Índia, o Natal dos fundamentalistas indús

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17 Dezembro 2014

Na Índia do governo nacionalista indú de Narendra Modi volta a explodir a batalha sobre as conversões. O epicentro do conflito é o Estado do Utar Pradesh, onde um grupo local ligado ao Rashtriya Swayamsevak Sangh (Rss) - movimento indú ligado ao Bjp, o partido de Modi – lançou uma clamorosa campanha que tem como objetivo a “conversão” ao hinduísmo de alguns milhares de cristãos e muçulmanos. Para o dia 25 de dezembro – data evidentemente escolhida não por acaso – estão organizando o que definem “o maior ghar wapsi (retorno à casa) jamais ocorrido”. E, para promovê-lo, difundiram um pequeno volante que contém precisamente uma espécie de tarifário para estas reconversões.

A reportagem é de Giorgio Bernardelli, publicada pelo Vatican Insider, 15-12-2014. A tradução é de Benno Dischinger.

No texto se lê de fato que convencer um cristão ou um muçulmano a “retornar” ao hinduísmo requer “um longo trabalho” da parte dos voluntários. E este “trabalho” é qualificado num custo de 200 mil rúpias (2.500 euros) para cada cristão e 500 mil rúpias (6.500 euros) para cada muçulmano. Uma fórmula por trás da qual não é difícil intuir o verdadeiro método da operação: na sociedade indiana o cristianismo e o islã são difíceis, sobretudo entre os pobres e assim ditos fora de casta. Aqueles que permanecem às margens também na nova Índia de hoje e que de qualquer modo a Rss pensa em atrair com um movente econômico.

Não é a primeira vez que os fundamentalistas indú lançam iniciativas do gênero por ocasião do Natal, mas neste ano a iniciativa está desertando alvoroço tanto pelas proporções da campanha (duzentos ex-muçulmanos nos dias passados já estiveram envolvidos num ghar wapsi em Agra), quanto pelo seu significado simbólico num País onde há poucos meses os nacionalistas indú retornaram à condução do governo central de Nova Déli.

Também por isso a oposição levou a ocorrência do Uttar Predesh ao Parlamento nacional com uma interpelação à qual o governo deu uma resposta que soa bem escarnecedora. O ministro para as relações com o Parlamento Vekaiah Nadu respondeu, de fato, que a única via para evitar este gênero de problemas seria “fazer que as leis anti-conversão sejam estendidas a todos os Estados indianos. As leis anti-conversão são aqueles provimentos queridos precisamente pelos nacionalistas indu (e em vigor atualmente apenas em cinco dos 29 Estados indianos) para tornar ilegais as conversões de uma religião à outra. Uma lei em evidente violação da liberdade religiosa, utilizada até agora em Orissa, Arunchal Pradesh, Gujarat, Rajasthan e Madhya Pradesh para por no visor, sobretudo as atividades dos missionários cristãos. ”A liberdade de religião – disse ainda o ministro Nadu no parlamento – não pode ser interpretada como uma licença de proselitismo com o apoio de fundos estrangeiros, pondo no visor os pobres e os tribais”.

Declarações que preocupam as comunidades cristãs do país. Segundo John Dayal, um dos mais conhecidos ativistas católicos indianos, interpelado pela agência Usa News, as declarações do ministro provam a existência de um elo entre as campanhas da RSS e as posições políticas do governo Modi. “Não necessitamos, de fato, de uma lei anti-conversões – concluiu – mas de uma lei que antes freie as violências que colocam no visor as minorias religiosas”.