03 Outubro 2016
Os gestos mútuos de aproximação entre os líderes máximos não foram suficientes para romper séculos de desencontro, e o clero da Igreja ortodoxa decidiu finalmente não participar, no sábado, da missa de encerramento após a visita de dois dias do Papa Francisco à Geórgia, devido a “diferenças dogmáticas”.
A reportagem é publicada por La Nación, 02-10-2016. A tradução é de André Langer.
Francisco celebrou, assim, uma missa apagada em um estádio de futebol de Tbilisi, capital da Geórgia, com capacidade para 25 mil pessoas, e da qual participaram apenas cerca de 3 mil fiéis.
Além disso, fora do estádio, reuniu-se um pequeno grupo de manifestantes com cartazes que diziam: “O Vaticano é um agressor espiritual” e “Papa arqui-herético, não és bem-vindo na Geórgia”.
Cerca de 84% dos georgianos são cristãos ortodoxos. Segundo dados oficiais, vivem no país apenas 20 mil católicos, ou seja, 0,5% da população, embora o Vaticano afirme haver cerca de 110 mil católicos.
A Igreja ortodoxa, que conta com cerca de 250 milhões de fiéis em todo o mundo, separou-se de Roma no cisma de 1054, que dividiu o cristianismo em um ramo oriental e outro ocidental.
A Igreja georgiana está vinculada ao Patriarcado de Moscou, cujas relações com o Vaticano, tradicionalmente tensas, melhoraram nos últimos anos. No entanto, os georgianos foram historicamente muito mais conservadores do que os russos.
Embora o Patriarcado tenha anunciado no começo da semana passada que seu clero não participaria da celebração devido a “diferenças dogmáticas”, o Vaticano confiava no envio de uma delegação para a missa.
O Pe. Antonio Spadaro, jornalista jesuíta e integrante da comitiva do Papa, minimizou o ocorrido no sábado e marcou inclusive uma melhoria em relação a situações anteriores entre o Vaticano e a Igreja georgiana. Spadaro recordou que quando João Paulo II visitou Tbilisi em 1999 a imprensa local comparou o fato de participar de uma missa católica com um “pecado mortal”. “Não vimos nada parecido desta vez”, postou Spadaro no seu Twitter.
Um dos sinais de certa distensão entre as duas Igrejas cristãs foi que o Patriarca Elias II foi receber pessoalmente Francisco quando chegou ao aeroporto e depois o acolheu muito cordialmente na sede do Patriarcado. Em sua homilia no estádio, Francisco voltou a insistir em uma mensagem conciliadora e advertiu contra as tentativas de converter os cristãos ortodoxos.
“Há um grande pecado contra o ecumenismo: o proselitismo (...) Nunca se deve fazer proselitismo com os ortodoxos! Eles são nossos irmãos e irmãs, discípulos de Jesus Cristo”, disse o Papa, que no domingo viajou para o Azerbaijão.
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A Igreja ortodoxa ignora o Papa na Geórgia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU