15 Fevereiro 2019
Às 15:45h de 26 de janeiro de 2019 o Papa Francisco reuniu-se na Nunciatura do Panamá com 30 jesuítas da Província da América Central, que inclui os territórios de Panamá, Costa Rica, Nicarágua, El Salvador, Honduras e Guatemala. Entre eles, o provincial, padre Rolando Enrique Alvarado López, o mestre dos noviços, padre Silvio Avilez e 18 jovens noviços. Logo que Francisco entrou na sala de encontro, os jesuítas entoaram o canto "En todo amar y servir”, bem conhecido na Companhia de Jesus. Em seguida, o Papa saudou a todos, um por um, antes de se sentar e começar a conversa.
A reportagem é de Antonio Spadaro, SJ, publicada por La Civiltà Cattolica, 14-02-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Obrigado por sua visita. Nas minhas viagens gosto de me encontrar com "os nossos", como costumava-se dizer quando eu era jovem[1]. Gostaria de dizer-lhe logo uma coisa: para as províncias da Companhia que se lamentam de não ter noviços ... você, provincial, passe a receita para eles! Perguntem o que quiserem, o que lhe interessa, o que lhe causa curiosidade. E com base nisso, vamos organizar a conversa. Eu não preparei nada. Vocês decidem ..."
Na homilia que dirigiu aos bispos, depois de ter falado sobre Monsenhor Romero, mencionou o jesuíta padre Rutilio Grande. Como está a causa da beatificação de Rutilio?
Eu gosto muito de Rutilio[2]. Na entrada do meu quarto há uma moldura que contém um pedaço de tela ensanguentada de Romero e as notas de uma catequese de Rutilio. Eu sou muito devoto de Rutilio, antes mesmo de ter conhecido melhor a figura de Romero. Quando eu estava na Argentina, sua vida me impressionou muito e sua morte me tocou. De acordo com as últimas notícias que recebi de pessoas informadas, a declaração de martírio está indo bem. E é uma honra ... Homens desse tipo ... Rutilio, além disso, foi um profeta. Ele "converteu" Romero.
Aqui há uma visão: a dimensão da profecia, aquela de quem é profeta pelo testemunho da vida, e não aqueles que o são, porque fazem a lição e andam por aí falando. Ele é um profeta do testemunho. Ele também disse o que tinha que dizer, mas foi o seu testemunho, o do martírio, que em última análise moveu Romero. Foi a graça. E, portanto, dirijam-se a eles com sua oração.
O senhor foi mestre dos noviços, não é? Em que época?
Comecei em fevereiro ou março, não me lembro bem, de 1972. Fiz isso até o dia de Santo Inácio, em 1973, quando assumi o cargo de provincial. Então, por um ano e meio.
Para o senhor, que foi mestre dos noviços, faço uma pergunta como mestre. Hoje, nas primeiras décadas do século XXI, as situações são muito diferentes daqueles convulsionados anos 1970 na América Latina. Mas há algo que o senhor recomendava aos seus noviços e que, na sua opinião, deveríamos continuar a repetir aos noviços de agora?
Entre as coisas daqueles momentos que deveriam ser transferidas para hoje e que permanecem atuais, eu destacaria uma atitude: a clareza de consciência. Não há lugar para os dissimulados: não servem para a Companhia. Quando você lê as cartas de São Francisco Xavier, percebe o quanto ele fazia questão de que as coisas fossem conhecidas: o que Jesus faz na alma de cada um, e também como o diabo confunde e como o mundo seduz.
Esse espírito deve ser combinado com uma grande confiança. Portanto, o mestre dos noviços não deve ser uma pessoa temerosa. Deve ser aberto, muito aberto, não deve se assustar com nada, não deve temer nada, e em vez disso ser afiado, capaz de dizer: "Cuidado com isso, olhe para o que você está me dizendo que é perigoso; esta é uma graça, continue assim”. Ele deve saber discernir. Um homem que não se assusta, um homem de discernimento.
Portanto, clareza de consciência. Quando estou com os noviços, digo a eles: olhem, se não se acostumarem desde agora a serem transparentes, é melhor sair. Porque as coisas estão indo para um caminho errado. Afastar-se da transparência, talvez devido a uma minúcia, é algo que pode acontecer em qualquer processo de crescimento. Mas tenham cuidado porque, se isso não for remediado rapidamente, depois chegará um momento em que a Companhia não saberá o que fazer com essa pessoa, porque se quebra o vínculo de fraternidade, de ser companheiros no Senhor. A partir daí a pessoa vai prosseguir através de truques, de desculpas, de doenças. De qualquer coisa que lhe permita fazer o que quiser. As pessoas que se comportam assim talvez irão para o paraíso, claro! Mas que vida feia, meu Deus, que vida superficial! Melhor sair, talvez se casar, ter filhos e ficar em paz. Mas viver assim, sem clareza de consciência, é parar na borda da Companhia, não entrar nela.
