20 Novembro 2017
Na manhã de 19-11-2016, o Papa Francisco fez cardeal o arcebispo de Chicago Dom Blase Cupich. À noite, o novo purpurado tomou a oportunidade dada pelo seu novo título para realizar um jantar beneficente nos Museus do Vaticano voltado a ajudar imigrantes na fronteira dos EUA com o México.
A reportagem é de Christopher White, publicada por Crux, 17-11-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Quando se aproxima o aniversário de um ano desde que foi feito cardeal, Cupich disse ao Crux que o jantar esteve entre os pontos altos do ano passado.
“Penso que, para nós, poder estar no centro da Igreja e pensar a partir das margens permitiu expressarmos àquilo que o papa queria que fizéssemos”, disse Cupich. “Ele queria que tivéssemos a certeza de que o consistório era sobre nós”.
Três anos atrás, em 18 de novembro de 2014, Cupich substituía o Cardeal Francis George para liderar aquela que tradicionalmente é considerada a segunda sé episcopal mais importante dos EUA depois de conduzir a Diocese de Spokane, em Washington.
Desde então, Cupich se tornou um dos atores mais importantes da Igreja, tanto nos EUA como no mundo, sendo visto como um dos aliados mais próximos do papa neste país.
Juntamente com Cupich, Joseph Tobin foi elevado ao Colégio Cardinalício no mesmo dia. Tobin servia como arcebispo de Indianápolis quando anunciaram que ele receberia o barrete vermelho, embora somente poucas semanas mais tarde acabaria sendo nomeado arcebispo de Newark, Nova Jersey.
Passando em análise o ano de 2016, Tobin e Cupich contaram ao Crux que, antes de tudo, ambos estão comprometidos com o chamado de Francisco a construir uma “cultura do encontro” como uma parte definidora dos seus respectivos ministérios pastorais. No entanto, também admitiram que, nessa tarefa, é mais fácil falar do que fazer, em um país que – nas palavras do Cardeal Daniel DiNardo – “parece mais dividido do que nunca”.
Com os bispos americanos reunidos em Baltimore na semana passada para a assembleia anual do grupo, a imigração teve um lugar central nos debates realizados. Num momento crítico, Cupich pegou o microfone para condenar a retórica tóxica que acabou tomando conta do discurso público atual.
Dirigindo-se a seus irmãos bispos, disse que se os católicos frequentam a missa todos os finais de semana, ouvem o Evangelho e saem da Igreja ainda reproduzindo a retórica divisora, então algo está gravemente errado.
Após essa intervenção, o religioso contou ao Crux: “O verdadeiro problema e desafio que temos, hoje, é que as pessoas estão (...) vivendo em seus próprios campos. Temos uma abordagem meio que tribal à política”.
Cupich lembrou um encontro recente do Catholic Extension, órgão beneficente que fornece apoio a dioceses de missão em todo os EUA, onde muitos dos bispos contaram histórias sobre furacões e enchentes que atingiram duramente as suas jurisdições eclesiásticas.
“As pessoas deixam de lado a ideologia e os debates políticos, e se apresentam em preto e branco, homens e mulheres, republicanos e democratas”, lembrou Cupich. “Qualquer coisa que podemos fazer para aproximar as pessoas e fazê-las se encontrar umas com as outras, como o Santo Padre nos pede para fazer”.
O cardeal explicou: “Semanalmente, chamamos as pessoas de diferentes ambientes e pontos de vista, mas é somente reunindo-as assim que eu acho que podemos mostrar que há muito mais coisas a nos unir do que a nos dividir”.
Dois meses depois de chegar a Newark, Tobin se postou sob uma forte tempestade de neve para se juntar a Catalino Guerrero, de 50 anos, em uma audiência junto ao departamento de imigração americano para se manifestar contra a deportação. Guerrero mora nos EUA há 25 anos, junto de seus quatro filhos e quatro netos.
“É importante nos fazermos presentes”, disse Tobin na época. “Não tenho como acompanhar os 11 milhões de pessoas indocumentadas no país. O que quero fazer é dizer: Olhem, estas pessoas têm rostos, têm histórias”.
Avaliando este ano que passou, é este tipo de cena – considerada por ele uma forma de intimidação – que o religioso classifica como um ponto baixo.
Uma parcela equivalente a 40% dos 1.6 milhão de católicos da sua arquidiocese é formada por hispânicos. “Essas pessoas estão aterrorizadas”, disse Tobin.
“Os pais me dizem que saem de casa e não têm certeza se verão os seus filhos à noite”, continuou.
“O tipo de impotência e apatia por parte da Igreja e da sociedade em geral, ao permitir esse tipo de intimidação, que assume formas diferentes” preocupa Tobin quando se põe a pensar este último ano.
“Existem formas fatais de intimidação, como o aborto. Em muitos casos, acho que são pessoas poderosas se livrando de pessoas que, em última instância, estão indefesas”, disse.
Tobin e Cupich admitem que essa intimidação assume uma forma particularmente repulsiva dentro da Igreja, em especial nas mídias sociais.
“Acho que a internet, que deveria ser um espaço maravilhoso de ideias e uma praça pública onde poderíamos conversar uns com os outros, está, de diferentes modos, reforçando e aumentando a polarização”, disse Tobin.
Tobin contou ao Crux acreditar que, embora apresente oportunidades incríveis para a evangelização, a internet também apresenta dilemas particulares aos bispos e padres, e pediu ao seu conselho presbiteral que pense uma diretriz sobre como melhor orientar os padres e bispos no uso de suas redes sociais.
“Alguns que já anteciparam isso gritam: ‘Primeira Emenda’”, disse Tobin. “Mas não quer dizer que temos de renunciar aos direitos da Primeira Emenda quando nos ordenamos. Até mesmo na jurisprudência civil, o direito à liberdade de expressão não existe sem limites. Penso que, como padres, existem certas coisas que não podemos fazer. Ou não deveríamos em termos morais”.
Após campanhas nas mídias sociais feitas pelo Church Militant, grupo de comunicação católico conservador, levarem ao cancelamento de várias palestras de James Martin, padre jesuíta popular que recentemente publicou um livro sobre a construção de pontes entre a comunidade LGBT e a Igreja Católica, Cupich convidou-o para proferir uma série de reflexões quaresmais em Chicago.
Segundo Cupich, reprimir esse tipo de comportamento nas mídias sociais não é necessariamente a melhor solução. Em vez disso, a melhor coisa a fazer é ter a coragem de se pronunciar mesmo diante da resistência.
“Não acho que devemos perseguir estas pessoas”, disse Cupich. “No entanto, quando vejo uma injustiça sendo feita, eu me manifesto em contrário. Eu acho que temos de ter condições de apontar para as várias expressões desta retórica tóxica e dizer que ela está errada”.
“Quanto a reprimir, perseguir ou censurar as pessoas, acho que essas ações pouco contribuem e, muitas vezes, acabam enfraquecendo as nossas iniciativas”, acrescentou. “Penso que temos de mostrar força e nos manifestar”.
Entre as eleições mais acompanhadas de perto durante a assembleia anual da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA esteve a escolha do novo coordenador da comissão para as atividades pró-vida, onde Cupich concorria com o arcebispo de Kansas City, Dom Joseph Naumann.
Cupich é amplamente considerado um representante da ética consistente da vida, que tenta ligar os pontos entre uma gama de questões como o aborto, a eutanásia e a pena de morte, enquanto Naumann alinha-se mais com a visão tradicional que se concentra no aborto.
Quando Naumann venceu Cupich em uma votação por 96 a 82, alguns viram este resultado como um voto contra a abordagem da ética consistente da vida. Em entrevista ao Crux logo após a votação, Cupich disse achar que essa interpretação estava equivocada.
“A comissão pró-vida possui um número grande de participantes. Embora convoque estas pessoas, o presidente depende de todo o grupo para agir e precisa estar em sintonia com o restante da Conferência Episcopal”, disse Cupich.
“Fico muito feliz com a expansão da compreensão de temas ligados à vida que tivemos em nossa conferência no sentido de nos certificar de que sejamos consistentes, coerentes em nossa abordagem”, acrescentou.
Em seguida, Cupich apontou para a orientação dos bispos americanos nas considerações dos votos como uma prova disso.
“Com certeza, o documento que temos – Faithful Citizenship – reflete isto, portanto não acho que iremos ter alguma mudança de rumo, afinal de contas”, completou.
Aos 65 e 68, respectivamente, Tobin e Cupich são bastante jovens segundo os padrões eclesiais e permanecerão figuras importantes na Igreja que Francisco tenta reformar e reconstruir.
Os dois foram tirados de dioceses relativamente obscuras e, em pouco tempo, transformaram-se nos representantes papais em um país onde o debate sobre o pontífice muitas vezes é um tema popular.
Em um evento recentemente realizado na Universidade de Chicago, perguntaram a Cupich sobre a acusação de que Francisco estaria alimentando uma “confusão crônica” dentro da Igreja, como o fez há poucas semanas o Frei Tom Weinandy, ex-assessor para a comissão doutrinal dos bispos americanos.
“Não acho que as pessoas estão escandalizadas pelo papa”, respondeu Cupich. “Acho que se está dizendo a elas para que se escandalizem. Me parece que existe uma diferença aí”.
Perguntado sobre a mesma acusação, Tobin disse ao Crux que tais alegações são infundadas.
“Existem os que estão confusos sobre o que significa estar confuso e discordar”, disse Tobin.
“Se dissesse que o Papa Francisco estava fazendo as pessoas falarem grego, Weinandy teria feito muito mais sentido para mim”.
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Cardeais Tobin e Cupich: desafiando os críticos e criando uma cultura do encontro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU