25 Setembro 2018
Embora as consequências das revelações sexuais por parte do clero deste verão ameaçassem ofuscar a esperada cúpula nacional para católicos hispânicos da semana passada, os mais de 3 mil participantes do V Encuentro acreditam que sua fé é maior do que o clero e suas falhas.
A reportagem é de Christopher White e Inés San Martín, publicada por Crux, 24-09-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Depois de quatro dias inteiros de palestras, missas, sessões de abertura e coffee breaks, a crise de abusos sexuais foi repetidamente reconhecida tanto pelos leigos como pelos líderes da Igreja - mas com a percepção de que o caminho a seguir não será uma solução única com uma mentalidade de “nós contra eles”, mas sim - como um bispo descreveu ao Crux - como uma família reconhecendo seus defeitos e comprometida em resolvê-los.
De acordo com a irmã Teresa Maya, presidente da Conferência de Liderança das Mulheres Religiosas (LCWR, na sigla em inglês), o enfrentamento do abuso sexual em uma Igreja universal requer uma adesão total de seus membros.
"Não há qualquer um de nós - não importa em que parte da Igreja você esteja, seja na liderança ou nos bancos da paróquia - que não esteja triste e preocupado com esta situação", disse Maya ao Crux.
“No entanto, acredito que uma solução para salvar a Igreja, deva ser se perguntar: 'O que vamos fazer para que isso nunca aconteça novamente, e para que possamos reconstruir a confiança?'”, insistiu.
Maya, que é mexicana-americana, disse que a comunidade latina tem "dons especiais" para oferecer a uma Igreja em crise.
“Estas são pessoas que sofreram muito, que superam a discriminação e os desafios para chegar a este país, questões de status legal, e ainda assim celebram sua fé. Temos algo para aprender sobre como, mesmo nos maus momentos, Deus nunca nos deixa”.
“Sua fé é mais ampla e profunda do que apenas um modelo institucional e clerical. Nos ensinaram através dos anos e através da história que nem sempre tivemos o clero presente, até mesmo em situações que a missa é oferecida, e ainda assim sua fé nos ajudou a crescer”, disse Maya.
“Acho que Deus é maior do que tudo isso, uma coisa que eles nos ensinaram. O segundo ponto que eles nos ensinaram é que podemos ser um povo resiliente. Você pode viver todos os tipos de crise e, se estiver junto de uma comunidade, poderá enfrentá-la ", continuou ela.
Walter Mena, que atua na rede de pastoral juvenil da arquidiocese de Boston, tem uma interpretação semelhante da crise, observando que a maioria dos hispânicos têm uma visão cultural diferente.
"Eu não quero dizer que isso não é importante, muito pelo contrário. Independentemente dos padres ou bispos e do barulho que a crise pode produzir, o que temos é a nossa fé", disse Mena.
“A primeira coisa para nós é o Reino e a Igreja.”
O leigo uruguaio Guzmán Carriquirry, que atuou como representante do Vaticano no Encuentro, disse ao Crux que acreditava que o momento em que evento se dava era providencial, proporcionando uma chance de refletir sobre a alegria do Evangelho em tempos difíceis.
"Deus queria que este evento fosse realizado em meio a essa tempestade", disse ele.
"Por quê? Porque se tornou um kairos, um momento de graça para toda a Igreja dos EUA”, disse Carriquirry, que atua como vice-presidente da Comissão do Vaticano para a América Latina.
"É um bálsamo de Deus, uma carícia para as feridas, um consolo entre as tribulações", disse o uruguaio, observando que durante o evento não encontrou pessoas que estavam tristes ou deprimidas, mas pessoas "cheias de entusiasmo e alegria, apesar de estarem conscientes da crise”.
Tais sentimentos eram sentidos não apenas pelos leigos, mas também por muitos dos bispos presentes.
O Arcebispo William Lori, de Baltimore, refletindo sobre a “vitalidade” da Igreja Hispânica, disse ao Crux que “Isto é para mim como um antídoto. Não é uma fuga. Está nos ajudando a descobrir para onde vamos a partir daqui”.
“Temos que reconhecer tudo isso. Haverá muitas consequências difíceis, mas também muita reconstrução. Aqui estamos nós, e é aqui que reconstruímos”, disse Lori.
Enquanto advertia contra a tentação de procurar uma “solução certeira” ou uma “solução mecanizada” que resolveria rapidamente o flagelo do abuso sexual, o bispo Michael Olson de Forth Worth disse ao Crux que a conversão era a única maneira de os bispos recuperarem credibilidade.
Para o bispo Robert McElroy de San Diego, a conversão exigirá a humildade como ponto de partida - mas uma humildade que acompanha um testemunho profético para os mais de 70 milhões de católicos no país - muitos dos quais contam com seus pastores para representar suas vozes.
“Temos que reconhecer a realidade de que nossa credibilidade no fórum público é diminuída por nossas falhas morais na questão do abuso. Não apenas pela vergonha histórica que carregamos, mas também pelas coisas que não conseguimos fazer nas últimas duas décadas”, disse McElroy ao Crux.
“Nossas declarações têm que refletir um senso de humildade. E 'humildade' não significa um chamado mais fraco para a alegria do Evangelho”, continuou.
Como bispo ao longo da fronteira americana com o México, McElroy disse que “a humildade acompanha - neste momento - a proclamação de justiça para aqueles que estão sendo maltratados em nosso meio e para nosso legado nacional como um país que é obrigado a aceitar refugiados enquanto estamos vendo a dizimação dos programas para pessoas nesta situação.
"Acredito que isso irá nos exigir uma postura diferente. Quando as pessoas gritarem em nossa direção: ‘Quem é você para falar conosco?', temos que responder: 'sim, nós falhamos, mas estamos tentando trazer o Evangelho de Jesus Cristo em nossos fracassos'”.
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EUA. Para comunidade hispânica, “A fé é maior do que as revelações sexuais do clero” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU