Alibaba, que o elaborou em colaboração com o governo e que tem 900 milhões de usuários em toda a China. Além de compartilhar informações com a polícia, não tem prazo para deixar de funcionar – o mais provável é que se torne mais um marco na vigilância em massa no país. O mercado de smartphones segue o ritmo: informa a Xiaomi, gigante chinesa do setor, que em março o comércio local já recuperava mais de 80% de seu nível normal.
No Ocidente, o neoliberalismo progressista promove sua revanche, conduzida por arautos do apocalipse vindouro, os especialistas. Do lado das classes dominantes, clama-se por um gestor competente, que se submeta ao aparato científico e tecnológico, que governe baseado em estudos amplamente reconhecidos por publicações acadêmicas com ótimo desempenho nas plataformas de ranqueamento. Daqueles até ontem vilipendiados, exalta-se o currículo lattes como antídoto à canastrice e às opiniões infundadas que podem ceifar preciosas vidas humanas, ainda que muitas tenham sido abandonadas à própria sorte nos últimos 40 anos pelo mesmo neoliberalismo. E clama-se para que se deixe os representantes, eleitos democraticamente, de fora da conversa.
Marcuse previra que a saída para frear a devastação provocada pelo capitalismo estava fora do sistema, o que muitos interpretaram como uma aposta no lumpemproletariado, e que foi apropriada pelo movimento estudantil dos anos 1960. O que se delineia agora é uma renovada sociedade unidimensional costurada ideologicamente pela consagração da técnica, em que os vencedores do capitalismo contemporâneo globalizado e competitivo exigem a restauração da racionalidade, eventualmente colocando um militar para nos conduzir na crise.
Para E. P. Thompson, a consciência de classe compreende a resposta mental e emocional, “seja de um indivíduo ou de um grupo social, a muitos acontecimentos inter-relacionados ou a muitas repetições do mesmo tipo de acontecimento”. As panelas que batem diariamente durante a crise nos bairros de classe média-alta das grandes cidades surpreendem a maioria e sugerem que a base de Bolsonaro agora se revolta contra ele. Sim e não. Das panelas da esquerda à Rede Globo, a demanda é a mesma e em nada oposta: é urgente restaurar a racionalidade e a supremacia da técnica e dos gestores e impedir a política de destruir vidas humanas.
O presidente está isolado, é o que afirma uma infinidade de críticos, de estrangeiros a tuiteiros locais mais ou menos informados ao analisar superficialmente o colapso social e institucional brasileiro. Talvez não seja o caso, e o wishful thinking ganha pretensões de análise para disfarçar certo desespero, pois no chão social das periferias e do interior do país as leis são diferentes. Às boas intenções da classe média responde o trabalhador precário que receber sem trabalhar é uma indignidade; ele parte justamente da distinção social que o trabalho ainda representa.
A situação extraordinária que vivemos neste início de década conduz governos dos mais variados matizes ideológicos à necessidade de se somar aos esforços contra a ameaça comum e invisível, enquanto toda a intelligentsia global exige uma condução tecnicamente responsável, que coloque “vidas acima da economia”. A estranha conjuntura sugere que, se Jair Bolsonaro deixasse a fantasia de extremista e assumisse finalmente sua responsabilidade perante a gestão da crise, teria seus pecados perdoados, assim como os tiveram Wilson Witzel e João Doria.
A guerra contra o coronavírus, por incontornável que seja, não pode servir para disfarçar uma guerra dos beneficiários diretos da consagração da técnica contra os pobres, boa parte deles simpáticos ao bolsonarismo, todos eles alvos da polícia controlada pela pulsão macabra de gente como Witzel.
Então, por que Bolsonaro resolveu ser o único governante de um país economicamente importante a resistir à tentação de se vestir como um gestor responsável, inclusive quando situações de exceção são justificadas pela execução eficiente e responsável dos recursos? E por que, apesar de suas reiteradas diatribes, respondidas com ira equivalente pela mídia, pelos políticos profissionais e pelos especialistas em coro unânime, suas posições ainda se mantêm tão populares, a ponto de pedidos de impeachment soarem como vãs tentativas de enquadrá-lo? Como é possível que, a despeito de sua leviandade e incompetência na gestão da crise, 58% dos entrevistados pelo Datafolha a considerem regular, boa ou ótima?
