“Hinduístas, budistas ou muçulmanos, nem todos os indianos são vegetarianos”

Foto: Mohammad Hasan | Flickr CC

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04 Março 2019

Filósofa e diretora de pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisa Agrícola (INRA) e professora da Escola Normal Superior, Florence Burgat publicou Le Mythe de la vache sacrée. La condition animale en Inde [O Mito da Vaca Sagrada. A condição animal na Índia] (Rivages, 2017), em que analisa a relação dos indianos com os animais e o conceito de ahimsa.

A entrevista é de Jules Prévost, publicada por La Vie, 21-02-2019. A tradução é de André Langer.

Eis a entrevista.

Você pode definir o conceito de ahimsa?

Mais do que um termo, é uma doutrina. Designa o dever da não-violência em relação aos seres sencientes. O termo sânscrito é mencionado na literatura hinduísta e em textos budistas. Mas é sobretudo na religião jainista que assume todo o seu significado. No século XII, o rei do estado indiano de Gujarat converteu-se ao jainismo. Consequência: proíbe o abate de animais. O conceito é então retomado por vegetarianos convencidos como Gandhi que, buscando “salvar os bovinos da faca do açougueiro”, seculariza o ahimsa. Ele propõe então uma nova definição: o “não-desejo-de-perpetrar-qualquer-ataque”.

O que resta hoje deste conceito?

Embora a Constituição indiana não se refira explicitamente ao ahimsa, o artigo 51-A estabelece que é dever de todo cidadão do país “ter compaixão pelas criaturas vivas”.

Esta compaixão institucional é uma garantia de paz para os animais na Índia?

Na verdade, não. A tradição de respeito pela vida animal no país é um mito, assim como o caráter “sagrado” da vaca. Muitos indianos, assim como hinduístas, budistas e muçulmanos, não são vegetarianos. Em 2012, a Índia tornou-se o maior exportador de carne bovina do mundo! O Veda, o conjunto de textos hinduístas, afirma que “sacrificar não é matar”. O assassinato é alterado para não-assassinato: é, portanto, possível contornar o princípio da não-violência em relação aos seres de carne e de sangue.

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