Eu insistiria muito sobre isso. É claro que é uma coisa delicada. De fato, no mestre existe uma capacidade de respeito, de não se assustar, de ouvir, de encorajar. De ser mais exigente. Isso também pode se aplicar aos superiores. Às vezes você até poderia ter desejado que tal pessoa não tivesse sido clara de consciência, porque tem um problema que você não sabe como resolver. Mas é a clareza de consciência que nos torna jesuítas. Além disso, o jesuíta deve saber que o Superior o ama e que o diálogo está em Deus.
Em um livro-entrevistas sobre a vida consagrada que acaba de sair, eu conto uma anedota [3]. Fala-se de um Superior. Um jovem, um "mestre"[4], estava em um determinado colégio espanhol, e sua mãe tinha câncer terminal. E na cidade onde morava sua mãe havia outro colégio da Companhia. E um dia, quando o Provincial veio visitá-lo, entre outras coisas, o jovem lhe perguntou: "Veja, minha mãe está doente. Ela tem menos de um ano de vida. Eu sei que você precisa enviar um mestre para aquele colégio. Eu gostaria de pedir que você me enviasse; assim estarei na cidade da minha mãe, então estarei perto dela nos seus últimos momentos". O Provincial ouviu-o muito atentamente e respondeu: "Tenho que discernir, tenho que pensar a respeito". E o jovem foi embora em paz.
Isso aconteceu na hora do almoço. O Provincial partiria na manhã seguinte ao amanhecer. O jovem transcorreu a tarde normalmente, e à noite parou na capela para rezar por sua mãe, para que tudo corresse bem ... Ficou lá até tarde e, quando voltou ao seu quarto, encontrou um envelope do Provincial. Abriu-o ... Era uma carta com a data do dia seguinte, na qual o provincial dizia-lhe: "Depois de ter refletido na presença do Senhor, e ter buscado a sua divina vontade... [e outras afirmações do mesmo teor...], e após ter celebrado a Eucaristia [aquela do dia seguinte!], creio que você deveria ficar neste colégio". O que tinha acontecido? O Provincial teria que sair cedo e tinha adiantado o trabalho, já havia escrito e deixado todas as cartas ao ministro[5], que deveria entregá-las no dia seguinte. Mas o ministro, vendo que já era tarde da noite e todos já estavam dormindo, as entregou imediatamente.
Aquele jesuíta não deixou a Companhia, mas teria tido todos os motivos para fazê-lo.
Portanto, é verdade que às vezes a clareza de consciência acaba em um contratestemunho desse tipo, em uma hipocrisia! Além disso, está se jogando com o discernimento, com a Missa, com tudo! Aquele Superior não tinha escrúpulos. Era aquele tipo de Superior que está sempre se equilibrando, que aposta nisso. Superiores mundanos, com o espírito do mundo. E, portanto, até mesmo os superiores às vezes não ajudam a ter clareza de consciência, e eles teriam responsabilidade por ela.
O superior deve ser muito humilde, muito fraterno e saber que chegará o dia em que deverá abrir sua consciência a outro Superior. Eu insisto nisso: transparência. Coloquem isso na sua cabeça, apostem nisso. Caso contrário, vocês serão um fracasso. Vocês serão jesuítas inconsistentes. Então é melhor sair, melhor ser bons pais da família.
Eu não estou fazendo um drama, mas é uma das coisas centrais da Companhia, o que garante o amor por Cristo, o seguir a Cristo. Eu fui formado assim ...
Como o senhor vê, hoje, a vocação de irmão?
Há três vocações na Companhia: professo, coadjutor espiritual e irmão[6]. Em 1974, na época da 32ª Congregação, que começou em 3 de dezembro, havia muita efervescência sobre a igualdade. Pensava-se que a diferença entre professo e coadjutor espiritual fosse uma injustiça social. Tinha havido alguma infiltração ideológica. Em suma, a tendência era fazer com que todos fossem professos, assim, de acordo com eles, todos seriam iguais. Padre Arrupe teve que reagir. Caso se continuasse naquela direção, algo da Companhia teria sido perdido. E na época apareceu outra visão, também ideológica: que o serviço próprio dos irmãos na Companhia fosse uma espécie de injustiça social. Era uma questão de "nível social". Como se o irmão Antonio García, zelador do museu dos mártires em Nagasaki, fosse um "servo" no sentido clássico e sociológico do termo. Em vez disso, ele era mais sábio do que todos nós aqui juntos! E era ele que ajudava muitos outros com o seu conselho. O irmão é aquele que tem o carisma mais puro da Companhia: servir. Servir. Servir.
