15 Outubro 2019
Jean-Claude Hollerich é um dos últimos cardeais nomeados pelo Papa Francisco, a quem impôs o capelo em 5 de outubro, na véspera do início do Sínodo para a Amazônia, do qual ele é um dos padres sinodais, algo que considera uma graça e uma alegria. Atualmente, ele é arcebispo de Luxemburgo e presidente da Comissão Episcopal da União Europeia (COMECE).
A entrevista é de Luis Miguel Modino.
O cardeal insiste que a assembleia sinodal está falando francamente, independentemente das opiniões diferentes, o que mostra que o Sínodo, que é caminhar juntos, está realmente acontecendo. Numa Europa em que, diante dos recentes incêndios na Amazônia, os jovens reagiram, uma Igreja “comprometida com a preservação da Criação, comprometida com os direitos humanos, com a dignidade e comprometida contra a violência” pode dar “uma nova imagem à Igreja” e tornar-se “o começo de um amplo movimento missionário na Europa”.
Sobre o papel das mulheres na Igreja, um dos debates presentes no Sínodo para a Amazônia, o fato de homens e mulheres terem sido criados por Deus, torna "a mesma dignidade para mulheres e homens", que tem como consequência que "não dá para ser uma Igreja de decisões tomadas apenas por homens".
Ser cardeal o surpreendeu "porque o Luxemburgo não é um cardinalato tradicional e não é periférico". Isso para ele significa "que eu tenho que me comprometer com a reforma da Igreja que o Papa Francisco quer".
Cardeal Jean-Claude Hollerich (Foto: Luis Modino)
Como o senhor está vendo os primeiros dias do Sínodo? Quais são suas reações ao que está sendo vivenciado na sala sinodal?
Para mim, é uma graça poder participar do Sínodo porque sou da Europa, não da região amazônica. Portanto, antes de tudo, é uma graça poder escutar a todos, escutar atentamente o que bispos, auditores, especialistas têm a dizer, há uma conversa muito franca. Todo mundo diz o que ele quer dizer e estou muito feliz com isso. Também temos pequenos grupos e sou o moderador do grupo de língua inglesa-francesa. No grupo, é um ambiente muito bom, onde podemos compartilhar. É uma alegria.
O senhor acha que o Sínodo pode realmente ajudar a Igreja e o mundo a se conscientizarem da importância da Amazônia?
Espero que sim e acho que sim, porque a queima da selva na região amazônica é terrível. Pelo menos na Europa, muitos jovens ficaram chocados com isso e é bom que estejam chocados. Mas temos que transformar esse impacto em energia para lutar e nos comprometer com a região amazônica e com as pessoas que vivem lá.
Parece que, na sala de aula sinodal, inclusive nos pequenos grupos, as pessoas estão falando com total liberdade, mesmo em tópicos tabus. Até que ponto o senhor acredita que as palavras do discurso inicial do Papa ajudaram os participantes da sala sinodal a falar com parrhesia?
As pessoas fazem isso, falam francamente. Existem pessoas mais conservadoras que também expressam isso, mas os outros não param de falar porque há quem é contra. Eles expressam sua opinião e eu estou muito feliz. Caso contrário, não seria um Sínodo.
Como o Sínodo da Amazônia, esses novos caminhos para a Igreja, podem influenciar a Igreja e a sociedade européia?
Acredito que para muitos jovens na Europa a Igreja é uma instituição antiga, sem muito a dizer para suas vidas. Quando vêem que a Igreja está comprometida com a preservação da Criação, comprometida com os direitos humanos, com a dignidade, comprometida contra a violência e que a Igreja tem o poder de transformar seu serviço, de mudar, isso traz uma nova imagem da Igreja. Isso pode ser o começo de um amplo movimento missionário na Europa.
O senhor mora no Luxemburgo, a Igreja alemã, que é uma Igreja européia, também propõe um maior reconhecimento do papel da mulher, que é uma das questões presentes no Sínodo para a Amazônia. Essa nova dinâmica pode realmente ajudar a Igreja a reconhecer o papel, o grande trabalho que as mulheres já realizam no dia-a-dia?
Bem, não precisamos reconhecê-lo, elas estão na vanguarda porque Deus criou homem e mulher, ou mulher e homem, e é a mesma dignidade para mulheres e homens, o mesmo amor por Deus, o mesmo batismo. É por isso que não dá para ser uma Igreja de decisões tomadas apenas por homens. Para mim isso é muito claro.
E, finalmente, o que significa para o senhor ter sido nomeado cardeal pelo papa Francisco?
Fiquei muito surpreso, nunca pensei nisso porque o Luxemburgo não é um cardinalato tradicional e não é periférico. Fiquei surpreso, mas isso significa que tenho que me comprometer com a reforma da Igreja que o Papa Francisco deseja.
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“Não dá para ser uma Igreja de decisões tomadas apenas por homens”. Entrevista com o Cardeal Hollerich, jesuíta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU