11 Abril 2019
A emergência climática está entre as crises que mais o preocupam. “Mas sou 51% otimista”, diz o professor Diamond. Em 13 de abril, participará do Festival das Ciências da National Geographic no Auditório Parco della Musica, em Roma.
A entrevista é de Luca Fraioli, publicada por La Repubblica, 07-04-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Os garotos de geração de Greta podem realmente forçar os governos para que enfrentem as mudanças climáticas.” Também para Jared Diamond, estudioso e ensaísta, Prêmio Pulitzer em 1997 para Armas, Aço e Doenças, o aquecimento global está no topo da lista das crises globais. Se você tivesse perguntado ao professor Diamond há alguns anos (ele leciona geografia na Universidade da Califórnia em Los Angeles e periodicamente ministra cursos na Universidade Luiss em Roma), provavelmente ele teria colocado em primeiro lugar o risco de uma guerra nuclear, talvez por ter vivido na Alemanha, nos anos da Guerra Fria, enquanto surgia o Muro de Berlim. Mas agora que ele está prestes a publicar um novo ensaio dedicado às crises nacionais - Upheaval, (Convulsões, em tradução livre), a partir de maio nas bancas estadunidenses, britânicas e alemãs, no segundo semestre na Itália - confessa que o clima o preocupa mais do que outras emergências. Ele também falará sobre isso no Festival das Ciências da National Geographic, no dia 13 de abril, no Auditório Parco della Musica, em Roma.
Professor Diamond, em “Upheaval”, relata as crises dos países em que você viveu: EUA, Alemanha, Finlândia, Austrália, Japão, Chile e Indonésia. Depois, no capítulo final, analisa as próximas crises vindouras. Quais são?
A mudança climática. O risco de uma guerra nuclear ou que terroristas se apoderem de armas nucleares. O esgotamento de recursos: água potável, terra cultivável, pescados e recursos florestais. Finalmente, a desigualdade econômica entre os países da Terra.
Vamos começar pelo clima.
Sabemos muito bem o que fazer: reduzir cada vez mais os combustíveis fósseis e focar nas energias renováveis. Mas falta a vontade política. Há grandes interesses econômicos em jogo, por exemplo, das empresas petrolíferas. E, inclusive, os tempos com que se manifestam as mudanças climáticas são muito mais longos do que os 4 ou 5 anos do mandato de um político.
Mas agora assistimos a uma mobilização dos jovens em todo o mundo, na esteira de Greta Thunberg. Esses adolescentes conseguirão ter sucesso onde cientistas e políticos falharam até agora?
Devemos fazer todas as tentativas possíveis, não sabemos qual será a decisiva. E, em qualquer caso, a história, mesmo aquela recente, nos ensina que os jovens podem sacudir os governos. Estou me referindo aos jovens norte-americanos, e entre eles havia a mulher que se tornaria minha esposa, que protestavam contra a guerra no Vietnã. Em 1970, quatro estudantes foram mortos pela Guarda Nacional na Kant State University, em Ohio: aquele episódio mudou a opinião pública norte-americana.
O que acontecerá com o aquecimento global?
Sou otimista, mas em 51%. E não apenas sobre o clima. No primeiro esboço, meu livro tinha um final sem muitas esperanças. Mas depois refleti sobre quantas crises foram enfrentadas e resolvidas: da erradicação da varíola aos conflitos sobre as águas territoriais.
O Brexit também será resolvido?
Acabei de passar uma semana na Inglaterra: não sei como sairão dessa. E nem os ingleses o sabem. Nisso há uma profunda diferença com a crise climática.
Nessas crises contemporâneas, a Internet e as redes sociais desempenham algum papel?
Não sou especialista, apenas tenho um smartphone e só o uso para enviar mensagens de texto para a minha mulher. Mas certamente a nova mídia tem desempenhado um papel fundamental ao mostrar aos que vivem nos países pobres o nível de riqueza do Ocidente. E isso, naturalmente, tem a ver com a imigração: é normal que queiram emigrar e é impossível estancar esse fluxo.
Nos EUA Donald Trump está tentando com um muro.
Trump é claramente um doido. Porque a grande maioria dos imigrantes ilegais não precisa passar por cima do seu muro: entra legalmente nos EUA com um visto de turista e depois fica por lá. Seu muro só gastaria um monte de dinheiro para não resolver nada.
Voltando à Web, na Itália há aqueles que a pedem para a democracia direta. Poderia ajudar a resolver as crises?
Justamente o Brexit mostra que os britânicos, quando tentaram decidir por si próprios, só fizeram um desastre. A democracia direta é um ideal nobre, mas não funciona. Talvez tenha funcionado na antiga Atenas, onde aqueles que votaram eram 500, ou nas aldeias da Nova Guiné, onde todos os 200 habitantes falam por horas e depois decidem. Difícil é fazer isso em um país de sessenta milhões de habitantes.
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“Esses adolescentes podem forçar nossos governos a mudar o clima”. Entrevista com Jared Diamond, Prêmio Pulitzer - Instituto Humanitas Unisinos - IHU