06 Fevereiro 2019
A ‘bênção’ da sexualidade por parte do Papa é uma declaração mais revolucionária do que possa parecer. Essa abertura tão explícita começa a abalar a desconfiança com a qual o catolicismo (e não somente este) sempre tratou o prazer, como um obstáculo à espiritualidade. Considerando, em vez disso, sua compressão, um meio para a ascese.” Vou partir dessa observação do jornalista Marnetto, que envia por e-mail suas reflexões muitas vezes sábias e profundas. Eu também fiquei surpresa com a coragem do Papa Bergoglio que ousou romper com uma tradição profundamente enraizada na história da Igreja: a fobia sexual que permeou os escritos de tantos importantes e amados Santos Padres, a prática inclusive confessional, de fixar a atenção sobre o pecado erótico em vez de tentas outras transgressões que deveriam preocupar o bom cristão. A predileção pelo sofrimento e sacrifício tem sido uma característica constante do ensinamento católico e pesou principalmente sobre a vida das mulheres. Por muitos séculos sistematicamente exaltou a mortificação da carne, a supressão do desejo, a culpabilidade de todo pensamento erótico. E as mulheres introjetaram de tal forma esses tabus a ponto de considerá-los naturais.
O artigo é de Dacia Maraini, publicado por Corriere della Sera em 05-02-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Somente as místicas desobedeciam transferindo seu desejo sensual para o corpo sagrado de Cristo. E foram repreendidas e censuradas por isso.
Algum tempo atrás fiz uma pesquisa sobre a literatura erótica feminina e descobri com surpresa que se trata sempre da reivindicação de uma liberdade de prazer com sofrimento. Romances que pretendem exaltar a rebelião e a liberdade erótica, concentram-se paradoxalmente no prazer da dor. O máximo da liberdade é considerada a escolha do próprio torturador. Na minha opinião isso é a negação de toda liberdade, e é uma dupla escravidão por não ser reconhecida como tal.
Por todas essas razões, as palavras do Papa hoje resultam importantes e revolucionárias. É uma pena que a imprensa mal tenha tratado do assunto. É uma mudança de curso de uma navegação milenar. "Somente aquele que respeita as próprias necessidades com sobriedade - conclui Marnetto - entende melhor as dos outros e luta para remover as causas que as reprimem. Somente com a desconsagração do sofrimento, o empenho religioso e político torna-se inseparável.
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A virada corajosa do Papa Bergoglio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU