21 Outubro 2018
Durante as primeiras duas semanas do encontro dos bispos em Roma (que acontece do dia 3 até o dia 28 de outubro), cerca de duzentas pessoas compartilharam breves reflexões de quatro minutos sobre como a vida é em seus países, dando voz às suas preocupações e prioridades.
A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 20-10-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Porém, na quinta-feira, houve uma pessoa que falou que acabou sendo citada quase que integralmente pelo papa Francisco durante sua missa matinal diária.
“Um bispo de um dos países onde há perseguição contou sobre um menino católico que foi levado por um grupo que odeia a Igreja, um grupo de fundamentalistas. Ele foi agredido e colocado dentro de uma cisterna onde o grupo encheu com lama até o seu pescoço [e perguntaram]: ‘Diga pela última vez: você desiste de Jesus Cristo?’ - ‘Não!’. Jogaram uma pedra e mataram o menino,” disse Francisco.
Ele se referia aos relatos feitos na quarta-feira pelo Arcebispo John Barwa de Cuttack-Bhubaneswar na Índia, na a assembleia geral do Sínodo dos Bispos sobre os Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional.
Barwa contou a história de Rajesh Digal, um jovem catequista que foi assassinado por um grupo hindu fundamentalista enquanto voltava pra casa no dia 26 de agosto de 2008, na região de Kandhamal no leste da Índia.
A arquidiocese de Barwa possui uma grande população de dalits, os “intocáveis” do antigo sistema de castas indiano, bem como os “tribais”, membros das populações indígenas marginalizadas do país. O próprio arcebispo Barwa é um tribal.
Em 2008, um líder religioso hindu foi assassinado na área e os cristãos foram culpados, culminando no pior surto de violência direcionada aos cristãos do século XXI até aquela época. A maneira pela qual muitos perderam suas vidas foi inimaginavelmente grotesca. Houve mais violência do que na Bíblia ou no martirológio cristão primitivo.
“Mesmo que a maioria dos hindus sejam pessoas pacíficas e maravilhosas, os radicais fundamentalistas plantaram esse ódio e essa violência. Mataram jovens, estupraram coletivamente de mulheres e meninas, sendo uma delas era minha sobrinha,” disse Barwa ao Crux em uma entrevista na sexta-feira.
A sobrinha de Barwa é uma freira católica que foi estuprada durante o período de violência.
Recontando a história de Digal, Barwa disse que os fundamentalistas tentaram forçar o menino a se converter e, quando foi enterrado até o pescoço, perguntaram se ele desistiria de Jesus Cristo.
“Ele fechou os olhos, olhou e disse ‘Não!’ E o homem largou a pedra em sua cabeça,” disse Barwa. “Ele silenciosamente deu testemunho ao Deus da vida. E essa é só uma das histórias. Existem tantas histórias poderosas de fé.”
Ainda assim, disse ele, essa opressão falhou ao tentar interromper o crescimento da fé. A comunidade está “crescendo,” disse ele. Segundo o arcebispo, cada vez mais pessoas estão entrando para a cristandade, e o número de vocações ao sacerdócio e à vida religiosa está crescendo.
Barwa estava presente quando o papa deu sua homilia.
“É como no famoso livro O pequeno príncipe, que diz, ‘foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante.’ Foi o tempo que dedicamos à Deus que o fez tão importante, e será o que tempo que dedicamos aos jovens que fará com que eles se tornem importante para nós,” disse ele.
No total, 101 cristãos foram mortos nos dias de violência na Índia, e muitos outros morreram enquanto tentavam encontrar refúgio numa floresta local. Por pertencerem aos dalits e aos tribais, muitos sequer têm certidão de nascimento, por isso o governo constantemente se recusa a reconhecer que foram assassinados. Em muitos casos, membros de famílias foram forçados a testemunhar seus entes queridos sendo esquartejados ou queimados vivos.
Ainda assim, a Igreja e o arcebispo Barwa não se esquecem. Ele organizou uma equipe para coletar essas histórias e abriu uma causa para que a Igreja os reconheça como mártires, ou seja, que foram mortos pelo ódio à fé. Ele crê que o processo de coletar informação se conclua em dezembro. Quando estiver pronto, ele o enviará ao Vaticano para que a Igreja canonize essas pessoas.
“Mas não está nas minhas mãos … Deus tem seu tempo. Eu farei meu trabalho, e Deus decidirá,” disse ele.
Francisco há muito tempo expressa seu interesse em visitar a Índia e é algo que as conferências de bispos locais desejam, mas o clima político atual tem impedido que isso aconteça.
De qualquer modo, se esse dia chegar, Barwa espera que a viagem do pontífice inclua uma parada em Kandhamal, onde a violência eclodiu em 2008.
“Se ele vir, será a maior bênção de todas para nós, mas acredito que ele não virá,” disse ele, citando problemas de segurança entre outros obstáculos logísticos.
Mesmo assim, se o pontífice viesse, disse ele, “seria inacreditável, divino.”
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Sínodo 2018. Papa cita história de jovem indiano que morreu pela fé - Instituto Humanitas Unisinos - IHU