15 Abril 2020
Não se pode medir a proteção à vida com critérios econômicos, já que a economia deveria permitir a vida. Mas se o sistema financeiro desmorona, o número de vítimas será ainda maior. “O fato de basear-se unilateralmente em medidas de saúde ou de economia significa aceitar que ocorram vítimas adicionais”.
A informação é de Edelberto Behs, jornalista.
A análise é do professor Christoph Stückelberger, presidente e fundador da globethics.net, uma rede mundial com sede em Genebra que impulsiona ações e reflexões relacionadas às questões de ética, de modo especial através da sua biblioteca virtual.
A pandemia não levanta novas questões éticas, mas ela os escancara. Na prática, explica, “tomamos decisões sobre a vida e a morte, não apenas em situações extremas como a pandemia. Coisas como a quantidade de ajuda ao desenvolvimento que proporcionamos”, e até mesmo o preço que se paga por uma manga procedente de Gana , “têm repercussões concretas na viabilidade e na vida de outras pessoas”.
Em entrevista à Sandra Hohendahl-Tesch, do Portal da Igreja Reformada suíça, Stückelberger frisa que o acesso aos recursos e sua distribuição é a questão mais importante de justiça. A pandemia levanta de imediato o tema de como a humanidade deve se orientar como sociedade. Ele faz perguntas:
- Chamemos isso de ética ou não, sempre existem questões de valores, como: quanto vale a saúde? Quem deve ser protegido? Como se distribuem os escassos recursos existentes?
A crise atual, analisa, tem que ver com o equilíbrio de prioridades: Quais valores são mais importantes em cada situação? Nos primeiros dias da pandemia a saúde era primordial e o resto ficou em segundo plano. Mas “depois de duas, três semanas, começa uma segunda onda”, o aspecto econômico pesou. “A médio prazo, a rentabilidade também é uma questão de vida ou morte. O fato de não ter nada para comer representa uma ameaça para a vida”, afirma.
Otimista, ele destaca o crescimento de ações solidárias. “Graças a essa ameaça (corona-19) redescobrimos nossas virtudes e exercitamos a autodisciplina e a modéstia”, avalia. Mas ao mesmo tempo indaga se essa solidariedade está profundamente arraigada nas pessoas ou é apenas uma necessidade prática do momento.
O líder da Globethics acredita que a pandemia vai modificar alguns velhos padrões: o individualismo exagerado das últimas décadas será questionado, assim como será reconhecido o valor da comunidade e do núcleo familiar.
Ganhará destaque um simples princípio ético, a regra de ouro que está presente em todas as religiões do mundo: trata o outro como queres ser tratado. “Quem ajuda o outro também poderá contar com ajuda. Ajudar não é apenas um ato altruísta, mas ajudando todos nós ganhamos”, destaca.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Pandemia incentiva ações solidárias, diz presidente da Globethics - Instituto Humanitas Unisinos - IHU