25 Janeiro 2019
Na cúpula sobre a “proteção dos menores na Igreja”, convocada pelo Papa Francisco em Roma com os presidentes das Conferências Episcopais de todo o mundo, será proposta a criação de “forças-tarefa” continentais que poderão se deslocar de país em país para ajudar os vários episcopados no combate e na prevenção dos abusos sexuais de menores: foi o que anunciou o Pe. Hans Zollner, referencial da comissão organizadora do encontro que ocorrerá de 21 a 24 de fevereiro.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada em Vatican Insider, 23-01-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em uma entrevista ao Vatican News, o psicólogo jesuíta enfatiza o caráter operacional do evento, delineia a sua estruturação de cúpula, explicando que cada um dos três dias vai se concentrar em um tema específico – responsabilidade, prestação de contas e transparência – e ressalta que será a oportunidade tanto para “transmitir algo mais claro sobre as normas” em vigor, quanto para motivar os bispos “a não titubearem, a não hesitarem” na sua aplicação.
Antes de fevereiro, lembra, é importante que os presidentes dos episcopados nacionais se encontrem com algumas vítimas de abusos – que serão ouvidas também pela assembleia de fevereiro – “até porque assim se darão ainda mais conta de que esse fenômeno não é uma questão presente apenas no mundo centro-europeu e norte-americano: essa é uma realidade – infelizmente – presente em todos os países e em todos os continentes”.
“Uma das nossas ideias principais é que esse encontro seja mais uma etapa em um longo caminho que a Igreja empreendeu e que não vai acabar com esse encontro”, afirma o Pe. Zollner, decano do Instituto de Psicologia da Pontifícia Universidade Gregoriana, presidente do Centro para a Proteção dos Menores da mesma universidade, assim como membro da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores.
“Por isso, uma das medidas concretas que queremos oferecer aos bispos do mundo será a criação de forças-tarefas, ou seja, de equipes que provavelmente serão instituídas nos vários continentes onde a Igreja Católica está presente e que poderão, depois, se deslocar de lugar em lugar. Elas poderão se informar sobre as diretrizes que as Conferências Episcopais vão implementar, sobre em que ponto elas estão com esse processo, do que precisam. Elas tentarão entender como podem ajudá-las, como podem fornecer informações, mas também as soluções mais válidas que já foram experimentadas em outros continentes.”
“Assim – explica Zollner – essas forças-tarefa devem se tornar um instrumento também para os próximos anos, para medir o sucesso desse exercício de se dar conta da própria responsabilidade, também em nível mundial, diante das expectativas públicas, de modo a fazer vir à tona que estamos em um processo contínuo, sempre de novo, para revisitar o estado das coisas, melhorar, aprofundar o conhecimento do fenômeno dos abusos e do trabalho de prevenção, que obviamente é uma das principais missões do nosso crer em um Deus que se fez homem.”
Mais em geral, “o principal fruto concreto que esperamos que surja a partir do encontro é que todos os participantes das Igrejas locais, os representantes das Ordens religiosas e das Congregações, voltem para casa e possam verdadeiramente implementar aquilo sobre o que se falou”, afirma o Pe. Zollner.
“Depois, teremos que ver como podemos definir mais concretamente os temas da responsabilidade, do ‘prestar contas’ dessa responsabilidade e da transparência. Esses são os três temas que vão caracterizar cada um dos três dias em que o encontro está estruturado. Outro ponto será como transmitir algo mais claro sobre as normas que devem ser aplicadas e como podem ser verdadeiramente controlados os procedimentos que já definimos, mas que alguns ainda não sabem como implementar. E, por fim, queremos ver como podemos fazer para que não só se conheçam os procedimentos, as normas – porque estas já são conhecidas há bastante tempo –, mas também como podemos fazer para motivar as pessoas a se comprometerem a implementá-las e a não titubear, a não hesitar, mas a se comprometerem de todo o coração para que o que deve ser feito seja verdadeiramente posto em prática também.”
O jesuíta alemão salientou novamente a importância de ouvir as vítimas, “porque as vítimas podem nos dar um testemunho único, porque fazem com que entremos no seu coração e nos fazem sentir o que feriu a sua existência, talvez por muito tempo, porque, talvez, não podiam falar a respeito e se envergonhavam muito. Finalmente, conseguem se abrir para contar essa realidade que, para muitos, certamente foi uma experiência pesada que os marcou por muito tempo”, explica.
“Durante o congresso, por razões de tempo e logística, não haverá muitas vítimas que poderão ser ouvidas. Precisamente por isso, o Santo Padre pediu, na carta de convite – nós reiteramos isso – que todos os participantes devem ter se encontrado com vítimas de abuso ainda antes, no país de origem. Isso é importante em si mesmo para escutar, para ser sensibilizado, para estar bem preparado para receber a mensagem que sairá do encontro. Mas também é importante porque – enfatiza o Pe. Zollner –, assim, se dão conta ainda mais de que esse fenômeno não é uma questão presente apenas no mundo centro-europeu e norte-americano: essa é uma realidade – infelizmente – presente em todos os países e em todos os continentes. E o Santo Padre sublinhou que esta é a principal tarefa dos pastores: estar perto das pessoas que mais precisam.”
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Abusos: cúpula de fevereiro lançará ''forças-tarefa'', afirma Pe. Zollner - Instituto Humanitas Unisinos - IHU