18 Março 2019
Dias atrás, em resposta a pedidos urgentes do Episcopado da Nicarágua, foi reaberto o diálogo entre as oposições sociais e políticas (Alianza Cívica Opositora) e o regime autoritário do casal Ortega-Murillo. No entanto, essa reabertura do diálogo criou uma situação política e diplomática que também diz respeito ao Vaticano e que é bastante curiosa e inédita. Situação sobre a qual bem poucos chamaram a atenção, apesar da singularidade. Ao diálogo entre as duas partes, como "testemunha e acompanhante", participa o Núncio Apostólico, Mons. Stanislaw Waldemar Sommertag, mas não os bispos, que em teoria deveriam estar presentes através de seus delegados como fizeram na primeira parte das negociações que terminaram em junho passado sem resultados.
A reportagem é publicada por Il Sismografo, 17-03-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
No dia 8 de março, quando as conversações entre as partes começaram após a suspensão de quase oito meses, o arcebispo de Manágua, cardeal Leopoldo Brenes, que poucos dias antes havia se encontrado com o papa Francisco no Vaticano, com uma declaração oficial em nome de do Episcopado (incluído três prelados que naquele momento estavam no exterior, entre os quais Dom Silvio Báez) ressaltou que os bispos não participariam das conversações como "testimonios y acompañantes", limitando-se a apoiar sempre toda forma de diálogo pacífico e respeitoso com a oração. O cardeal Brenes acrescentou: "É preciso que os leigos assumam diretamente as questões temporais da nação". Imediatamente ficou claro, como foi indicado pela imprensa latino-americana, que os prelados da Nicarágua não confiam no casal Daniel Ortega, presidente, e Rosario Murillo, esposa e vice-presidente. Para os bispos, eles são os verdadeiros responsáveis pelo que vem acontecendo no país há quase um ano e, em especial, pelo fracasso do diálogo que foi suspenso em junho passado com acusações ofensivas contra o Episcopado, definido por Ortega como um grupo de "direita, golpista e antipatriota".
Por isso, nos diversos encontros destes dias só o Núncio sempre participou como "testigo y acompañante", e isto configura uma situação pelo menos nova, nunca vista em outras situações similares que viram o envolvimento da Santa Sé na América Latina. O Núncio age em nome do Santo Padre e certamente em total coordenação com o Episcopado. No entanto, essa situação resulta curiosa e não parece fácil encontrar uma explicação verdadeira e convincente. Na diplomacia vaticana, em situações semelhantes, o que acontece na Nicarágua é uma raridade.
O governo de Ortega, nestas últimas horas, em relação a repressão de sábado que terminou com mais de 100 prisões, tenta inflacionar midiaticamente o papel do núncio, criticando ao mesmo tempo os bispos, com o claro propósito de fazer crer que existe uma relação direta entre o governo e o Papa, independente do Episcopado. Antigo e obsoleto artifício já usado no passado.
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Nicarágua. O Núncio participa do diálogo entre o regime de Ortega e as oposições, mas não os bispos do país. Situação curiosa e inédita - Instituto Humanitas Unisinos - IHU