30 Agosto 2019
Discurso ambiental de Bolsonaro avaliado por expoentes do agronegócio.
O discurso ambiental de Bolsonaro já é por demais conhecido, no Brasil e no mundo, apesar dele ocupar a cadeira de Presidente há menos de um ano. Aqui, causa perplexidade àqueles não dominados pela esquizofrenia ‘esquerda/direita’. E, provavelmente, felicidade entre os países concorrentes do agro brasileiro, como a França por exemplo. Lembrando que o Brasil é o terceiro maior produtor de alimentos do mundo. No que vai dar a imensidão de bobagens, ainda não se sabe. Mas, hoje, a ignorância presidencial começa a assustar expoentes do agronegócio.
A reportagem é de João Lara Mesquita, publicada por O Estado de S. Paulo, 18-08-2019.
Blairo Maggi é acionista do grupo AMaggi, maior trading de grãos de capital brasileiro, e ex- ministro da Agricultura. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, ele declarou: “Não tem essa de que o mundo precisa do Brasil. Talvez precisem dos agricultores brasileiros em outros países, mas somos apenas um “player” e, pior: substituível. O mundo depende de nós agora, mas, daqui a pouco se inverte e ficamos chupando o dedo”,
Marcello Brito é presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), engenheiro de alimentos e diretor-executivo da Agropalma, maior produtora de óleo de palma do Brasil. Desde dezembro está à frente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), entidade que reúne muitas das principais empresas do País. Ele foi claro: “Falta uma sintonia maior com a realidade ambiental.”
Katia Abreu é ex-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e ex-ministra da Agricultura. O Estado de S. Paulo: “Uma das líderes da bancada ruralista no Senado, Katia Abreu (PDT-TO) disse que a política do presidente Jair Bolsonaro para o meio ambiente pode fechar o acesso de produtos brasileiros no exterior e causar prejuízos ao agronegócio.”
Valor Econômico: “Na avaliação do ex-ministro, a possibilidade de fechamento de mercados é maior justamente na Europa, com quem o Brasil e o Mercosul tentam destravar as relações comerciais a partir do acordo regional. Ele lembra que o acordo leva em conta o princípio da precaução, que permite o embargo de exportações brasileiras para o bloco europeu. Ele pontua, no entanto, que, apesar do discurso “agressivo”, não houve nenhuma atitude concreta do governo Bolsonaro. Maggi avalia que o agronegócio é o mais prejudicado por essa retórica que, na visão dele, está longe da realidade. Na entrevista ele esclareceu:
"Quando estou exportando soja, milho, eles (importadores) querem saber mais do que nunca a origem da certificação do meu produto. Os importadores, principalmente europeus, vêm visitar mais as lavouras, a produção, e querem saber mais como produzimos. E, se plantamos em área desmatada, eles não compram. Então, o discurso só atrapalha."
O Globo em entrevista com presidente da Abag: “Ele (Brito) defende os dados científicos que mostram o crescimento do desmatamento no Brasil (“É só dar uma passadinha aqui na Amazônia… para assistir a isso de camarote”) e a legislação que protege o ambiente, como o Código Florestal, ameaçado de alteração. Também afirma que a grande maioria dos empresários do agro já entendeu que o setor está ligado de modo irreversível à preservação do meio ambiente. Tanto pela dependência de terra e de água quanto pelo fato de que quem não se enquadra na nova agenda ambiental global perde mercados no exterior. E mostra preocupação com o recrudescimento da retórica antiambiental do atual governo. Mas acredita que o presidente ainda pode corrigir o rumo. “Se ele olhar as informações que o mundo está passando em relação às ações do Brasil, tenho certeza de que a atuação dele será diferente”, diz.
Em entrevista ao Estadão, a ex-radical ferrenha defensora dos ruralistas declarou: “Eu tinha um discurso radical, para o lado dos meus. Tenho muito orgulho de ter evoluído. Meu pensamento estava dentro de uma caixinha: ‘isso é ambientalista que quer destruir a agricultura brasileira, que já destruiu suas matas’. Aquela coisa decorada. E não tem nada a ver. Abri meus olhos. Aprendi o quanto a Amazônia era importante para garantir as chuvas no sul e centro do Brasil. Aprendi sobre a importância das Áreas de Preservação Permanente (APPs), vitais para manter nascentes de rios. Como é que você vai cobrar de uma Europa, que é milenar, que passou por duas guerras, fome e tudo mais e dizer que destruíram o meio ambiente? É um pouco forte demais. Isso é passado. Bolsonaro está se comportando como antimercado”.
Este foi o título de matéria de O Globo, publicada em 17/08/2019.”A retórica antiambiental do presidente Jair Bolsonaro causa desconforto entre empresários do agronegócio, sobretudo os exportadores…ruralistas começam a se reunir para traçar estratégias que atenuem as falas do presidente…”
O Globo: “Apesar do desconforto entre os ruralistas que dependem dos bons olhos dos importadores, o setor tem sido cauteloso e optou por não rebater diretamente as falas de Bolsonaro — ao menos por enquanto. O setor fica constrangido em se manifestar e sofrer retaliações, ainda que indiretas, do governo e de seus aliados. Existe um medo de perseguição dentro e fora do governo — disse uma interlocutora de grandes empresários do setor.” E mais adiante: “Segundo Eduardo Bastos, presidente do comitê de sustentabilidade da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), é importante dizer aos outros países que ainda dá tempo de corrigir o desmatamento, e não apenas por uma questão de reputação:
"Isso atrapalha o agronegócio no acesso ao mercado. No caso de produtos madeireiros, é competição direta entre madeira ilegal com legal."
Uma vez mais: “a política do presidente Jair Bolsonaro para o meio ambiente pode fechar o acesso de produtos brasileiros no exterior e causar prejuízos ao agronegócio. Bolsonaro está se comportando como antimercado.” Mais: “Discurso preocupa empresário do agronegócio.” E, ainda,’Produtores que estão alegres hoje vão chorar amanhã’.
Não à toa, a imagem externa do País despenca. É inacreditável o estrago provocado pelo presidente-sem-noção. Em apenas oito meses conseguiu destruir a imagem externa do País, a duras penas construída. Como assinalou o Estadão em editorial, ‘Não há como desvincular o fogo mostrado pela imagem da Nasa, nem o inegável aumento de incêndios florestais neste ano, da campanha contra as ações de proteção ambiental…Ninguém mais que o presidente Bolsonaro tem dado argumentos aos defensores do protecionismo agrícola europeu…Se há algo realmente inédito, é um presidente brasileiro incapaz de perceber o jogo econômico internacional e ignorante da importância, para o Brasil, da exportação de produtos de origem agropecuária.”
E, dizemos nós, campanha (acima mencionada) esta, diligentemente orquestrada pelo arrogante neófito que hoje ocupa a cadeira que já foi do titã do ambientalismo Paulo Nogueira Neto. Tristes trópicos.
As bobagens proferidas quase que diariamente levaram à queda da popularidade de Bolsonaro. Pesquisa da CNT/MDA divulgada em 26 de agosto de 2019 mostrou que mais da metade dos brasileiros – 54% – desaprova o desempenho pessoal do Presidente.”A avaliação do governo tampouco é alvissareira. Dobrou o porcentual dos que o classificam como “ruim ou péssimo”, saltando de 19% em fevereiro para 39% em agosto. No início do ano, de acordo com a mesma pesquisa, 39% dos entrevistados consideravam o governo “ótimo ou bom”. O número de satisfeitos caiu para 29% em agosto.”
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Discurso ambiental de Bolsonaro avaliado pelo agro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU