16 Julho 2019
O governo Trump nomeou uma católica de alto perfil e anti-LGBTQ para liderar uma nova comissão de direitos humanos que levantou preocupações para os defensores da igualdade de gênero e sexual.
O comentário é de Robert Shine, publicado por New Ways Ministry, 15-07-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Mary Ann Glendon, ex-embaixadora dos EUA junto à Santa Sé para o presidente George W. Bush, foi anunciada como presidente da recém-criada Comissão de Direitos Inalienáveis do Departamento de Estado. A comissão deve se basear na teoria da lei natural, uma abordagem da teologia medieval fortemente favorecida na Igreja Católica até hoje e que tem sido frequentemente empregada contra as pessoas LGBT.
Glendon elogiou o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, por convocar essa comissão quando “os direitos humanos básicos estão sendo mal interpretados por muitos, manipulados por muitos e ignorados pelos piores violadores dos direitos humanos do mundo”, relatou o Crux. A nomeação de Glendon levantou alertas junto aos defensores das pessoas LGBTQ e da igualdade das mulheres, aos quais ela se opõe há muito tempo. O NBC News explicou:
“Glendon começou a soar o alarme sobre as uniões gays em 2003, logo depois que a Suprema Corte de Massachusetts decidiu legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Naquele ano, ela assinou uma carta pública em apoio à Aliança pela Emenda Federal sobre o Casamento, uma proposta de proibição do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
“Em 2004, Glendon escreveu que as uniões entre pessoas do mesmo sexo representam ‘uma aposta por preferências especiais’, porque, segundo ela, o casamento é destinado à criação de filhos.
“Quando Nova York decidiu legalizar o casamento gay em 2011, Glendon pediu ao Legislativo que arquivasse a legislação, até que proteções suficientes à liberdade religiosa pudessem ser acrescentadas. Mais recentemente, em 2018, Glendon escreveu uma entusiasmada resenha sobre ‘When Harry Became Sally’, um livro que dizia que as pessoas transexuais são ‘uma moda politicamente correta construída sobre uma plataforma instável’.”
Glendon, que atualmente é professora na Harvard Law School, liderou a delegação do Vaticano na reunião das Nações Unidas sobre as mulheres em Pequim, em 1995, em que ela se opôs firmemente ao uso de preservativos para a prevenção do HIV/Aids. Essa reunião foi uma das primeiras vezes em que o Vaticano levantou oposição a uma suposta “ideologia de gênero”, um tema muita discutido agora. Sem mencionar especificamente as questões LGBT, Glendon promoveu a ideia de que os ativistas ocidentais dos direitos humanos estão praticando uma nova forma de “neocolonialismo”.
Glendon faz parte do conselho de instituições de direita como o Becket (anteriormente conhecido como Becket Fund) que promove processos judiciais anti-LGBTQ, da publicação First Things e do Instituto para a Ecologia Humana da Catholic University, que promove uma educação negativa sobre os direitos humanos LGBTQ. Glendon até atacou jornalistas por revelarem abusos sexuais na Igreja.
Segundo a CNN, ela falou sobre o fato de o Boston Globe ter sido indicado ao Prêmio Pulitzer pela sua inovadora reportagem sobre os abusos sexuais clericais sistemáticos, dizendo que “conceder o Pulitzer ao Boston Globe seria como dar o Prêmio Nobel da Paz a Osama bin Laden”.
A abordagem à lei natural por parte de Glendon será apoiada pelos outros membros da comissão (Russell Berman, Peter Berkowitz, Paolo Carozza, Hamza Yusuf Hanson, Jacqueline Rivers, Meir Soloveichik, Katrina Lantos Swett, Christopher Tollefsen, David Tse-Chien Pan), muitos dos quais são anti-LGBTQ:
“Entre os membros sinalizados pela GLAAD estão Peter Berkowitz, que em 2003 chamou a decisão da Suprema Corte que descriminalizou a homossexualidade de ‘perigosa’; Shaykh Hamza Yusuf Hanson, que disse em 2011 que o casamento entre pessoas do mesmo sexo é um sinal do ‘fim dos tempos’; Meir Soloveichik, que em 2012 escreveu em uma resenha que um livro anti-LGBTQ era uma ‘defesa influente do casamento como tem sido histórica e corretamente entendido’; Jacqueline Rivers, que em 2014 disse que os casamentos entre pessoas do mesmo sexo diminuem as uniões heterossexuais; Christopher Tollefsen, que em 2015 disse que as transições de gênero são uma ‘marca de uma cultura sem coração’; e F. Cartwright Weiland, que em 2017 trabalhou para um think tank que chama o casamento de ‘uma relação permanente entre um homem e uma mulher’.”
Na semana passada, eu escrevi que os católicos devem intervir contra qualquer possível abuso da lei natural por parte do governo Trump (alguns teólogos defenderam uma atualização da teoria da lei natural, baseada no conhecimento contemporâneo, o que permitiria uma atualização do ensino da Igreja sobre as pessoas LGBT e as mulheres). A teoria da lei natural é apenas uma das abordagens da tradição católica e continua sendo uma abordagem favorecida para a agenda negativa dos bispos sobre as questões LGBTQ. Portanto, não se pode confiar que eles desafiarão adequadamente o governo. O horrível histórico de Glendon sobre as questões gênero e de igualdade sexual significa que também não se pode confiar nela.
Essa realidade aumenta ainda mais os riscos para o restante dos fiéis no sentido de impedir que a Comissão de Direitos Inalienáveis atente contra as questões LGBTQ e a igualdade das mulheres em todo o mundo.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Governo Trump nomeia católica anti-LGBTQ para liderar comissão sobre lei natural - Instituto Humanitas Unisinos - IHU