Plano original dos bispos dos EUA contra abusos foi estratagema de relações públicas, afirma Austen Ivereigh

O Papa Francisco se reúne com representantes da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA no Vaticano, em 8 de outubro de 2018. Da esquerda: Mons. Jeffrey Burrill, Arcebispo José Gomez de Los Angeles, Cardeal Daniel DiNardo de Galveston-Houston e Mons. Brian Bransfield, secretário geral da conferência. (Foto: Vatican Media | CNS)

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09 Novembro 2019

Autoridades da Conferência dos Bispos dos Estados Unidos (USCCB, na sigla em inglês) elaboraram um plano para enfrentar os abusos sexuais que, na verdade, era uma manobra de relações públicas, contornando deliberadamente a autoridade vaticana, de acordo com uma nova biografia sobre o Papa Francisco, escrita por Austen Ivereigh.

A reportagem é de Peter Feuerherd, publicada por National Catholic Reporter, 08-11-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O plano, que deveria ser apresentado ao órgão dos bispos em seu encontro de novembro de 2018, pedia que uma comissão leiga julgasse os bispos acusados de abuso sexual ou de acobertá-lo. A avaliação da proposta foi adiada por causa das objeções do Vaticano. Mais tarde, os bispos aprovaram um conjunto de diretrizes para implementar outro plano em sua reunião de junho deste ano.

Esse plano pedia que os bispos acusados de abuso sexual ou de acobertá-lo fossem responsabilizados por bispos mais antigos.

A proposta original, escreve Ivereigh, em seu recém-publicado Wounded Shepherd: Pope Francis and His Struggle to Convert the Catholic Church [Pastor ferido: o Papa Francisco e a sua luta para converter a Igreja Católica, em tradução livre], foi “elaborada às pressas para fins de relações públicas, refletindo mais uma cultura jurídica e corporativa punitiva estadunidense do que católica”.

Ele escreveu que a proposta original colocaria nas mãos de “leigos não responsabilizáveis o poder de citar e envergonhar bispos, até mesmo antes que seus nomes chegassem a Roma”.

No livro, Ivereigh escreve que Dom Brian Bransfield, secretário geral da Conferência Episcopal, e seu antecessor, Dom Ronny Jenkins, escreveram as propostas, com a expectativa de que elas fossem aprovadas pelos bispos em uma “demonstração surpreendente da sua determinação em responder às críticas”.

Na época, a Igreja dos EUA havia sido abalada pelas revelações sobre o ex-cardeal Theodore McCarrick, de Washington, acusado de abuso sexual contra menores e adultos.

Citando uma fonte não identificada, Ivereigh diz que o plano pretendia se desviar do Vaticano, apesar da lei e da tradição da Igreja de que apenas o papa tem o direito de julgar os bispos.

“A estratégia deles era confrontar o papa com um fato consumado. Eles pensavam: ‘Se isto for aprovado, o que Roma fará? Rejeitá-lo?’. A preocupação deles era parecer que haviam feito alguma coisa, e, se Roma contestasse, isso faria com que Roma ficasse malvista”, escreve Ivereigh, citando sua fonte.

Durante o encontro dos bispos, o presidente da Conferência, cardeal Daniel DiNardo, disse que o Vaticano anulou as propostas. Segundo Ivereigh, o objetivo era que os bispos ganhassem alguns pontos positivos em termos de relações públicas, e eles geralmente eram elogiados por quererem uma ação forte enquanto o Vaticano hesitava.

O jornal The Washington Post observou na época que o Vaticano “frustrou um plano dos líderes católicos dos EUA para enfrentar os abusos sexuais”.

James Rogers, porta-voz dos bispos, contestou o relato de Ivereigh. Em um comunicado de imprensa no dia 7 de novembro, ele disse que o autor “perpetua um mito infeliz e impreciso de que o Santo Padre encontra resistência entre as lideranças e o pessoal da Conferência dos Bispos dos EUA”.

O comunicado de imprensa afirmava que as propostas não invadiram a autoridade do papa e que a comissão leiga proposta se baseava na participação voluntária dos bispos.

“Embora as consultas informais com a Santa Sé ocorreram em outubro, previa-se que ela teria uma oportunidade de revisar e de oferecer ajustes apenas naqueles projetos que se beneficiassem da contribuição de todo o corpo dos bispos dos EUA, reconhecendo que emendas substanciais ainda poderiam ocorrer”, escreveu Rogers.

De acordo com o comunicado da USCCB, a decisão de DiNardo de adiar a votação das propostas era um sinal da sua “colaboração e obediência ao Santo Padre”. As medidas adotadas pelos bispos em seu encontro de junho de 2019, de acordo com o comunicado, receberam o apoio do Vaticano.

 

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