28 Março 2017
O elevador que quebrou, fazendo com que o papa descesse as escadas, ainda está quebrado. Os interfones que não funcionavam no sábado também não funcionam hoje. Os meios da empresa pública passaram para limpar a área, mas ficaram as carcaças de alguns scooters e uma TV velha. Nuccio Oneto, depois de receber o papa em casa, que quis telefonar para a sua esposa no hospital, lamenta-se assim como há dois dias: “Agarraram-se ao meu contador. Não sei mais a que santo recorrer...”.
A reportagem é de Fabio Poletti, publicada por La Stampa, 27-03-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Bastasse o Papa Francisco, isso seria um paraíso. Mas são as Casas Brancas, construção popular de estilo soviético que parou nos anos 1970. A última intervenção de destaque foi quando refizeram os telhados, removendo o amianto.
“Todos têm grandes expectativas. Esperam apenas não ficar frustrados pela enésima vez”, admite o Pe. Augusto Bonora, da paróquia de San Galdino. Onde a estátua de gesso de Nossa Senhora foi restaurada com uma coleta. Nas Casas Brancas da Via Salomone, vivem 477 famílias, mais de 1.500 habitantes, 20% estrangeiros, 15% prejudicados. Há muitos sul-americanos, uma família argentina havia colocado a bandeira na varanda para saudar o papa, um pouco de chineses e muitos muçulmanos. O único problema que não existe – porque, de resto, existem todos – é o da integração.
A esposa marroquina de Abdel Karim Mihoua, que ofereceu leite e amêndoas ao papa, ensina italiano aos estrangeiros na paróquia de San Galdino. Quando o Ramadã acaba, os cristãos vão fazer festa na mesquita. “Pelo menos duas ou três vezes por ano, fazemos encontros inter-religiosos abertos ao bairro”, conta o Pe. Augusto. “Fizemos a única coisa que se deve fazer nesse caso: conhecer-se”, explica do modo mais simples do mundo Giorgio Sarto, o responsável da Cáritas que, com 50 voluntários, faz milagres. Começando pela assistência a 80 idosos.
“Há idosos que, depois de romper toda relação familiar, precisam de tudo”, explica Giorgio Sarto, que coloca na mira o governo local e a Aler [empresa pública de construção], que fazem pouco por estas casas, assim como a prefeitura de Milão, que, talvez, faz muito globalmente, mas, depois, na periferia, veem-se apenas as migalhas. “A política deve resolver os problemas. Senão, faz demagogia”, ataca, enquanto jura que a visita do papa à cidade foi vivida como uma lufada de ar fresco. Como um sopro de esperança. Para citar as palavras do cardeal Angelo Scola: “O povo o segue com entusiasmo, porque o entende e o quer bem, sente que Francisco cuida dele e é apaixonado por ele”.
O mesmo cuidado que se espera das instituições. Marco Cormio, conselheiro da zona 4 do Partido Democrático, assegura que bateu em mil portas: “Todos nós esperamos que a visita do papa consiga mover as instituições. A propriedade é da Aler e da Região da Lombardia. Seria preciso uma intervenção urgente de manutenção de 10 milhões de euros. À prefeitura, cabem as políticas de assistência social. O prefeito, Giuseppe Sala, esteve aqui no dia 30 de dezembro. Prometeu que, em quatro ou cinco meses, nos daria respostas. Vou lembrá-lo também. Passada a festa, não enganemos o Santo”.
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"A sua visita foi uma alegria. Mas que agora os políticos não se esqueçam de nós" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU