29 Setembro 2017
Não demoraram as reações críticas de expoentes do Vaticano e intelectuais católicos para a "correção filial" enviada ao Papa Francisco. Eis aqui os principais detalhes.
A reportagem é de Francesco Gnagni Porpora, publicada por Formiche, 28-09-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
Se, de fato, o presidente da Conferência Episcopal Italiana, Gualtiero Bassetti, em seu primeiro discurso depois da posse, passou por cima do assunto, pedindo simplesmente, "no plano pastoral", para "adotar com autenticidade no território o espírito da Amoris laetitia", com o eco do diretor Marco Tarquinio no Avvenire, que reiterou o pedido do recém-eleito presidente da CEI para o "recebimento e implementação de exortação apostólica", quem foi direto ao ponto foi o arcebispo de Chieti-Vasto, Bruno Forte. O teólogo falou de "intenção instrumental de atacar o pontificado de Bergoglio", com um "pretexto forçado para procurar por erros doutrinais que não existem" dentro de "uma operação que não pode ser condizente com quem ama a Igreja". "Amoris laetitia pede que o espírito de misericórdia seja oferecido a todos", continuou Forte em seu comentário divulgado através de sua página no Facebook, e "todas as sete supostas acusações contra ele interpretam mal a necessidade de verdade e de misericórdia por parte da Igreja, que não fecha as portas na cara de ninguém, porque Deus não faz isso".
Reforça a dose monsenhor Giuseppe Lorizio, professor de Teologia Fundamental na Universidade Lateranense, entrevistado por Luciano Moia em Avvenire, que falou de "um problema de honestidade intelectual e incompetência teológica", de quem usa como "proposições de acusação frases que o Papa nunca disse nem escreveu", proporcionando no conjunto "uma livre e questionável interpretação da mensagem do Papa": "uma visão automática e estática da Graça, que, ao contrário, é um fato dinâmico", e que a Eucaristia "é o panis viatorum daqueles que estão no caminho". Ele ressaltou que a visão de Amoris laetitia remonta inclusive ao Concílio de Trento, 'plena tradição’, esclarecendo que, além disso, a exortação "tem uma qualificação de magistério ordinário e, portanto, deve ser acolhida como tal, não é a posição de uma escola teológica. É a expressão de um percurso de Igreja". O próprio Moia acrescentou: "Se os 62 signatários do documento tivessem lido os milhares de respostas para a secretaria do Sínodo teriam finalmente percebido o sentimento geral do povo de Deus".
Acusações desse tipo, no entanto, não são novas, explicou Andrea Tornielli ao La Stampa, mas atingiram também João Paulo II por "suas declarações em linha com o Concílio Ecumênico Vaticano II": críticas "bem diferentes por seriedade, tons utilizados, argumentações propostas e proporções" daquelas dos signatários da carta, estes últimos "minorias extremistas e periféricas”. Como no caso da "carta aberta", de 1989, “subscrita por 162 docentes de teologia católica de língua alemã", assinada por "17 mil leigos e eclesiásticos” na Holanda e “16 mil párocos e leigos da então República Federal da Alemanha", em que se acusava o "centralismo romano e a falta de escuta da Santa Sé quanto às necessidades e indicações das igrejas locais". O oposto do que acontece hoje com Bergoglio.
Acusações também foram lançadas contra o próprio cardeal alemão Gerhard Müller nas semanas que antecederam sua nomeação como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em 2012, com textos mais uma vez "divulgados em sites e blogs próximos ao chamado mundo tradicionalista e lefebvriano", e Bento XVI, "por algumas de suas intervenções em tema de ecumenismo ou pela decisão de participar ao encontro inter-religioso de Assis", lembrou Tornielli. Acrescentando, em seu blog, que, embora a acusação dos signatários, nas palavras de Ettore Gotti Tedeschi ou de Antonio Livi, não seja de "heresia", mas contemple mais precisamente "a capacidade de poder provocá-la" no texto em latim citado na carta lemos as palavras "proposições falsas e heréticas". Portanto, "das duas, uma" afirmou Tornielli : "Se eles tinham isso em mente, deveriam ter a coragem de sustentá-lo, sem sofismas e rodeios", "sem atirar a pedra (assinatura) e depois esconder a mão (negando ter declarado que o Papa proferiu e propagou heresias)".
No jornal online editado pela Fundação para a Subsidiariedade Il Sussidiario, o filósofo Eugenio Mazzarella tachou a correção de "Amoris tristizia": "Tudo menos o amor parece que deva existir nos casais separados que tentam reconstruir uma vida sem ter que se afastar da graça sacramental que a Igreja administra na Eucaristia, de acordo com os signatários das acusações de heresia a Francisco por suas aberturas para divorciados novamente casados". Ou seja, menos "a determinação sincera de fazer melhor como homens e mulheres, pais e mães, no amor de Cristo, apoiados pela Igreja, mãe rigorosa, mas não surda frente à dor de seus filhos". Em suma, líquida o filósofo, não é outra coisa senão "uma banal, mesmo vulgar, troca da misericórdia do magistério da Amoris laetitia de Francisco pelo permissivismo modernista e cripto-luterano": "de quem queria criticar Francisco, esperar-se-ia um empenho teológico e argumentativo mais sólido do que uma “correção filial” infeliz até mesmo na dicção, que muito lembra o léxico dos bancos e cofres de segurança das próprias certezas teológicas e morais", conclui Mazzarella.
Ainda mais explícito o diretor de Il Sismógrafo, Luis Badilla: "Eu gostaria muito de ter o tempo e meios para conhecer um por um o sumo do pensamento de todos os signatários, na quase totalidade conhecidos apenas dentro de suas próprias casas. Estou certo de que me depararia muitas vezes com ideias desvairadas. Eu, modestamente, nesses guardiões da fé não confio nem por um instante. Falo com humildade, eu francamente confio no Papa Francisco".
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Quem e como foi liquidada a carta de correção enviada ao Papa Francisco sobre Amoris laetitia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU