04 Março 2017
Universidade de Notre Dame nega hospedagem para estudante transgêneroDepois de meses de intenso debate, a Universidade de Notre Dame anunciou que o vice-presidente Mike Pence será o orador principal da formatura de primavera deste ano, evitando, assim, o que o presidente da Notre Dame estava preocupado: que o evento se tornasse um "circo" caso o presidente Trump fosse convidado.
A reportagem é de David Gibson, publicada por National Catholic Reporter, 02-03-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Pence, natural da Indiana e governador do estado até janeiro, também receberá um diploma honorário na cerimônia de abertura da Notre Dame, em 21 de maio - o primeiro vice-presidente dos Estados Unidos a receber tal honraria pela icônica faculdade católica de South Bend.
"É muito apropriado que no 175º ano de nossa fundação no solo de Indiana a Notre Dame reconheça um filho da terra que serviu o nosso estado e agora a nação com sobriedade, convicção moral e dedicação ao bem comum, característica de verdadeiros estadistas", declarou o Padre John Jenkins, presidente da Notre Dame, em um comunicado em 2 de março.
"Com a sua própria dignidade reservada, Mike Pence já inspirou confiança no nível estadual e, agora, também no cenário mundial. Estamos orgulhosos de recebê-lo para representar a nova administração".
Notre Dame podia se gabar de ter recebido mais presidentes dos EUA para abrir o ano letivo do que qualquer outra escola não militar, mas a partir do momento em que Trump foi eleito, em um resultado chocante em novembro, Jenkins enfrentou um dilema sobre a possibilidade de convidar uma figura tão controversa.
Trump teve mais votos católicos do que sua adversária democrata, Hillary Clinton, por uma margem convincente de 52 a 45, conquistada muito pelos católicos brancos nos principais estados do meio oeste dos EUA, como Indiana.
Mas o duro discurso anti-imigração de Trump afastou católicos latinos da chapa republicana e continuou causando resistência de líderes católicos a Trump - incluindo o Papa Francisco -, o que é incomum para um político do Grand Old Party (como é conhecido o Partido Republicano) que também diz ser contrário ao aborto, questão central para a igreja dos EUA.
Jenkins, por exemplo, uniu mais de 100 líderes de outras faculdades católicas na promessa de proteger todos os estudantes da Notre Dame de tentativas do governo Trump de deportá-los.
Além disso, Trump ridicularizou os deficientes, disse que a questão do casamento gay já está resolvida, referiu-se às mulheres em termos humilhantes e se gabou de seduzir e explorar mulheres sexualmente, e até mesmo de agredi-las.
Sua campanha e sua eleição também foram celebradas pela supremacia branca, por antissemitas e islamofóbicos, e a incidência de crimes de ódio aumentou drasticamente, mesmo ele tendo escolhido nacionalistas declarados para as principais funções de seu governo.
Em uma entrevista em dezembro, Jenkins admitiu que tudo isso lhe fez parar para refletir antes de convidar Trump, principalmente depois que a participação de Obama nessa cerimônia universitária no ano de 2009 provocou um enorme clamor dos conservadores. Para eles, o apoio de Obama ao direito ao aborto, desqualificava-o para este tipo de honraria.
A abertura de 2009 "foi uma espécie de circo político e tenho clareza de que esse dia é voltado para os graduandos e seus pais - e eu não quero que nada mais seja foco", disse Jenkins ao The Observer, jornal do campus nas proximidades de South Bend, Indiana.
"Minha preocupação é um pouco esta, de que se o novo presidente vier, pode ser um circo ainda maior", acrescentou.
A hesitação de Jenkins aumentou ainda mais a pressão dos conservadores católicos que queriam que Trump fosse convidado. O arcebispo da Philadelphia, Charles Chaput, sugeriu que Jenkins convidasse Trump e um abaixo-assinado online já teve mais de 12.500 assinaturas.
Pence parecia ser uma aposta inteligente, por ser de Indiana e ser uma figura pública respeitada.
Mas Pence também poderia causar seus próprios problemas.
Por um lado, por mais que Pence tenha sido criado como católico, ele se tornou evangélico na faculdade e participou de megaigrejas. Ele se descreve como um "católico evangélico", o que soa como uma contradição teológica e também uma denominação na tentativa de agradar a ambos os lados.
Além disso, ainda que suas opiniões sobre o aborto e os direitos dos homossexuais, por exemplo, estejam alinhados com grande parte da hierarquia, ele também mudou alguns posicionamentos para apoiar as políticas muito mais duras de Trump em diversas áreas.
Em 2015, um ano antes de Pence ser escolhido para concorrer ao lado de Trump, ele teve um confronto com o então arcebispo Joseph Tobin de Indianapolis, agora cardeal em Nova Jersey, sobre o reassentamento de refugiados sírios.
Pence pediu a uma instituição local da Catholic Charities para não realojar uma família de refugiados da Síria, mas Tobin recusou-se, notando que a família tinha sido cuidadosamente avaliada e que a igreja estava cumprindo sua missão.
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Notre Dame evita polêmica com Trump e Pence deve receber diploma honorário - Instituto Humanitas Unisinos - IHU