25 Mai 2018
“Apagar a força profética da hierarquia chilena foi uma política criada, dirigida e alimentada pela cúria vaticana. (...) Eu fui testemunha de como Angelo Sodano enviou os bispos mais proféticos para dioceses distantes dos centros de poder”, escreve Felipe Barriga Alliende em carta aberta e publicada por Religión Digital, 23-05-2018. A tradução é de André Langer.
Senhor Diretor: gostaria de fazer algumas observações em relação à carta do Papa Francisco dirigida aos bispos do Chile. Vou esboçar em grandes linhas temas que são complexos e necessitam de maior precisão. Fui ordenado sacerdote em 1963 e tenho sido testemunha de quase todo o período histórico que o Papa Francisco abarca em suas reflexões.
(Foto: Memoria chilena)
No ponto 1. “É necessário que ele cresça...”, Francisco elogia a força profética do episcopado do Chile, força profética que se manifestou na aplicação do Concílio Vaticano II, das cartas de Paulo VI, da Conferência de Medellín e de outros eventos proféticos. Francisco também aponta que depois essa força profética se manifestou em grande parte da Igreja chilena contra a ditadura.
Entretanto, não menciona a forte e sutil resistência ao Concílio por parte de alguns bispos.
No ponto 2. “... e que eu diminua”, Francisco se pergunta por que a Igreja chilena perdeu sua inspiração e força profética, e mais ainda, como se tornou uma hierarquia centrada em si mesma.
Parece-me que aqui Francisco evita o problema mais sério: apagar a força profética da hierarquia chilena foi uma política criada, dirigida e alimentada pela cúria vaticana. Sodano foi núncio no Chile durante 10 anos para cumprir essa tarefa (normalmente um núncio fica dois ou três anos no cargo).
Eu fui testemunha de como ele enviou os bispos mais proféticos para dioceses distantes dos centros de poder: Fernando Ariztía, Enrique Alvear, Sergio Contreras, Carlos Camus, Tomás González, Jorge Hourton e mais algum que possa me escapar. De qualquer forma, alegro-me com essas dioceses pequenas.
Ao mesmo tempo, eram nomeados bispos sacerdotes sem nenhum carisma profético e muito submissos às instruções da cúria vaticana.
Essas ações foram diretamente responsáveis pela perda de força profética e pela mudança de centro a que o Papa faz alusão.
(Foto: La Tercera)
Cabe observar também que o Papa João Paulo II aprovou esta gestão de Sodano elevando-o ao mais alto cargo da cúria vaticana ao nomeá-lo secretário de Estado pelo resto de seu tempo.
De acordo com essas observações, é necessário investigar e exigir as responsabilidades de Angelo Sodano, de seu operador e informante no Chile, Jorge Medina Estevez, e de alguns outros desta verdadeira associação criminosa.
Pessoalmente, gostaria de salientar que esse mesmo declínio da força profética me levou a uma profunda decepção com a Igreja e a pedir ao Papa Bento XVI a dispensa de meus compromissos sacerdotais, o que me foi concedido em 2005.
Atenciosamente,
Felipe Barriga Alliende.
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Chile. “É preciso exigir responsabilidades ao cardeal Sodano pela sua atuação no país”. Carta aberta de Felipe Barriga Alliende - Instituto Humanitas Unisinos - IHU