Antes vocês estavam cantando En todo amar y servir. O irmão é assim. Concreto. Entre os irmãos que conheci, alguns eram "coloridos", tinham seus defeitos ... Alguns lutaram muito, lutaram por sua vida religiosa, como heróis, e não foram ajudados o suficiente em suas lutas e dificuldades. Eu me lembro de um, que tinha uma consciência clara, mas era um tanto “dom-juan”. Aquele pobre irmão se apaixonava o tempo todo. E ele vinha com humildade e dizia: "Ah, padre, não faço nada além de procurar continuamente uma namorada". Quem sabe, talvez ele nem sequer tivesse que ter entrado na Companhia! Mas eram homens transparentes e capazes de avaliar bem as situações. Aqui existe uma vocação ao serviço de maneira diferente: na mesma fraternidade, com a mesma dignidade religiosa, não simplesmente sociológica, como queriam considerá-la antigamente.
Alguns faziam comparações e diziam: "O irmão é a mãe". Não, não, não. Isso não é certo. A mãe é a Companhia e uma é suficiente. Mas o irmão é aquele que tem a cabeça no concreto, que olha para o concreto, que sabe se mover no concreto, o que quer que ele faça. Como enfermeiro, cozinheiro, porteiro, professor. Tem uma outra dimensão. Não é coisa de jesuíta avaliar o irmão segundo um perfil sociológico. Isso significa tirar seu serviço do devido contexto.
Entre os irmãos que tivemos na Argentina, alguns tinham suas pequenas falhas, é claro, mas eram homens desse calibre. Lembro de um deles, um homem santo. Era croata, tinha fugido de sua terra natal e acabou na Bélgica, em Charleroi, onde foi mineiro. Sempre conservou a devoção. Ele queria se tornar religioso. Não sabia onde. Emigrou para a Argentina e lá entrou na Companhia. Era um homem muito simples. Estava encarregado de todo trabalho com ferramentas. E, ficando no contexto das ferramentas, possuía a chave para tudo o que acontecia, entendia as coisas como elas eram, mas não abria a boca a menos que o superior lhe pedisse. Conheci muitos como ele: eram carvalhos. Muitos eram espanhóis que vieram para a Argentina. A província de Loyola era uma "fábrica" de irmãos. Os bascos que vieram até nós, aqueles que eu conheci, eram todos homens forjados de uma peça só.
Por que estou dando todos esses exemplos? Para dizer que a vocação de irmão não deve ser considerada a partir de um ponto de vista sociológico, mas do ponto de vista do que os irmãos estão, na realidade, em sua vocação específica, como Santo Inácio quis eles na Companhia.
Eu não quero exagerar, mas quando eu era provincial, talvez as opiniões mais simples e ao mesmo tempo mais acertadas para as ordenações vinham justamente dos irmãos. Eles diziam: "Sim, é assim e assim ... mas preste atenção a tal problema ...". Ou: "Essa pessoa tem certos defeitos, sim, mas também tem tal virtude ...". Em suma, nada lhes escapava. Tinham um olho especial.
Na Companhia, o irmão tem uma grande influência no corpo coletivo e na comunidade. Deve ser promovido, como qualquer jesuíta, para que dê o melhor de si. Mas a promoção não deve basear-se unicamente numa motivação sociológica ou ideológica, como se o irmão precisasse de uma promoção para se sentir uma pessoa! Se ele não se sentir uma pessoa como tal, deve repensar sua vocação. E o irmão não precisa de cosméticos. Essa vocação não pode ser perdida! Não sei se te respondi.
Estamos no contexto da JMJ e há várias reuniões de jovens. No dia das boas-vindas, na «Cinta Costera», o senhor falou sobre a cultura do encontro. Está convencido de que o encontro é um tema forte para a nossa juventude, assolada por tanta cultura da informação. Parece que a encontro às vezes seja truncado e que a proximidade seja mediada pela rede informática.
Veja, o mundo virtual ajuda a criar contatos, mas não "encontros". Às vezes “fabrica” encontros, seduzindo você com os contatos. Quem percebeu isso perfeitamente sob o aspecto filosófico foi Zygmunt Bauman. Ele escreveu seu último livro com seu assistente italiano e morreu enquanto trabalhava no último capítulo. A viúva entregou a obra ao assistente, dizendo: "Termine-o e publique-o, coloque também o nome do meu marido", pois era um de seus discípulos e o conhecia bem. E ele o publicou em italiano[7]. Seu título é Nati liquidi (Nascidos líquidos, em tradução livre), isto é, inconsistentes. Mas na tradução alemã o título é Die Entwurzelten, "Sem raízes". Na mentalidade alemã, aqueles que nascem líquidos não têm raízes. Perfeito. É exatamente assim.
O que pode fazer o mundo puramente virtual, se estiver isolado em si mesmo? Pode te dar uma satisfação, um consolo artificial, mas não te mantém unido às tuas raízes. Coloca-te em órbita. Tira de ti tua dimensão concreta. Isso corre o risco de ser um mundo de contatos - eu disse aos bispos - mas não um mundo de encontros. E isso é perigoso, muito perigoso. E quanto a isso, os jovens devem receber uma direção muito séria. Uma direção da qual eles não devem se sentir desapropriados, mas enriquecidos. Aqueles de vocês que trabalham com jovens, por exemplo nos colégios, têm a tarefa de ajudá-los para o encontro.
E em que consiste a crise atual do encontro? É uma crise de raízes. A geração de meio - pelo menos na Europa e na minha terra natal - isto é, os pais dos jovens, não tem a força de transmitir as raízes. Porque são pessoas dilaceradas, muitas vezes em competição com seus filhos. São os avós que estão dando as raízes. Ainda estão aptos a fazer isso. As raízes são dadas pelos idosos. Por isso, quando digo que os jovens devem se encontrar com os idosos, não expresso uma ideia romântica. Deixe-os falar. No começo, os jovens dizem que estão cansados, que estão entediados, ficam em silêncio.
Eu tive a experiência de jovens e grupos de jovens a quem era feita a proposta de ir tocar violão para os hóspedes de um lar de idosos. Eles respondiam: "Não, eles são velhos". Mas depois, quando iam visitá-los, não queriam mais sair de lá. Uma música e depois outra. "Toque esta para mim!", e: "No meu tempo ..." e assim por diante: os idosos acordam ... Estou fazendo uma referência ao capítulo 3 do livro de Joel: os vossos velhos terão sonhos e os jovem terão visões. Os idosos começam a sonhar, a contar, e os jovens começam a profetizar: não o que os idosos lhes disseram, mas sim aquilo que os sonhos dos idosos desperta neles.
Isso é encontro. Isso é realidade. Mas é importante ir às raízes. O que a cultura virtual nos oferece é algo líquido, gasoso, sem raízes, sem tronco, sem nada. O mesmo acontece no campo econômico e financeiro. Nesses dias, eu estava lendo uma notícia comunicada no encontro de Davos, que a dívida geral dos países é muito maior do que o produto bruto de todos juntos. É como a fraude das correntes virtuais: os valores incham, milhões e bilhões, mas no fundo não há nada além de fumaça, é tudo líquido, gasoso e, mais cedo ou mais tarde, vai entrar em colapso.
A virtude que hoje é solicitada a todos, e especialmente para um jesuíta, é a concretude. Como aquele confessor que tivemos no Colégio Máximo, que confessava à noite. Ele era muito idoso. Enquanto fazíamos o exame de consciência, alguns iam se confessar e, diante de sua porta, havia sempre uma fila. Ele confessava rapidamente, dizia poucas palavras. Mas um de nossos companheiros, um tipo angelical, muito espiritual, um dia nos contou que uma vez havia se confessado com ele e que nunca mais voltaria. "Ele me maltratou, me atacou", dizia. E, claro, ficamos intrigados ... o que teria dito esse anjo para ser repreendido assim? E ele nos contou: "Comecei a contar-lhe as minhas dificuldades. E ele disse: vá direto ao assunto!" Em suma, ele estava acostumado a ouvir coisas pesadas, então quando o rapaz foi lhe contar coisas angelicais, tão líquidas, ele não tinha acreditado e insistia para que ele se revelasse. Concretude! Chega de cabeça nas nuvens!
Mas como fazer para que os jovens sejam concretos? Ocorre-me o caso de padre La Manna, que agora está no Instituto Massimo, em Roma. Este homem conseguiu trazer a concretude em seu instituto, uma das escolas mais refinadas de Roma; conseguiu criar com os garotos um impressionante espírito social. Concretude. Fora as pequenas coisas etéreas. Vida espiritual concreta. Vida comprometida, concreta. A vida da amizade, concreta. Concretude. É com isso que salvaremos o homem. Mas volto ao diálogo com os idosos: por favor façam isso antes que seja tarde demais! Porque é uma âncora que pode salvar a nossa juventude.
Vendo o testemunho que caracterizou a Companhia de Jesus na América Central, o que o senhor acha que podemos levar como contribuição para a Igreja universal?
Na América vocês foram pioneiros nos anos de lutas sociais cristãs. Vocês foram pioneiros. Se o padre Arrupe escreveu a Carta sobre cristãos e "análise marxista" para falar sobre a realidade da teologia da libertação, é porque havia alguns jesuítas que estavam um pouco confusos. Não com más intenções, mas estavam confusos, e naquele momento o Padre Geral precisou consertar as coisas. Colocá-las novamente em foco. Então, quem condenava a teologia da libertação, condenava todos os jesuítas da América Central. Eu ouvi condenações terríveis. E quem a aceitava, aceitava tudo sem fazer distinções. Em qualquer caso, a história ajudou a discernir e purificar. São processos de purificação. Mas, se não estou enganado, vocês foram os pioneiros, com seus pecados, com seus erros, mas, mesmo assim, pioneiros.
