17 Outubro 2017
"Não acontecerá!" Os cartazes diziam apenas essas duas palavras. Letras brancas sobre um fundo azul. Mulheres de diferentes idades, a maioria italianas, seguravam os cartazes. Com lenços brancos sobre suas cabeças, elas saudaram o Papa. Um gesto forte. Justamente quando se comemora o Dia das Mães na Argentina, Francisco quis mostrar sua proximidade com as Mães da Praça de Maio. É por isso que ele autorizou um grupo de apoio para essa organização de luta pelos direitos humanos para que se posicionasse na primeira fila, durante a missa que celebrou neste domingo na Praça São Pedro.
A reportagem é de Andrés Beltramo Álvarez, publicada por Vatican Insider, 15-10-2017. A tradução é de André Langer.
A comitiva era composta por cerca de 30 pessoas. Elas obtiveram autorizações especiais da Polícia do Vaticano para poderem transitar livremente. Elas seguravam os cartazes durante quase toda a cerimônia de canonização de 35 novos santos: 30 mártires brasileiros, três pequenos indígenas mexicanos e dois sacerdotes, um espanhol e um italiano. No final, depois de cumprimentar os cardeais e antes de fazer dar uma volta no papamóvel entre a multidão, o Pontífice se aproximou e dedicou-lhes uma saudação especial.
"O Papa recordou que na Argentina é o Dia das Mães e é por isso que ele quis que estivéssemos aqui – porque não se pode entrar, caso ele não queira – para dar testemunho da existência de mães que continuam a lutar, que continuam a lutar pela democracia e pela liberdade de todos", disse Renato Di Nicola, do grupo de apoio às Mães da Praça de Maio na Itália, em declarações feitas ao Vatican Insider.
Jorge Mario Bergoglio não disse muito mais. Mas o detalhe teve um valor simbólico inegável. "Às vezes, não é necessário que o Papa fale; o simples fato de estarmos aqui, na primeira linha, junto com os diplomatas, nós, cidadãos comuns, mas conectados com a realidade argentina, o Papa já falou, não precisa dizer palavras", acrescentou Di Nicola.
Após a saudação, as mães abriram um cartaz maior como a frase “Não vai acontecer!” Quase um bloco carnavalesco. Com ele se posicionaram de um lado esperando a volta do papamóvel. Quando Francisco passou perto delas, ele voltou a saudá-las.
O coordenador recordou que são 40 anos da luta dessa associação que procura os desaparecidos durante a última ditadura militar (1976-1983). Uma luta pela democracia e pela transparência, pela possibilidade de que haja direitos humanos efetivos na Argentina. Ele precisou que, neste mesmo domingo na localidade argentina de Tigre, elas irão distribuir alguns lenços para "sacerdotes comprometidos com a causa do povo".
"A destruição da democracia não acontecerá, a destruição das mães não acontecerá, a destruição dos arquivos das mães não acontecerá, a destruição da verdade não acontecerá, porque quando as mães são atacadas, não são apenas elas que são atacadas, mas também a identidade, a cultura e a dignidade de um povo. Ninguém pode dizer que não houve 30 mil desaparecidos; que só houve 15 mil. É uma vergonha que alguém diga isso", disse ele.
E apontou: "Também não se pode dizer que 20% de Santiago deixou o Chile e que, portanto, 20% das pessoas estão mortas. São declarações que ferem o coração, e as pessoas não querem voltar aos anos setenta".
Mais tarde, Renato Di Nicola disse que para eles o mais importante é que as Mães da Praça de Maio podem ter sua atividade política "sem serem assediadas todos os dias" e podem continuar livremente a fazer suas marchas, todas as quintas-feiras, para pedir o aparecimento de seus filhos e de todos os desaparecidos, "os antigos e os novos".
Ele afirmou que "centenas de coisas" mostram a hostilidade contra as mães na Argentina, entre elas "tentativas para prendê-las", "atos administrativos contra elas" e "juízes ligados à velha ditadura que continuam a determinar situações".
"Nós dizemos que as mães são um antídoto contra a violência e a ditadura, que podem ser exercidas não apenas com ações, mas também com ameaças. Às vezes, a ameaça é mais perigosa do que a violência física; isso o povo argentino não merece. Em nenhum caso. Não se trata deste ou daquele governante. Não podemos retroceder na luta pela democracia. É por isso que dizemos: Nenhum passo atrás! Não vão acontecer!", afirmou.
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O gesto do Papa a favor das Mães da Praça de Maio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU