Francisco: há uma onda de fechamento ao estrangeiro, é um suicídio

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30 Outubro 2018

“Hoje há uma onda de fechamento ao estrangeiro” e “há muitas situações de tráfico de pessoas estrangeiras”. O Papa Francisco insistiu nisso ao receber os missionários scalabrianos, que sempre estiveram ao lado dos migrantes e dos refugiados, e destacou que “o bem-estar é suicida”, porque conduz a um “inverno demográfico” e ao fechamento das portas. Também recordou que a Europa “não nasceu assim, mas foi formada por muitas ondas migratórias durante séculos”.

A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por Vatican Insider, 29-10-2018. A tradução é de Graziela Wolfart.

“É mais fácil receber um estrangeiro do que ser recebido”, disse o Papa em seu discurso, “e vocês vivem ambas as situações, por isso devem ensinar a receber o estrangeiro, dar todas as possibilidades às nações que têm de tudo ou são suficientes para utilizar estas quatro palavras [pronunciadas antes pelo superior dos scalabrianos: acolher, promover, proteger, integrar (nota da redação)]. Como receber um estrangeiro… surpreende muito a palavra de Deus, já no Antigo Testamento, que sublinha isto: ao receber o estrangeiro, recorda que tu foste estrangeiro. É verdade – frisou Francisco – que hoje há uma onda de fechamento ao estrangeiro, e também há muitas situações de tráfico de pessoas estrangeiras: o estrangeiro é explorado. Eu sou filho de migrantes e lembro (depois da Guerra, eu era um menino e tinha 10 ou 12 anos), que onde o papai trabalhava chegaram os polacos para trabalhar, todos migrantes, e como eram bem recebidos. A Argentina tem esta experiência de acolher, porque havia trabalho, e também havia necessidade. A Argentina, a partir da minha experiência, é constituída por um coquetel de ondas migratórias, vocês sabem disso melhor do que eu. Porque os migrantes constroem um país, assim como construíram a Europa, que não nasceu assim, mas foi formada por muitas ondas migratórias durante séculos”.

“Você – continuou o Papa, dirigindo-se ao superior da Congregação dos Missionários de São Carlos – usou uma palavra “feia”, o bem-estar: porque o bem-estar é suicida, ele te conduz a duas coisas: a fechar as portas, para que não te incomodem; somente as pessoas que servem para meu bem-estar podem entrar. E, por outro lado, pelo bem-estar deixamos de ser fecundos: nós vivemos hoje este drama de um inverno demográfico e de um fechamento das portas. Isto deve nos ajudar a compreender um pouco melhor que é preciso receber o estrangeiro. Sim, é um estranho, não é dos nossos, mas como se recebe um estranho? Este é o trabalho que vocês fazem: criar as consciências para fazê-lo bem, e lhes agradeço por isso”.

O Papa Francisco agradeceu aos scalabrianos por tudo o que fazem, recordando que os conheceu “antes mesmo de ser arcebispo de Buenos Aires; seus alunos estudavam em nossa faculdade: eram muito bons! Depois, como arcebispo, contei com a ajuda de vocês, nessa cidade que tinha tantos problemas de migração: muito obrigado. E obrigado, agora, por nos ter dado um dos dois subsecretários para os migrantes [o padre Fabio Baggio, subsecretário da Seção de Migrantes e Refugiados do Dicastério Vaticano para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral, junto com o jesuíta Michael Czerny, (nota da redação)], que trabalham tão bem, os dois”.

O Pontífice argentino lembrou que no coração dos migrantes há histórias “bonitas e feias”, e advertiu sobre o perigo que correm: “que sejam eliminadas: as feias, evidentemente; mas também as bonitas, porque lembrar delas causa sofrimento”. Portanto, indicou Francisco, o risco é que o migrante se converta em uma pessoa desarraigada, sem rosto e sem identidade. E esta, assinalou, é “uma perda muito grave, que pode ser evitada escutando, caminhando ao lado das pessoas e das comunidades de migrantes. Poder fazer isso é uma graça, e é também um recurso para a Igreja e para o mundo”.

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