Naquela época, um dia peguei o avião para ir a um encontro. Saí de Buenos Aires, mas como a passagem era mais barata, fiz escala em Madrid antes de ir para Roma. Um bispo da América Central embarcou em Madrid. Eu o cumprimentei, ele me cumprimentou; sentamos um ao lado do outro e começamos a conversar. Perguntei-lhe sobre a causa de Romero e ele respondeu: "Nem sequer se fala sobre isso, não mesmo. Seria como canonizar o marxismo". Foi apenas o prelúdio. Continuou nesse ritmo. Também no episcopado havia visões diferentes, havia também aqueles que condenavam a linha da Companhia. E, de fato, aquele bispo passou de criticar Romero a criticar os jesuítas da América Central. Mas certamente não era o único a pensar assim. Na época, alguns outros membros da hierarquia eclesiástica estavam muito próximos dos regimes da época, estavam muito "inseridos".
Em uma reunião em Roma, encontrei um Provincial, acusado de ser esquerdista. Eu o questionei sobre a teologia da libertação, e ele me deu um panorama muito objetivo e até mesmo crítico em relação a alguns jesuítas, mas me mostrando qual era a direção positiva; para aqueles que viam tudo isso de fora, tudo parecia muito, muito difícil de aceitar. A ideia era que canonizar Romero fosse impossível porque aquele homem não era nem mesmo cristão, era marxista! E, portanto, eles o atacavam. Naquela tempestade também havia boas sementes. Alguns exageraram, sim, mas depois voltaram. Sempre houve exageros. Alguns se passaram mais que outros, é verdade, mas a substância era diferente. Vocês estavam bem no meio daquela revolta. E seria bom se vocês relessem a história daqueles homens. Havia pessoas como Rutilio, que nunca saiu da linha, e fez tudo o que ele tinha que fazer. Do ponto de vista ideológico, ele nunca se perdeu e, por outro lado, havia outros que acabavam se perdendo, porque se sentiam encantados pela filosofia de um determinado autor e com base nela reliam e interpretavam os fatos. Mas são coisas humanas, compreensíveis em circunstâncias difíceis.
As ditaduras que vocês tiveram na América Central foram do terror. O importante é não se deixar subjugar pela ideologia nem de um lado nem do outro, e nem mesmo pela pior de todas, que é a ideologia asséptica. «Não se intrometer»: esta é a pior ideologia. Foi a atitude daquele bispo que encontrei no avião, que era um asséptico. Arrupe sobre isso foi muito claro no discernimento que ele fazia. Defendia a todos, mas depois corrigia cada um em particular sobre o que tinha que corrigir, caso tivesse que corrigir alguma coisa. Isto é típico do Superior, defender a todos ... E, portanto, é importante a prestação de contas de consciência, porque nela são apertados todos os parafusos que estão frouxos. Esta é minha opinião.
E hoje nós idosos rimos do quanto nos preocupamos com a teologia da libertação. O que faltava então era a comunicação para fora de como as coisas realmente estavam. Havia muitas maneiras de interpretá-la. Certamente, alguns desviaram na análise marxista.
Mas vou lhes contar uma coisa engraçada: o grande perseguido, Gustavo Gutierrez, o peruano, concelebrou a missa comigo e com o então prefeito da Doutrina da Fé, Cardeal Müller. E isso aconteceu porque justamente Müller apresentou ele para mim como seu amigo. Se alguém naquela época tivesse dito que um dia o prefeito da Doutrina da Fé teria levado Gutiérrez a concelebrar com o Papa, teria sido tomado por bêbado.
A história é mestra da vida. Vai se aprendendo. Uma das coisas que me fez muito bem em um momento de minha existência foi ler a História dos Papas de Ludwig von Pastor ... um pouco extensa, 37 tomos! Eu conheci ali a época da supressão da Companhia, mas não só isso. A história nos ensina. Sem ir muito longe, aconselho que leiam os quatro volumes de Giacomo Martina, grande professor da Gregoriano, sobre a história da Igreja, desde Lutero até os dias atuais. É uma leitura agradável, porque sua prosa era ótima. Ele irá orientá-lo através dos problemas do modernismo ... Recorre à história para entender as situações. Sem condenar as pessoas e nem as santificar antecipadamente. Não sei se te respondi.
Em breve, alguns de nós farão a profissão dos votos. O que pode nos dizer?
Que os votos são perpétuos! Não são perpétuos para o Superior que os recebe, mas para vocês que os pronunciam, sim[8]. E sobre isso não se brinca. Se alguém não se sentir bem, não os faça, leve mais tempo. Tentar? Não, não mesmo. De sua parte, eles são perpétuos, para toda a vida.
Colocar a própria vida em jogo: é uma das coisas mais arriscadas que existam hoje. De fato, estamos em uma época em que o provisório prevalece sobre o definitivo. Sempre. Por exemplo, é dito: "Eu me caso por toda a vida ... enquanto durar o amor". Em suma, é como se eu dissesse: "Eu me caso por três ou quatro anos, então, no primeiro conflito, no primeiro arrefecimento do amor, procuro outra companheira".
Um bispo que veio me visitar contou que um jovem advogado, recém graduado, vinte e três anos, zeloso, inserido em um grupo, lhe dissera: "Quero ser padre, mas por dez anos!" Aqui está o provisório! Há um livro de José Comblin de quarenta ou cinquenta anos atrás, que já não se encontra mais, que se chama O provisório e o definitivo, e fala da filosofia da cultura que emerge hoje: a do provisório. Tudo existe enquanto dura. Enquanto durar o consolo, enquanto me tratarem bem ...
E às vezes a vida não te trata bem, te trata como um delinquente. E se você ama Aquele que foi tratado como um criminoso, você não pode deixar de suportar. É definitivo, com tudo o que envolve a "terceira semana" dos Exercícios Espirituais[9]. Com tudo o que significa a meditação das "Duas bandeiras"[10], que não é uma solução cavalheiresca de Inácio, mas é a sua experiência. Isso implica pedir para ser humilhados, sofrer humilhações, pelo amor de Cristo, sem ter dado motivo.
Os votos são perpétuos, com um estilo de vida que deve ser o dos Exercícios, de acordo com o qual podem te enviar para fazer qualquer trabalho, qualquer coisa: tanto ensinar religião para crianças quanto ensinar na universidade, ou fazer, sabe-se lá, o equilibrista em um circo ... A Companhia pode mandar você fazer qualquer coisa. Isto é o que eu entendo por definitivo. O tempo definitivo; o estilo, o dos Exercícios; a disponibilidade, para qualquer coisa. Para amar e servir, como vocês cantavam no início. Vocês não diziam para simpatizar e dar uma mão. Amar e servir é o núcleo. Não tenham medo! Coragem.
Eu tenho uma pergunta sobre a inculturação a respeito dos povos da nossa América. Falo em primeira pessoa, porque eu pertenço à cultura maia. O que o senhor acha daqueles padres e bispos diocesanos que tentam homologar os jovens desde os primeiros momentos de formação? Na prática, infelizmente, formar se torna como ofuscar e a identidade é coberta. O que pensa daqueles sacerdotes que não se sentem mais em sintonia com o povo do qual vieram?
Minha avó tinha em grande importância a catequese. Ela nos explicava que na vida tínhamos que ser humildes e não esquecer que havíamos nascido de uma família humilde. Ela, que era do norte da Itália, nos contava sobre uma família de uma cidade italiana que tinha mandado um filho para estudar em uma universidade. Dizia que era um fato verídico. Era uma família de camponeses. O filho não retornou até se formar. Ele não tinha tido a chance de voltar. E uma vez em casa, ele começou a perguntar ao pai: "Qual é o nome daquela ferramenta? E daquela outra?” "Esta é uma pá, meu filho." "Ah, uma pá. E aquela outra ferramenta, qual é o nome dela?”. “É um martelo.” "Ah, um martelo." Ele tinha crescido ali, mas não conseguia lembrar de nada. "E essa outra ferramenta, qual é o nome dela?" E seu pai respondia. Tinha também um ancinho. E o filho, distraidamente, pisou nele. O ancinho virou e bateu na sua cabeça. E ele exclamou: "Droga de ancinho!" [Aqui o Papa imita o gesto, provocando a hilaridade geral].
Quem se esquece de sua cultura realmente precisa de uma “ancinhada” na cara. É terrível quando a consagração a Deus nos torna esnobes, faz-nos subir de categoria social para uma que nos parece mais educada que a nossa. Cada um deve preservar a cultura da qual provém, porque a santidade que ele quer alcançar deve basear-se nessa cultura e não em outra. Você que vem daquelas culturas, não deixe que sua alma fique engomada, por favor! Seja maia até o fim. Jesuíta e maia.
No outro dia padre Lombardi me contava que estava trabalhando na causa de beatificação de Matteo Ricci e falava sobre a importância de sua amizade com Xu Guangqi[11], o laico chinês que o acompanhava e continuou sendo leigo e chinês, santificando-se como chinês e não como italiano como era Ricci. Isso é manter a própria cultura.
Hoje almocei com os jovens. Vinham de todos os lados: de Burkina Faso, da Índia, dos Estados Unidos, da Austrália, da Espanha. Foi lindo. E havia uma garota centro-americana, indígena, que quis usar maquiagem de acordo com suas tradições. Uma pessoa "iluminada", vendo-a assim, poderia dizer com ironia: aqui está a "indiazinha", toda pintada! Eis que, quando a "indiazinha" falou, deu uma bela lição àqueles que não respeitam a mãe terra. Aquela jovem falou, a partir de sua cultura, com tal capacidade intelectual que, no fim, quando o pessoal da Sala de Imprensa me perguntou quem poderiam buscar para as entrevistas, eu respondi: tragam quem vocês quiserem, mas tragam ela com certeza, porque vai dizer coisas que ninguém mais diria. Aquela garota, militante, católica, acredito que professora de profissão, não havia perdido a sua cultura, mas a fez crescer!
Então, aqui está o que eu quero dizer: devemos nos enculturar até o fim.
Em 1985, em nossa faculdade de teologia de São Miguel, Argentina, realizamos um congresso sobre "A evangelização da cultura e a inculturação da fé"[12]. Aqueles eram os anos de Puebla. Houve intervenções que pareceram escandalosas para alguns. Lembro-me que uma vez fui a Roma para alguns assuntos e visitei a Congregação para o Culto Divino. Um dos especialistas que lá trabalhava, falando sobre inculturação, me disse: "Estamos fazendo progressos. Agora permitimos que os japoneses fizessem uma reverência ao altar em vez de beijá-lo. Porque para eles, beijá-lo não significa nada”. É esta a grande inculturação de um escritório na Cúria? Assim não serve para nada! São vocês quem devem dizer o que é a inculturação a parir de sua experiência. Mas você, por favor, não mude de cultura. Lembre-se do ancinho.
Como lhe parece esta região da América Central e o que podemos fazer?
Vocês são muito "coloridos" ... no melhor sentido, quero dizer. Esta é uma terra de cores. Penso na cultura brasileira, afro-brasileira, como uma terra de sons, de danças, de festa. Em vez disso vocês são uma terra de cores ... Eu a sinto assim. É uma terra de cores. É a primeira vez que ponho os pés no Panamá, e falei sobre isso à mesa com o núncio, que me ajudou a encontrar a palavra certa, porque pensava como eu: aqui há "nobreza". É uma terra de nobreza. Panamá é isso. Isso me surpreendeu. Vocês são uma condensação de cores, no sentido mais rico e mais simbólico da palavra. É minha percepção. E certamente aqui, para um mestre dos noviços, discernir pode ser mais difícil, especialmente no momento da inculturação, da expressão colorida de seu povo. Mas é lindo.
Após uma hora de encontro, os responsáveis pela viagem avisam o Papa que é hora de partir. O Papa fala para fazer outras duas breves perguntas.
Aqui está a primeira: como jesuítas, que atitude temos que ter em relação à política?
Hoje, no almoço, uma garota da Nicarágua me fez a mesma pergunta. A Doutrina social da Igreja é límpida e tornou-se cada vez mais explícita através de vários pontificados. Sobre isso, a Evangelii gaudium é muito clara. Além disso, o Evangelho é também uma expressão política, porque tende à polis, à sociedade, a cada pessoa e à sociedade, a cada pessoa enquanto pertence à sociedade. É verdade que a palavra "política" é às vezes até desprezada e entendida apenas como a lógica da parte, do sectarismo político, com tudo o que isso implica na América Latina em matéria de corrupção política, assassinos da política e assim por diante. O compromisso político para um religioso não significa militar em um partido político. É claro que é preciso expressar o próprio voto, mas a tarefa é ficar acima das partes. Mas não como alguém que lava as mãos, mas como alguém que acompanha as partes para que cheguem a um amadurecimento, trazendo o ponto de vista da doutrina cristã. Na América Latina nem sempre houve maturidade política.
Aproveito a pergunta para mencionar alguns problemas que, para mim, têm relevância política. O primeiro é o da nova colonização. A colonização não é apenas a que aconteceu quando chegaram os espanhóis e os portugueses que tomaram posse das terras. Esta é uma colonização física. Hoje, as colonizações ideológicas e culturais estão na moda, são aquelas que estão dominando o mundo. Na política, vocês devem analisar bem quais são hoje as colonizações a que estão submetidos os nossos povos.
O segundo é o da nossa crueldade. Eu disse isso a um político europeu, que respondeu: "Padre, a humanidade sempre foi assim, só que agora com a mídia percebemos mais isso". Ele pode estar certo. Mas a crueldade é terrível. Até são inventadas as torturas mais refinadas, o ser humano é degradado. Estamos nos acostumando com a crueldade.
O terceiro diz respeito à justiça e é a pena sem esperança. Ontem fiquei feliz quando saí do Instituto dos menores, porque vi todo o trabalho que eles fazem lá para reconstruir a vida de pessoas, meninos, meninas muito degradadas por crimes, para reinseri-las. Mas a cultura da justiça aberta à esperança ainda não está bem radicada.
No final do encontro, um jesuíta da Nicarágua se aproxima e dá ao Santo Padre uma carta de um jovem que está agora na prisão, dizendo:
"Ele foi coroinha desde os nove anos de idade e seu grande desejo era vir para a Jornada Mundial da Juventude". Depois outros jesuítas se aproximaram com presentes. O primeiro foi o que no Panamá chama-se de "cocobolo", um objeto feito de madeira tropical da América Central, que representa o monograma IHS, típico da Companhia de Jesus, com o pedido de colocá-lo no lugar onde ele reza pela manhã. O Papa, rindo, diz: "E se eu rezar à tarde?" Todos riem.
