Bento XVI nunca viu nem aprovou o livro que o cardeal Sarah apresenta como de ambos

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14 Janeiro 2020

É um ataque contra Francisco, disfarçado de defesa do celibato

Já faz seis meses que Bento XVI não está em condições de escrever e apenas de falar, como constataram pessoas que o visitaram. Possivelmente mantém sua extraordinária lucidez, porém as conversas, imprecisas, não devem passar dos dez minutos, para não mencionar suas dificuldades de visão, audição e enfraquecimento geral.

A reportagem é de Juan Vicente Boo, publicado por ABC, 13-01-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

O livro assinado por Bento XVI e o cardeal Robert Sarah, lançado ao rugir de bumbos e pratos ontem pelo jornal Le Figaro e meio conservadores norte-americanos e italianos é uma manipulação editorial e midiática na qual o Papa emérito não teve participação alguma, segundo manifestaram ontem fontes muito próximas a Joseph Ratzinger.

Tudo parece indicar uma grave manipulação de Bento XVI por parte do cardeal guineense, prefeito da Liturgia e um dos principais opositores visíveis a Francisco.

“Das profundezas de nossos corações”, apresentado como uma defesa fervorosa do celibato sacerdotal frente à proposta de ordenação sacerdotal de diáconos permanentes indígenas formulada em outubro pelo Sínodo da Amazônia era em realidade uma manobra contra Francisco que pegou o Vaticano completamente de surpresa.

Já faz seis meses que Bento XVI não está em condições de escrever e apenas de falar, como constataram pessoas que o visitaram. Possivelmente mantém sua extraordinária lucidez, porém as conversas, imprecisas, não devem passar dos dez minutos, para não mencionar suas dificuldades de visão, audição e enfraquecimento geral.

Ao final de uma jornada de perplexidade, na qual o departamento de Comunicação do Vaticano preferiu inicialmente minimizar o impacto do inusitado gesto de Bento XVI e o prefeito da Liturgia, e reiterar a firme postura de Francisco em favor de manter o celibato, fontes muito próximas ao Papa emérito “descobriram o bolo”.

Bento XVI não escreveu esse livro com o cardeal Sarah, não viu nem aprovou a capa, nem o feto de que se apresentasse como escrito “a quatro mãos”.

Aparte da foto demasiado ostentosa, era muito estranho que assinasse “Bento XVI” quando, mesmo ainda Papa, assinava “Joseph Ratzinger – Bento XVI” sua grande obra “Jesus de Nazaré”, precisamente para deixar claro que não era um livro de magistério, mas sim uma reflexão pessoal.

O que ocorreu foi que há alguns meses Bento XVI trabalhava em um texto sobre o sacerdócio e o cardeal Sarah pediu para vê-lo. O papa emérito deixou sabendo que o prefeito da Liturgia estava escrevendo um livro sobre o sacerdócio e, provavelmente, pensando que o utilizaria somente como “background”.

A partir daí, tudo é obra do cardeal guineense e de seu publicitário, Nicolas Diat, junto com as editoras Fayard, da França, Ignatius Press, dos Estados Unidos, e Cantagalli, da Itália.

Apesar que seja correto defender o celibato, o modo de fazê-lo era uma falta de respeito às igrejas orientais e ao papa Francisco, a quem corresponde a decisão final em consciência, livre de pressões midiáticas que os próprios autores do livro denunciavam, porém, também praticavam com esse lançamento.

A edição norte-americana leva como subtítulo alarmante: “Sacerdócio, celibato e a crise da Igreja Católica”. O adiantamento do conteúdo em tom catastrófico pelo jornal Le Figaro recorda o lançamento mundial do manifesto do ex-núncio nos Estados Unidos Carlo Maria Viganò, que pedia a renúncia do papa Francisco sobre bases absolutamente falsas.

Um texto atribuído a Bento XVI afirma que “da celebração diária da Eucaristia, que implica um estado permanente de serviço a Deus, nasce espontaneamente a impossibilidade de um laço matrimonial”. O cardeal Sarah fala inclusive de “padres de segunda classe”.

A realidade histórica é que sempre existiram padres casados, do mesmo modo que continuam existindo nas Igrejas ortodoxas e também nas 23 Igrejas católicas do rito oriental.

De fato, a introdução dos padres casados na Igreja latina foi feita por Bento XVI, em 2009, com a constituição apostólica que criou os ordinariatos para padres e fieis anglicanos que vinham à Igreja Católica mantendo seu rito e tradição.

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