Bolsonaro refaz a cartilha de Lula ao seu estilo e se equilibra entre atender aos dois extremos da pirâmide, os empresários que querem o fim do isolamento e a volta das atividades, e a classe trabalhadora mais precária, aterrorizada com a possibilidade de perder emprego e renda, em um cenário de devastação que pode durar anos. Temos um exemplo da política de conciliação desses interesses e de seus bons resultados eleitorais: Lula e o PT já passaram pela experiência de ver sua base social mudar, movimento que ganhou o nome de “lulismo” na conhecida tese de André Singer.
Foi em 2005, durante a crise do Mensalão, em que parcela importante da classe média brasileira abandonou o partido que pregava a ética na política, mas que não a praticou quando ganhou a chave do cofre. Só que, ao mesmo tempo, o petismo conquistava o subproletariado, com o Bolsa Família e demais programas sociais, o que mudou definitivamente a base social da esquerda que se formou na redemocratização, e parte do empresariado, notadamente os donos das grandes cadeias de varejo, as mega empreiteiras e os grupos que detêm o mercado de educação privada.
Em uma sociedade atingida por eventos extremos, que no caso do Brasil se agrava com a desigualdade e a violência inerentes, a população reafirma a delegação de seu poder social para uma autoridade com disposição inabalável para enfrentar ameaças reais ou imaginárias. Bolsonaro é a imagem espetacular disso, e seu apelo reiterado à manutenção das atividades econômicas e do emprego de trabalhadores precários e informais mostra sua disposição em mudar ou expandir sua base social, que, como qualquer aposta, pode terminar mal. Se o neoliberalismo é um sistema de seleção e eliminação, e se o que levou Bolsonaro ao poder foi a política da sobrevivência dos mais preparados, não deve surpreender que a eliminação acelerada provocada pela pandemia seja sentida com indiferença por boa parte da sociedade pós-social brasileira.
Precarizada pela revolução tecnológica, acolhida pelo fanatismo religioso e sequestrada pela ideologia do empreendedorismo, a classe trabalhadora do país vê a tragédia social bater à sua porta. São motoristas de aplicativos que perderam até 90% das corridas, empregadas domésticas sem casas para fazer faxina, merendeiras demitidas das empresas terceirizadas que prestam serviços para prefeituras e governos, ambulantes, feirantes, instrutores de academia, barbeiros... a lista é interminável, assim como as consequências a que estão vulneráveis, da subnutrição à depressão. De todo modo, em um nível mais profundo, as consequências para a coesão social da inclusão pelo consumo dos anos lulistas e da sua descontinuidade, acarretando a volta a uma situação de precariedade desprovida de projeto político, já dinamitava a almejada formação brasileira em bases cidadãs. O que virá depois?
Já havíamos chegado a um momento em que a desigualdade em todos os níveis empurrava aqueles que estavam embaixo para uma relação puramente pragmática com a pobreza. Das relações geopolíticas ao empreendedorismo periférico, os expropriados da terra – de trabalhadores precários a nações novamente colonizadas exportando commodities em troca de manufaturados – buscam, como náufragos do neoliberalismo, agarrar um curto fio deixado pelas burguesias globais através de seus bancos, fundações e projetos sociais.
Ao analisar os “futuros majoritários” que assolam as democracias liberais, onde o conflito de identidade entre internacionalistas e nativistas se sobrepõe à dicotomia esquerda e direita, o cientista político Ivan Krastev afirma não haver nenhuma razão para que a classe trabalhadora contemporânea seja internacionalista quando seus modos de vida foram arrasados pelo neoliberalismo. Por outro lado, ondas crescentes de migração estimuladas pela “ditadura da comparação” substituíram suas próprias utopias: para eles, a ideia de mudança significa mudar de país e não mais mudar o país. Krastev chama essa de “a grande revolução do século 21”.
O discurso da técnica, travestido de defesa da vida, não apenas é insuficiente para as periferias quanto soa como hipocrisia e insensibilidade para aqueles que já estão constantemente fragilizados pelo mesmo mecanismo de mercado que se propõe como solução. A recessão vindoura e a destruição de emprego e renda precisam ser combatidas na mesma medida que o vírus. Enquanto a economia de mercado se encontra em suspensão, a tragédia virá sob qualquer circunstância ao colocar milhões de pessoas em situação absolutamente bárbara. As ações racionais podem não apenas abrir as portas do autoritarismo justificado pela técnica quanto as da reação às tecnocracias conduzida pela extrema-direita.
Mas, e se a mudança de que fala Krastev não for mais possível diante da pandemia imprevisível e sem precedentes? Como se comportará a “energia utópica”, como diz Paulo Arantes, aprisionada nas grandes periferias e favelas do mundo? No caso brasileiro, acabado o projeto desenvolvimentista, como farão sua revolução aqueles jogados para fora pelo neoliberalismo, que já não almejam fazer parte do andar de cima mesmo que em posição subalterna, mas sim conseguir uma ocupação precária no Norte do globo? Como reagirá a classe trabalhadora, ao ver as portas do inferno e não ter para onde fugir?
A revolta contra a técnica no país do colapso pode estar a apenas um empurrão. Karl Polanyi já havia teorizado a ascensão do fascismo como um movimento de autoproteção da sociedade contra o predomínio ilimitado do mercado, destruindo a si própria nessa guerra. A tese do fim da História defende que, ao não haver mais ideologias, a sociedade de mercado prevalecerá pelo império da técnica. Acelerá-lo é, ao mesmo tempo, negá-lo em seus termos, substituindo-o por uma pura luta de seleção e eliminação entre identidades tribalizadas numa corrida contra o tempo do fim.
Bolsonaro é um governante para o curto prazo, talhado para um mundo cada vez maior de indivíduos e suas famílias, para quem a perspectiva de futuro coletivo não existe nem é desejável. Seu plano não é neoliberal, mas ultraliberal: ele se reconhece nessa realidade parcial e aponta para uma solução, a guerra de todos contra todos e a sobrevivência dos mais fortes e “resilientes” – não por acaso uma palavra da moda. Como um pastor, ele é visto como senhor de um destino medíocre finalmente realizado, livre de “ideologias” agora exóticas e a serviço de Deus. É aquele que arbitra a esperança quando tudo o que importa é um sopro de vida no limiar do desespero. Por meio da violência generalizada, nas instituições ou fora delas, se compromete a estender para ativistas de direitos humanos, especialistas e servidores públicos o “fim dos privilégios”, isto é, o estado de exceção em que já vive a maioria.
Por fim, God is faithful. Bolsonaro não foi eleito para ser um gestor: ele decepcionará aqueles que querem sua submissão à técnica, irritará cada vez mais quem não se conforma em viver num país capaz de escolhê-lo, e pode sair da crise com uma popularidade renovada diante da resiliência aos que esperam que descumpra as promessas que fez para ser eleito.
[1] RUNCIMAN, David. Coronavirus has not suspended politics – it has revealed the nature of power. The Guardian, 27-03-2020.
[2] FOLHA DE SÃO PAULO. Sob críticas, UE diz que vai acompanhar medidas de emergência na Hungria. 01-04-2020.
[3] ILLOUZ, Eva. “From the paradox of liberation to the demise of liberal elites”. In: GEISELBERGER, H. The great regression. Cambridge: Polity Press, 2017.
[4] MARCUSE, Herbert. “Algumas implicações sociais da tecnologia moderna”. In: KELLNER, D. (org.). Tecnologia, guerra e fascismo. São Paulo: Editora da UNESP, 1999.
[5] O GLOBO. Coronavírus: China usa software para monitorar cidadãos e relaciona cor a estado de saúde. 02-03-2020. No Brasil, foi anunciado que as operadoras de telefonia Algar, Claro, Oi, Tim e Vivo fornecerão os dados de localização de 222,2 milhões de linhas móveis para o Ministério da Ciência, Inovação, Tecnologia e Comunicação (MCTIC).
[6] THOMPSON, Edward Palmer. A miséria da teoria, ou um planetário de erros: uma crítica ao pensamento de Althusser. Rio de Janeiro: Zahar, 1981, p. 15.
[7] Este artigo busca confrontar esta interpretação, mas ela já seria capenga quando notamos que há categorias bastante engajadas na defesa do bolsonarismo, como a dos caminhoneiros, que pregam a volta imediata das atividades comerciais, contra medidas tomadas pelos governadores. Natural, pois estes não fazem parte da espetacularização da crise, que exige um palco adequado, no caso os poderes da República.
[8] Pesquisa Datafolha realizada de 1º a 3 de abril de 2020. Na pesquisa, feita por telefone, Bolsonaro é mais mal avaliado por mulheres (43% de reprovação), pessoas com curso superior (50%) e mais ricos, acima de 10 salários mínimos mensais (46%).
[9] KRASTEV, Ivan. “Majoritarian futures”. In: GEISELBERGER, H. The great regression. Cambridge: Polity Press, 2017.