O Provincial o informa que irá escurecer com o tempo. Depois presenteiam-no com um pano feito de tecidos típicos de vários países da América Central. Também é trazida ao Papa a bandeira do "Magis", uma iniciativa inaciana envolvendo jovens entre os 18 e 30 anos de idades, dos voluntários do "Colegio Javier" de Panamá na JMJ. O papa é convidado a colocar uma assinatura na bandeira. A seguir são oferecidos outros presentes pessoais. O encontro, que durou cerca de uma hora e 10 minutos, termina com uma foto e a oração «Ave Maria».
[1]. "Os nossos" é uma expressão tradicional dos jesuítas para indicar a si mesmos. As "províncias" são os territórios em que a Companhia está subdividida no mundo. Os "noviços" são os jovens religiosos em sua primeira formação.
[2]. Cf. J. M. Tojeira, «Il martirio di Rutilio Grande», em Civ. Catt. 2015 II 393-406.
[3]. Cf. Papa Francisco, A força da vocação. A vida consagrada hoje. Conversa com Fernando Prado, Paulinas, 2018.
[4]. O "magistério" é uma etapa da formação do jesuíta entre o estudo da filosofia e o da teologia. É dedicada ao trabalho apostólico.
[5]. O "ministro" nas casas da Companhia é aquele que cuida da vida concreta da comunidade religiosa, como responsável pela casa.
[6]. O corpo da Companhia contempla três vocações. A dos sacerdotes professos é composta por aqueles que pronunciaram os três votos de pobreza, castidade e obediência, e fizeram um voto especial de obediência ao Papa (quarto voto). A segunda é constituída por padres "coadjutores espirituais", que pronunciam apenas os três votos simples. A terceira é a dos irmãos, que são religiosos, não sacerdotes, e pronunciam apenas os três votos simples. A escolha entre o sacerdócio e a vida como religiosos não-sacerdotes é geralmente feita pelo próprio indivíduo no momento de seu ingresso na Companhia. Em alguns casos, a pessoa entra como "indiferente" e a escolha é feita depois de um discernimento durante o período de noviciado.
[7]. Z. Bauman - Th. Leoncini, Nati liquidi, Milano, Sperling & Kupfer, 2017.
[8]. Os "primeiros votos" dos jesuítas, feitos no final do noviciado, são considerados perpétuos para quem os pronuncia. Portanto, eles não são "renovados" a cada três anos, como acontece em outros institutos religiosos. Em vez disso, são "recordados" anualmente até serem pronunciados os "últimos votos" como professo, coadjutor espiritual ou irmão, no final da formação e, para os sacerdotes, após a ordenação. No entanto, os primeiros três votos são possíveis de serem 'dissolvidos' simplesmente pelo superior provincial.
[9] Esta é a terceira etapa dos Exercícios Espirituais, na qual o mistério da Paixão do Senhor é contemplado.
[10]. É uma meditação da "segunda semana" dos Exercícios, antes de avançar para a eleição do estado de vida. Inácio pede para meditar sobre "como Cristo chama e quer todos sob sua bandeira, e Lúcifer, ao contrário, sob a sua", também "vendo o lugar", isto é, imaginando a "região de Jerusalém como um grande campo, onde o sumo capitão geral do bem é Cristo Nosso Senhor; e a região da Babilônia, como o outro campo, onde o caudilho dos inimigos é Lúcifer". O objetivo é "pedir conhecimento dos enganos do mau chefe e ajudar a evitá-los; e conhecimento da verdadeira vida que o Supremo e Verdadeiro Capitão indica e a graça para imitá-lo".
[11]. Xu Guangqi (1562-1633), de Xangai, conheceu Matteo Ricci e colaborou com ele. Ele recebeu o batismo aos 41 anos e estudou a doutrina cristã em profundidade. Cf. A. Jin Luxian, "Xu Guangqi. Il compagno cinese di Matteo Ricci", em Civ. Catt. I 2016 282-297.
[12]. O Padre Bergoglio fez o discurso inaugural e a saudação final (cf. J. M. Bergoglio, " Fede in Cristo e umanesimo ", em Civ. Catt. 2015 IV 311-316). Em sua reflexão, ele enfatizava o fato de que as diferentes culturas, fruto da sabedoria dos povos, são um reflexo da Sabedoria de Deus. A sabedoria humana é a contemplação que se origina do coração e da memória dos povos. É o lugar privilegiado de mediação entre o Evangelho e os homens e é fruto do trabalho coletivo ao longo da história. Assim, na tarefa de evangelização das culturas e da enculturação do Evangelho, a necessidade, por um lado, uma "contemplação sapiencial das culturas” e, pelo outro, de "uma santidade que não teme o conflito e é capaz de constância e paciência" apostólica, superando todo medo e todo "extremismo de centro" com parrésia.
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“Colocar a própria vida em jogo”. Papa Francisco no Panamá em diálogo com os jesuítas da América Central - Instituto Humanitas Unisinos - IHU