09 Janeiro 2018
O Papa Bergoglio ama o lunfardo, o dialeto de Buenos Aires, e em sua casa, conheceu a fala do Piemonte e da Ligúria, cedendo aos seus encantos: então, muitas vezes, elogia os dialetos. Ele fez isso neste último domingo, falando com os pais de 34 crianças que batizou na Capela Sistina: "Eu quero lhes dizer apenas uma coisa, que lhe diz respeito: a transmissão da fé só pode ser em dialeto. No dialeto da família, no dialeto do pai e da mãe, do avô e da avó".
O comentário é de Luigi Accattoli, jornalista italiano especialista em assuntos relacionados ao Vaticano, publicado pelo jornal Corriere della Sera, 08-01-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Depois virão os catequistas - disse ainda - para desenvolver essa primeira transmissão, com ideias, com explicações. Mas não se esqueçam disto: é em dialeto, e se faltar o dialeto, se em casa não se fala entre essa língua do amor entre os pais, a transmissão não é tão fácil, não pode acontecer".
Logo ficou claro que ele não estava convidado a um emprego específico do dialeto, mas queria indicar aquela relação bem estreita que - em sua opinião - deve ser a base da educação familiar e também daquela religiosa: "Não se esqueçam que a vossa tarefa é transmitir a fé, mas fazê-lo com o amor da vossa casa, da família". Em determinado momento, ouvindo as crianças chorar, disse: "É o dialeto das crianças". Com um uso análogo da palavra "dialeto", mais metafórico que linguístico, em outra ocasião tinha advertido os participantes em uma conferência em Roma: "Façam suas orações em dialeto romanesco". Isso significava que na oração é importante ser autêntico, espontâneo, como se é no dia-a-dia.
Nesse amor tanto linguístico como simbólicos aos dialetos vemos um reflexo da paixão de Bergoglio pelas periferias, e pelo que ele chama de "cultura de encontro" e que descreve como escolha de dar prioridade, em qualquer empenho ou escolha, a relação com as pessoas.