15 Fevereiro 2019
A ação pioneira de um grupo de jovens ligados à Igreja Católica deu origem à organização não-governamental Operação Amazônia Nativa (OPAN), que agora completa 50 anos trabalhando em defesa dos povos indígenas.
A reportagem é de Luana Liana, publicada por Greenpeace, 13-02-2019.
Na década de 70, a sobrevivência física e cultural de muitos povos indígenas estava seriamente ameaçada por grandes projetos governamentais que avançavam sobre a Amazônia e o centro-oeste do Brasil. Empreendimentos como rodovias, hidrelétricas e a expansão da fronteira agropecuária atropelavam os territórios indígenas em nome de um modelo econômico que desrespeitava as pessoas que viviam ali e muitas vezes matava quem estivesse em seu caminho, resultando em um cenário arrasador para os povos indígenas.
Nessa mesma época, um grupo de jovens voluntários saiu do sul do Brasil rumo ao Mato Grosso com a missão de fazer diferente. Chamados por padres da Igreja Católica que queriam mudar a forma de atuação com os povos indígenas, eles deixaram o conforto de suas casas para viver nas aldeias. Em vez de buscar assimilar os índios e integrá-los à sociedade nacional, tinham em mente o respeito ao modo de vida e a autonomia desses grupos. Queriam aprender com eles, entender suas realidades e só então desenvolver propostas para apoiá-los na conquista e garantia de suas terras e direitos.
Assim teve origem, há 50 anos, a Operação Amazônia Nativa (OPAN), uma organização não governamental sediada em Cuiabá que atua no fortalecimento do protagonismo indígena e na defesa de seus direitos. Eles começaram em poucos, conforme contou Ivar Busatto, coordenador geral da OPAN, no seminário que comemorou os 50 anos da organização, mas plantaram sementes que se multiplicaram e deram frutos. Durante o evento, Ivar emocionou o público ao relembrar a história de origem da ONG, ao lado dos fundadores Egidio Schwade e Thomaz de Aquino Lisboa.
Em vez de integrar ou assimilar os índios à sociedade hegemônica, como se fazia na época, o objetivo da OPAN era realizar uma imersão nas aldeias para vivenciar o dia a dia desses povos. Foi uma proposta que mudou profundamente a forma de se relacionar com os povos indígenas e influenciou o surgimento de inúmeras organizações que hoje atuam ao lado desses povos.
Durante o evento, Nara Baré, coordenadora da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), falou sobre os desafios que estão sendo enfrentados pelos povos indígenas no atual governo. Em janeiro, o presidente Jair Bolsonaro transferiu para o Ministério da Agricultura a identificação, a delimitação, a demarcação e os registros das terras tradicionalmente ocupadas por indígenas, esvaziando e enfraquecendo a Fundação Nacional do Índio (Funai). Além disso, o atual governo vem demonstrando uma visão que não compreende a realidade dos povos indígenas e lembra aquela colocada em prática durante o regime militar, com consequências potencialmente desastrosas.
Hoje no regime democrático, a Constituição garante, principalmente nos artigos 231 e 232, os direitos dos povos indígenas, mas os retrocessos que estão tentando impor sobre eles são muitos. “Nós somos maiores do que qualquer governo que venha tentar nos denegrir, que venha tentar nos massacrar, qualquer governo que venha tentar também nos impor algo de doutrinação que nós não aceitamos mais”, afirmou Nara. “Juntos, não vamos permitir que seja dado nenhum passo atrás. A gente segura e vai caminhando para frente”, finalizou ela.
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Um olhar diferente para os povos indígenas. A ação pioneira da OPAN - Instituto Humanitas Unisinos - IHU