26 Julho 2019
Na noite de 20 de julho passado nosso olhar voltou-se novamente para o céu com emoção para observar aquela Lua na qual cinquenta anos atrás um homem pisava pela primeira vez, abrindo o horizonte da humanidade para novos mundos. Apenas o tempo de comemorar aquele evento excepcional, e duas notícias aparentemente pequenas nos trouxeram dramaticamente de volta com os pés no chão. Sobre esta nossa Terra cada vez mais torturada. A primeira, veio da Islândia, onde a partir de agosto uma placa lembrará o Okjökull, o primeiro dos 400 glaciares do país a desaparecer devido ao aquecimento global. "Uma carta para o futuro", consta em islandês e inglês, e mais que uma lembrança, aquela placa quer ser um alerta, para que "nos próximos 200 anos todas as nossas geleiras seguirão o mesmo caminho".
O comentário é de Gaetano Vallini, publicado por L'Osservatore Romano, 25 e 26-07-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Do outro lado do mundo, chegaram as imagens do rosto atônito de um indígena Awá, surpreendido no verde exuberante da floresta amazônica brasileira. Seu povo talvez nunca tenha tido contato com o mundo exterior ou tenha decidido no passado se isolar para escapar daqueles que, com o tempo, saquearam os ricos recursos naturais de seu território. Um grupo de ativistas indígenas decidiu mostrar o vídeo. Uma escolha para defender a tribo dos conquistadores de hoje, explicaram os autores do vídeo, para quem "essas imagens são um pedido de ajuda".
Sim, um pedido de ajuda. Um grito silencioso, mais um, que, como aquele que veio da Islândia, nos lembra de uma realidade dramática: nosso mundo está realmente em perigo. O ambiente está em risco e alguns lugares mais do que outros, embora agora saibamos que tudo está interconectado. Muitas populações estão em risco, com sua carga de história e de cultura. Alguns estão mais ameaçados do que outros. Mas, se é verdade que os primeiros a pagar o preço da mudança climática e da exploração sem regras dos recursos são os mais pobres, estamos percebendo que a conta está chegando rapidamente a todos, mesmo que não queiramos admitir isso.
A espiral destrutiva na qual a Terra foi projetada nada mais é do que o resultado do modelo econômico, não mais sustentável, na base dos atuais processos de produção, bem como de políticas de visão curta e comportamentos perversos realizados por tempo demais. Nos últimos cinquenta anos recebemos vários sinais de alerta, mas cometemos o erro de subestimá-los e às vezes, culpadamente, de optar por ignorá-los. Negamos uma verdade simples, mas muito importante, que justamente os povos indígenas, que são os mais ameaçados do mundo e lutam para salvar as terras em que vivem há séculos, estão desesperadamente tentando nos lembrar: respeitar o meio ambiente em que vivemos é garantir a nós mesmos a sobrevivência.
Hoje, aquele pequeno montículo de gelo que emerge com dificuldade entre as rochas, triste simulacro de um gigante milenar agora irremediavelmente perdido, e aquele olhar alarmado do nativo arrancado de um voluntário isolamento, nos colocam cara-a-cara com as nossas responsabilidades em relação à criação.
O futuro da terra está em nossas mãos. Alguém indicou o caminho a seguir. Uma vez que o homem está ligado à natureza e ela não é uma "mera moldura" da nossa vida, na Laudato si' o papa Francisco sugeriu o paradigma de uma ecologia integral, para combinar a preocupação com a custódia da criação, a equidade para com os pobres, o compromisso com uma sociedade justa e um desenvolvimento sustentável. E, ao mesmo tempo, pediu uma conversão ecológica, para rever práticas incorretas e se abrir a estilos de vida marcados pela sobriedade.
Por outro lado, os especialistas dizem que temos pouco mais de uma década para reverter o curso. É difícil dizer se é um excesso de pessimismo, mas dados e eventos recentes certamente não levam ao otimismo. Uma coisa é certa: precisamos mudar e rapidamente, caso contrário conheceremos catástrofes nunca vistas antes. Talvez não seja tarde demais. Talvez ainda tenhamos tempo para parar esse processo insensato de autodestruição.
***
É o mais rápido e generalizado aquecimento global que aconteceu nos últimos dois mil anos. As temperaturas aumentam a uma taxa que nunca ocorreu antes e de maneira homogênea em todo o planeta. Este dado assombroso, que afeta cerca de 98% do território terrestre, é o resultado de duas pesquisas realizadas pela Universidade Suíça de Berna e publicadas nas conhecidas revistas científicas «Nature» e «Nature Geoscience». Ambos os estudos são baseados em dados relativos à tendência do clima, detectados ou extrapolados, durante o período que vai desde a época do Império Romano até os últimos anos do século XX.
Para reconstruir a evolução que ocorreu em cerca de dois mil anos de história climática, os pesquisadores usaram cerca de 700 indicadores diferentes, como por exemplo os anéis de crescimento das árvores ou os dados relativos à análise das calotas de gelo ou sedimentos marinhos e lacustres. "O que emerge mais fortemente dos dados desses estudos é o tema da aceleração das mudanças climáticas, de sua velocidade". Quem afirma isso é Fábio Trincardi, diretor do Departamento de Terras e Meio Ambiente do Conselho Nacional de Pesquisa da Itália (CNR) que, sobre a situação atual relativas às mudanças climáticas, acrescenta: “O impacto do homem sobre o clima é tão forte que domina tudo e o planeta responde simultaneamente em nível global". Trincardi explica essa aceleração do aquecimento climático tomando como exemplo o mecanismo que atualmente governa o Ártico. Na região em torno do Polo Norte as temperaturas aumentaram entre 2 e 4 graus e a razão está na "superfície branca do gelo marinho ártico", que, explica o geólogo, "reflete a radiação infravermelha e a envia de volta ao espaço, mas quando o gelo é reduzido, devido ao aumento das temperaturas, a radiação encontra o oceano escuro a absorve até o 90%, amplificando o aquecimento”.
Na "Pequena era glacial", ocorrida entre os séculos XVI e XIX, o aquecimento afetou apenas 12% do planeta, com picos distintos nas diversas regiões. Entre 950 e 1250, uma anomalia climática levou as temperaturas a se elevarem em 40% do planeta.
No entanto, o que estamos assistindo agora representa um alcance tão extraordinário que é impossível encontrar uma situação análoga na história, pelo menos após o ano zero. Hoje, de fato, o aumento das temperaturas afeta 98% da esfera terrestre e os dados sugerem um aumento progressivo que continuará até o final do século XXI, a última data levada em consideração pelos pesquisadores suíços. Última, mas não definitiva. Assim se espera.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Da Islândia à Amazônia. O grito silencioso da Terra - O mais rápido aumento das temperaturas dos últimos dois mil anos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU