Dia Mundial da Alimentação e a campanha pela fome zero até 2030

Foto: Pablo Tosco/Oxfam - Flickr

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

17 Outubro 2018

"O fato é que o mundo pode ficar livre da fome. Mas para tanto não basta apenas aumentar a produção de comida. Seria preciso, principalmente, evitar a degradação dos solos, o esgotamento das fontes de água potável, a poluição dos rios e a acidificação dos oceanos. Não basta produzir alimentos, é preciso garantir a sustentabilidade e a biodiversidade", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE,  em artigo publicado por EcoDebate, 15-10-2018

“De pé ó vítimas da fome;

De pé famélicos da terra”

Hino da Internacional Socialista

 A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) lançou a campanha “Um mundo #fomezero para 2030 é possível” nas comemorações do Dia Mundial da Alimentação que ocorrem no dia 16 de outubro de 2018. A FAO busca sensibilizar a sociedade global para a importância de ações do combate à fome e ao desperdício de comida, mostrando a necessidade de desenvolvimento de uma agricultura mais sustentável.

No longo prazo, a fome no mundo tem diminuído. A década com maior incidência da fome no mundo foi entre 1870 e 1880, exatamente quando foi composta a letra do hino da “A Internacional” que tem nos seus primeiros versos diz: “De pé ó vítimas da fome; De pé famélicos da terra”.

O maior número absoluto de óbitos (década de 1870) ocorreu quando 20,4 milhões de pessoas morreram por inanição no mundo, conforme pode ser visto no gráfico abaixo. Na década de 1880 o número de vítimas caiu para menos de 3 milhões, mas voltou a subir para quase 10 milhões na década de 1890. Surpreendentemente, o número de óbitos por fome diminuiu na década de 1910 – quando houve a Primeira Guerra Mundial – mesmo que o número de 2,6 milhões tenha sido ainda muito elevado.

Na década de 1920 a fome cresceu muito novamente, atingindo 16 milhões de vítimas fatais devido, principalmente, à situação da União Soviética e da China. Na década de 1940 – quando aconteceu a Segunda Guerra Mundial – a fome bateu todos os recordes do século XX, com 18,6 milhões de vítimas. Na década de 1960 a fome voltou a assustar, mas principalmente pela grande crise provocada pelos equívocos da política de “Um grande salto para frente” da China.

Fonte: EcoDebate

Superada a grande tragédia da fome na China na década de 1960, o número de vítimas da insegurança alimentar diminuiu muito no mundo nas décadas seguintes, sendo que o número de mortes atingiu o menor nível na atual década (2010-16).

O gráfico abaixo permite uma visão considerando o total populacional. A taxa de mortes por conta da fome teve o seu maior valor na década de 1870, quando atingiu 1.426 mortes para cada 100 mil habitantes no mundo. A taxa caiu na décadas seguintes, embora teve picos de cerca de 800 por 100 mil nas décadas de 1920 e 1940. A partir da década de 1970 as taxas caíram significativamente, ficando em 88 por 100 mil habitantes em 1970, 43 por 100 mil na primeira década do século XXI e em apenas 3 por 100 mil habitantes entre 2010-16.

Fonte: EcoDebate

Portanto, a insegurança alimentar no mundo tem se reduzido e a meta de “fome zero” até 2030 não é inviável. Os números da FAO indicam que existem 820 milhões de pessoas em situação de desnutrição crônica, enquanto 672 milhões de pessoas sofrem de obesidade e 1,3 bilhão de indivíduos estão acima do peso. Uma melhor distribuição dos alimentos poderia eliminar ao mesmo tempo a fome e a obesidade.

O fato é que o mundo pode ficar livre da fome. Mas para tanto não basta apenas aumentar a produção de comida. Seria preciso, principalmente, evitar a degradação dos solos, o esgotamento das fontes de água potável, a poluição dos rios e a acidificação dos oceanos. Não basta produzir alimentos, é preciso garantir a sustentabilidade e a biodiversidade.

Outra grande ameaça à meta do “fome zero” é o agravamento do aquecimento global e dos eventos climáticos extremos que vão ter um grande impacto negativo na produção de alimentos. O relatório do IPCC divulgado em outubro de 2018 mostra que o mundo tem pouquíssimo tempo para evitar uma catástrofe climática.

O mundo precisa evitar o GENOCÍDIO CLIMÁTICO, pois, no ritmo atual, a acidificação dos oceanos e o degelo dos polos, da Groenlândia e dos glaciares vão provocar a elevação do nível dos mares, erradicar os países ilhas (como Maldivas, Tuvalu, Nauru, etc.) e inundar áreas agricultáveis, além de inundar diversas áreas urbanas superpovoadas.

Portanto, o mundo precisa de fome zero e respeito ao meio ambiente, pois não basta apenas acabar com a fome humana, mas também cuidar da ecologia e da biodiversidade. Sem natureza saudável não há como ter uma vida humana saudável

Leia mais