05 Outubro 2016
Para o ano em que o Papa Francisco disse que não vai passar muito tempo em viagem ao exterior, ouvimos que, em 2017, ele vai a Fátima, Índia e Bangladesh, deseja ir à África e, talvez, à Colômbia. Notavelmente ausentes estão viagens ao “centro”, quer dizer: a Europa ocidental e a América do Norte.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por Crux, 04-10-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
No domingo passado, o Papa Francisco concedeu uma entrevista a abordo do avião que o trouxe de volta a Roma após a estada de três dias na Geórgia e no Azerbaijão. Visto que ele abordou a teoria de gênero e as eleições americanas, não deve surpreender que a maior parte do que ele disse venha sendo minimizado ou ignorado.
Durante a entrevista, no entanto, perguntaram a Francisco sobre as viagens que pretende fazer em 2017. Tenhamos em mente que a ida à Geórgia e ao Azerbaijão foi a 16ª viagem além-mar deste papado, e no final deste mês ele vai ir para Lund, na Suécia, para marcar o 500º aniversário da Reforma Protestante.
Eis o que Francisco respondeu falando em italiano ao ser perguntado:
“Com toda a certeza, posso dizer até hoje, que vou a Portugal, mas vou só a Fátima. Isto até hoje. Porque há um problema: é que, neste Ano Santo, foram suspensas as visitas Ad Limina [dos bispos] e, no próximo ano, decorrem as deste ano e as do ano seguinte. Por isso, há pouco espaço para viagens. Mas vou a Portugal”.
O termo ad limina significa literalmente “no limiar” e se refere às visitas dos bispos a Roma para ver o papa e visitar os dicastérios vaticanos, o que é exigido dos prelados a cada cinco anos.
“É quase certo que vou para a Índia e Bangladesh”, disse o papa. “Na África, não tem um lugar certo ainda, depende do clima durante aqueles meses, porque a situação no norte da África é uma coisa, e outra é a situação no sul do continente. Também depende da situação política e das guerras, mas temos a possibilidade também de ir a África”.
“No continente americano, eu disse que quando o processo de paz na Colômbia estiver completado, vou ir, quando tudo estiver ‘a prova de bala’, quero dizer – se o plebiscito vingar – quando tudo estiver certo, quando não haver volta, ou seja, quanto a comunidade internacional, todos os países, estiverem de acordo que não há recurso, que tudo está finalizado, eu posso ir”.
Dado que o plebiscito na Colômbia não teve sucesso no domingo passado, é obvio que essas condições não foram alcançadas.
O importante disso tudo é: o papa não tem muito tempo para viagens em 2017, então ele vai ter de escolher com atenção. E, claro, é exatamente nos momentos em que um papa tem de fazer escolher difíceis que se revelam as suas verdadeiras prioridades.
Nesse sentido, o mais surpreendente em sua resposta é o que está ausente: ele não menciona nenhuma vista ao Ocidente além de uma rápida passagem em Fátima. Não faz menção nesse sentido sequer como uma possibilidade teórica – nenhuma visita à Europa ocidental ou à Inglaterra, à América do Norte, Austrália, Nova Zelândia, ou qualquer outro lugar que geralmente é reconhecido como um país desenvolvido.
Pelo contrário, além de Fátima, o que se ouve é uma outra ida à Ásia, o desejo óbvio de uma outra viagem à África, e agora a possibilidade aparentemente distante de uma estada na América Latina.
Nas 16 viagens feitas até então, Francisco visitou 25 países. Eis a lista atualizada:
• América Latina: 6 (Brasil, Equador, Paraguai, Bolívia, Cuba, México)
• Oriente Médio: 4 (Jordânia, Israel, Palestina, Turquia)
• África: 3 (Quênia, Uganda, República Centro-Africana)
• Ásia: 3 (Coreia do Sul, Sri Lanka, Filipinas)
• Europa oriental: 3 (Albânia, Bósnia-Herzegovina, e Polônia)
• Cáucaso: 3 (Armênia, Geórgia, Azerbaijão)
• O sul da Europa: 1 (Grécia)
• Europa ocidental: 1 França (uma viagem de um dia a Estrasburgo para discursar ao Parlamento Europeu)
• América do Norte: 1 (Estados Unidos)
Se estas viagens demonstram as prioridades do papa, é justo dizer que aquela parte chamada de “as periferias” do mundo moderno estão no topo.
No final deste ano, a Ásia e a África estarão na frente da Europa e América do Norte em termos de visitas papais. Em outras palavras, para o Papa das Periferias, essa tônica continuará.
A propósito, se Francisco realizar um consistório para a criação de novos cardeais no fim deste ano ou no começo de 2017, devemos esperar o mesmo: não achar que haverá uma grande quantidade de novos cardeais vindos da Europa ocidental e da América do Norte.
Eis o que o papa disse no avião sobre o assunto:
“Os critérios serão os mesmos dos dois outros consistórios, um pouco de toda parte, porque a Igreja é no mundo inteiro. Ainda estou estudando os nomes, mas talvez sejam três de um continente, dois de um outro ou um de outro lugar, um de um país, mas não se sabe”.
“A lista é longa, mas há somente 13 lugares”. [O papa se referia ao teto de 120 cardeais eleitores, ou seja, com menos de 80 anos e elegíveis para votar num próximo conclave.]
“Deve-se pensar em fazer um equilíbrio, mas eu gosto que se veja no Colégio Cardinalício a universalidade da Igreja, não somente o centro – por assim dizer – ‘europeu’, de todos os lados, mas dos cinco continentes se possível”.
Por fim, a menção dos 13 lugares é um forte indício de que ele está pensando em fazer um consistório por volta de 20 de novembro, para ajudar a marcar o Ano Santo da Misericórdia, posto que este é o número exato necessário para ter 20 cardeais eleitores a partir de 18 de novembro, quando o cardeal italiano Ennio Antonelli completa 80 anos. Permanecerão 13 vagas por 10 dias, quando o Cardinal Théodore-Adrien Sarr, do Senegal, também vai completar 80 anos, portanto o papa pode estar pensando num consistório dentro dessa janela.
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O Papa das Periferias: a tônica continua em 2017 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU