26 Janeiro 2017
A exortação apostólica do Papa Francisco sobre o matrimônio e a vida familiar, Amoris Laetitia, convida os padres a acompanhar os casais e indivíduos que enfrentam os desafios da vida moderna, de forma que possam se aproximarem de Cristo e da experiência de seu amor e misericórdia, disse o cardeal de Washington Donald W. Wuerl em 21 de janeiro.
A reportagem é de Mark Zimmermann, publicada por Catholic News Service, 24-01-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
O cardeal falou sobre o documento papal em uma oficina para seminaristas da Arquidiocese de Washington.
“A exortação apostólica convida a uma abordagem pastoral compassiva a muitas pessoas – casadas, solteiras e divorciadas – que se esforçam para enfrentar os problemas da vida, para viver os ensinamentos da Igreja e para realizar o desejo de reconciliação com tudo isso”, afirmou o cardeal. “A exortação é um convite a um acompanhamento compassivo de ajudar a todos a experimentar o amor e a misericórdia de Cristo”.
Wuerl disse que o documento não altera o ensinamento católico sobre o matrimônio, mas “põe uma maior ênfase no papel da consciência individual na apropriação daquelas normas morais em circunstâncias reais da pessoa”.
Cerca de 60 seminaristas da Arquidiocese de Washington participaram do workshop no Seminário São João Paulo II. A eles se juntaram outros 10 seminaristas via videoconferência, jovens que se encontram no Pontifício Colégio Norte-Americano em Roma. Os membros do corpo docente do seminário de Washington também participaram do encontro.
O workshop também incluiu uma fala sobre a formação presbiteral proferida pelo Mons. Robert Panke, reitor do seminário e diretor do Departamento de Formação Presbiteral arquidiocesano. Pastores locais falaram sobre como a exortação apostólica está auxiliando no trabalho de preparação matrimonial dos cônjuges.
Uma publicação recente emitida pelo Departamento de Vocações e Formação Presbiteral da arquidiocese, intitulada “Reflections on ‘Amoris Laetitia’”, delineou a estrutura para o debate.
“Quando começamos as nossas reflexões sobre as implicações pastorais de Amoris Laetitia, precisamos partir do entendimento de que nenhum dos ensinamentos da Igreja foi alterado: isso inclui o ensinamento sobre a indissolubilidade do matrimônio, as diretivas que encontramos no Código de Direito Canônico e também o papel da consciência individual na determinação da culpabilidade pessoal”, disse o cardeal.
O cardeal falou que no ano passado o Papa Francisco publicou Amoris Laetitia (“A Alegria do Amor”) sabendo que muitas pessoas no mundo de hoje vivem em uma cultura altamente secular, em que os valores são moldados pelo materialismo, individualismo e relativismo. “O papa observou que é exatamente neste contexto que o nosso povo vive e que o nosso ensino deve ajudá-lo a ir em frente”, disse o cardeal.
O Papa Francisco incentiva o acompanhamento pastoral dos casais, “mesmo aqueles num casamento que não reflete inteiramente o ensino católico (...) Cristo inspira a Igreja a voltar-se a eles com amor e afeição para auxiliá-los na superação das provações que enfrentam”, completou.
“O matrimônio e a família, como conhecemos a partir de experiências pessoais”, continuou, “sofrem todas as dores e sofrimentos, provações e tribulações da condição humana. No entanto, sabemos que, com e através do Cristo Ressuscitado, são feitas novas todas as coisas”.
Trazendo a história da mulher pega em adultério, relato tirado do Evangelho de São João, Wuerl notou que Jesus, quando confrontado com ela, não aboliu a lei sobre o matrimônio. “O que ele faz foi reconhecer a condição humana pecadora da mulher, evitou condená-la dizendo-lhe, em seguida, para ir, mas não mais pecar”, disse o cardeal. “O que nós também deveríamos reconhecer aqui é a misericórdia divina em ação na vida humana, não nos absolvendo da lei”, mas reconhecendo “que precisamos constantemente ser ajudados para que possamos continuar em nosso caminho em direção a não mais pecar”.
Wuerl sublinhou também a importância do sacramento da Confissão e apontou para o fato de que o Papa Francisco, ao anunciar o Ano Santo da Misericórdia, descreveu a misericórdia divina como “o coração pulsante do Evangelho”. O cardeal disse que Amoris Laetitia enfatiza que dividir o amor e a misericórdia divina deveria estar no centro do trabalho da Igreja Católica junto aos casais e as famílias.
“O Santo Padre aponta o modo como a Igreja pode dar passos para apoiar os casais e as famílias em suas vidas hoje, e para trazer, com misericórdia, esperança e cura aos que se encontram em situações rompidas e feridas, com uma sensibilidade para com a diversidade das relações e culturas particulares”, explicou.
Discutindo como os padres, na qualidade de pastores de almas, deveriam ensinar e acompanhar os fiéis que vem até eles em
busca de orientação e auxiliá-los na formação de suas consciências, “o diálogo pastoral”, observou o religioso, “o acompanhamento e a integração da fé envolvem o desenvolvimento da consciência e também a expressão de um nível de apoio ou confirmação para o juízo que o indivíduo está fazendo sobre o estado de sua alma”.
Wuerl acrescentou que “o Santo Padre nos lembra: o papel do padre, em completa fidelidade com o ensino perene da Igreja, é ajudar a ‘formar consciências, não substituí-las’”.
Notando a ênfase da exortação na função da consciência, o cardeal falou: “O padre pode e deve transmitir o ensinamento e ajudar a formar a consciência. Mas o juízo real da consciência e, portanto, da culpabilidade diante de Deus para uma ação específica pertence ao indivíduo”.
Em Amoris Laetitia, o papa igualmente diz que o apoio ao matrimônio e às famílias deveria ser feito de um modo mais amplo para que o trabalho pastoral da Igreja possa ajudar as pessoas, em todos os estágios da vida de casado e familiar, a encontrarem a Cristo.
“O Santo Padre convida a um apostolado da família, que ofereça uma catequese e uma formação mais adequadas não só aos casais e seus filhos, mas também aos padres, diáconos, seminaristas, religiosos consagrados, catequistas, professores, assistentes sociais, profissionais da saúde e outros agentes pastorais”, disse o cardeal.
A exortação foi produzida a partir dos resultados dos dois Sínodos dos Bispos convocados pelo Papa Francisco, notou o cardeal, um ocorrido em 2014 sobre os desafios do matrimônio e da vida em família, e o outro em 2015 sobre como responder a estes desafios por meio do ensino católico. Wuerl disse que Amoris Laetitia é um “documento consensual”, que reflete as declarações sinodais, as quais receberam uma aprovação significativa dos bispos participantes.
Amoris Laetitia também é uma “exortação de continuidade”, segundo ele, que disse ainda que o documento apresenta o magistério papal em continuidade com o ensino dos papas recentes e da tradição católica, com numerosas citações de São João Paulo II, Papa Bento XVI e do Beato Paulo VI, além de citações tiradas do Concílio Vaticano II, do Catecismo da Igreja Católica e de São Tomás de Aquino.
Todas as exortações apostólicas que se seguem dos sínodos têm a mesma autoridade magisterial, disse Wuerl. “Se começamos a escolher quais iremos aceitar por causa do conteúdo que gostamos ou não, então, com efeito, esvaziamos todos eles de qualquer autoridade magisterial vinculante”, disse, acrescentando: “Todas elas fazem parte do magistério papal”.
Ao concluir suas observações, o cardeal afirmou que o acompanhamento pastoral tem a ver com o sacerdote caminhando junto com a pessoa ou casal em uma jornada para Cristo. “Na ação de sair, encontrar, compartilhar e acompanhar, nós também reconhecemos que, na caminhada, nós – nós mesmos – estamos também nos aproximando mais do Senhor”, disse.
Na fala de abertura, o Mons. Panke disse que os quatro elementos da formação presbiteral – humano, espiritual, intelectual e pastoral – ajudam os padres e os que estão se preparando para o sacerdócio a configurarem suas mentes e corações para Cristo, para que possam “ensinar a verdade com amor e paciência” e acompanhar aqueles a quem servem para conduzi-los a Jesus.
No painel dos pastores sobre Amoris Laetitia, o Mons. Eddie Tolentino, da Paróquia São Miguel Arcanjo, em Silver Spring, no estado de Maryland, falou que planeja usar a exortação para reorganizar o programa de preparação matrimonial da paróquia e o trabalho com os casais. O título deste documento, disse ele, reflete dois aspectos-chave de Deus – alegria e amor – que deveriam moldar o ministério matrimonial de uma paróquia.
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Wuerl: Amoris Laetitia fala sobre o acompanhamento dos casais em meio aos desafios da vida - Instituto Humanitas Unisinos - IHU