16 Março 2020
O pontífice agradece, em primeiro lugar, aos sacerdotes que, com criatividade, "pensam em mil maneiras de estar perto do povo, para que o povo não se sinta abandonado". São padres "que entenderam corretamente", como em uma pandemia não se possa “bancar padre Abbondio *". O Papa agradece ao apresentar o Angelus de hoje, 15 de março de 2020, que ele conduz novamente "engaiolado" na Biblioteca do Palácio Apostólico do Vaticano (ao vivo web, vídeo e rádio) por causa da emergência do Coronavírus. Francisco lembra também o que o arcebispo de Milão, Mario Delpini, está fazendo "perto do seu povo" e em oração na cúpula do Duomo para pedir a proteção da Madonnina.
A reportagem é de Domenico Agasso Jr., publicada por La Stampa, 15-03-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Neste momento “está sendo encerrada a Missa que o Arcebispo celebra na Policlínica para doentes, médicos, enfermeiros, voluntários - fala Bergoglio - O Arcebispo está próximo de seu povo e também de Deus em oração. Lembro-me da fotografia da semana passada: ele sozinho na cúpula do Duomo rezando para Nossa Senhora”. O bispo de Roma quer "agradecer a todos os sacerdotes também pela criatividade. Recebo muitas notícias da Lombardia sobre essa criatividade. É verdade, a Lombardia foi fortemente atingida", mas existem "sacerdotes que pensam mil maneiras para estar perto do povo, para que o povo não se sinta abandonado; sacerdotes com zelo apostólico, que entenderam bem que em tempos de pandemia não se pode bancar o ‘Padre Abbondio’. Muito obrigado a vocês, sacerdotes”.
A passagem evangélica deste domingo "apresenta o encontro de Jesus com uma mulher samaritana - ele continua - Ele está a caminho com seus discípulos e param junto a um poço em Samaria. Os samaritanos eram considerados hereges pelos judeus e muito desprezados, como cidadãos de segunda classe". Jesus está cansado, “está com sede. Uma mulher chega para buscar água e ele pede: ‘Dá-me de beber’". Assim, quebrando todas as barreiras "inicia um diálogo em que ele revela àquela mulher o mistério da água viva, isto é, do Espírito Santo, o dom de Deus". De fato, diante da reação surpresa da mulher, o Filho de Deus "responde: ‘Se conhecesses o dom de Deus e quem é aquele que te diz: Dá-me de beber’, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva’". No âmago desse diálogo "há a água. Por um lado, a água como elemento essencial para viver, que sacia a sede do corpo e sustenta a vida. Pelo outro, a água como símbolo da graça divina, que dá a vida eterna”. Na tradição bíblica, Deus é "a fonte de água viva - como é dito nos salmos, nos profetas -: afastar-se de Deus, fonte de água viva, e de sua lei comporta a pior seca". É a experiência "do povo de Israel no deserto.
No longo caminho para a liberdade, sofrendo de sede, protesta contra Moisés e contra Deus porque não há água. Então, por desejo de Deus, Moisés faz a água brotar de uma rocha, como sinal da providência de Deus que acompanha o seu povo e lhes dá vida”. E São Paulo interpreta "essa rocha como símbolo de Cristo. Ele dirá assim: ‘E a rocha é Cristo’. É a figura misteriosa da sua presença entre o povo de Deus que caminha”. De fato, Cristo é "o Templo do qual, de acordo com a visão dos profetas, o Espírito Santo jorra, isto é, a água viva que purifica e dá vida. Quem está sedento por salvação pode buscar gratuitamente em Jesus, e o Espírito Santo se tornará nele uma fonte de vida plena e eterna”. A promessa da água viva "que Jesus fez à samaritana se tornou realidade em sua Páscoa: de seu peito ferido brotaram ‘sangue e água’. Cristo, o Cordeiro imolado e ressuscitado, é a fonte de onde brota o Espírito Santo, que redime os pecados e regenera a vida nova”. O papa acrescenta: “Esse dom também é a fonte do testemunho. Como a mulher samaritana, qualquer um que encontre Jesus vivo sente a necessidade de contar aos outros, para que todos confessem que Jesus ‘é verdadeiramente o salvador do mundo’, como disseram os companheiros daquela mulher”. Assim também "nós, gerados para uma vida nova através do batismo, somos chamados a testemunhar a vida e a esperança que estão em nós".
Depois do Angelus, o Papa recorda com tristeza que nestes últimos dias a Praça de São Pedro "está fechada; portanto, minha saudação vai diretamente para vocês que estão conectados através dos meios de comunicação". Nesta situação "de pandemia, em que nos encontramos vivendo mais ou menos isolados, somos convidados a redescobrir e aprofundar o valor da comunhão que une todos os membros da Igreja. Unidos a Cristo, nunca estamos sozinhos - ele garante -, mas formamos um único Corpo, do qual Ele é a Cabeça”. É uma união que "se alimenta com a oração e também com a comunhão espiritual na Eucaristia, uma prática muito recomendada quando não é possível receber o sacramento". Isso ele o fala para todos, "especialmente para as pessoas que moram sozinhas". Francisco renova sua "proximidade com todos os doentes e aqueles que cuidam deles". Assim como “os muitos profissionais e voluntários que ajudam as pessoas que não podem sair de casa e os que atendem às necessidades dos mais pobres e sem-teto. Muito obrigado por todo o esforço que cada um de vocês faz para ajudar neste momento tão difícil”.
Por fim, a saudação habitual: “Por favor, não se esqueçam de orar por mim. Feliz domingo e bom almoço! Obrigado."
Padre Abbondio é um dos personagens principais de I promessi sposi (tradução brasileira: Os Noivos), o mais importante romance de Alessandro Manzoni. A figura do religioso, depois do preâmbulo, abre a narração do célebre romance. Trata-se de uma pessoa titubeante, mesquinha, covarde, que submerge ante as dificuldades e os obstáculos e, como escreve Manzoni, é "um vaso de barro no meio de tantos vasos de ferro".
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O Papa: obrigado aos padres, eles entenderam que em uma pandemia não se deve “bancar padre Abbondio” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU