07 Outubro 2015
Talvez a mais conhecida sobrevivente de abuso sexual e que é membro da comissão criada pelo Papa Francisco para liderar a Igreja no caminho da reforma criticou os comentários do pontífice em um caso de abuso no Chile, dizendo que ela está "desanimada e triste" com a sua resposta.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por Crux, 05-10-2015. A tradução é de Evlyn Louise Zilch.
A leiga irlandesa Marie Collins fez os comentários via Twitter, em reação à notícia de um vídeo de cinco meses atrás, tornado público na sexta-feira, que mostra o pontífice esquivando-se das críticas de sua nomeação de um bispo no Chile, acusado de encobrir acusações contra o mais conhecido padre abusador do seu país.
“Não vamos ser cegamente guiados por estes esquerdistas que consolidaram esta oposição”, diz o papa no vídeo.
Aparentemente Francisco usou o termo "esquerdistas" para se referir a políticos chilenos, a maioria membros do principal partido político de esquerda do país, que assinaram uma petição opondo-se a nomeação do bispo de Osorno.
Francisco estava falando sobre protestos contra a nomeação, em janeiro, de Juan de la Cruz Barros Madrid como bispo da pequena diocese de Osorno no Chile. Barros é amplamente visto no Chile como um defensor do Pe. Fernando Karadima, um importante padre chileno considerado culpado de abuso pelo Vaticano em 2011 e condenado a uma vida de "oração e penitência".
“Osorno sofre por ser estúpida, porque não abriu seu coração para o que Deus diz”, Francisco também disse no vídeo.
O vídeo foi capturado quando um ex-porta-voz dos bispos católicos do Chile cumprimentou o Papa na Praça de São Pedro, em Roma. O porta-voz disse que o papa fez os comentários a ele, e estes foram gravados em um iPad por um argentino que estava por perto.
Collins estava entre aqueles que criticaram a nomeação de Barros, até mesmo viajando a Roma, juntamente com três outros membros da Pontifical Commission for the Protection of Minors [Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores] para se encontrar com o cardeal Sean P. O’Malley de Boston, em um esforço de reverter a nomeação do papa de Barros.
O’Malley atua como presidente da comissão, a qual se destina a aconselhar Francisco sobre as políticas antiabuso.
No sábado, Collins enviou um tweet citando comentários do Papa Francisco em espanhol sobre “esquerdistas” estarem por trás da campanha anti-Barros, dizendo que ela estava "desapontada e triste" ao saber da reação do pontífice.
Desapontada e triste com isso! Papa Francisco “no se dejen llevar por las acusaciones de los zurdos” https://t.co/nIDkEZWBs4 via @YouTube
— Marie Collins (@marielco) 03-10-2015
No mesmo dia, Collins também descreveu sua reunião de abril com O’Malley como um "desperdício", dizendo que se sente assim “quando você vê as reivindicações das vítimas corajosas de Karadima categorizados dessa forma”.
Que desperdício que foi viagem a Roma em relação a Barros, quando você vê as reivindicações das vítimas corajosas de Karadima categorizados dessa forma
— Marie Collins (@marielco) 03-10-2015
Em abril, Collins disse que seu encontro com O’Malley sobre o caso Barros tinha “ido bem”, e que ela estava “feliz com a resposta do cardeal Sean”.
Na segunda-feira, Collins disse que ela concordou em participar da comissão papal, na esperança de que as lições foram aprendidas, mas que “esses acontecimentos minam essa esperança”.
“Eu também sinto a dor que as vítimas do padre Karadima devem estar experimentando”, disse ela.
Este não é o primeiro exemplo recente em que a linguagem do Papa Francisco sobre os escândalos de abuso sexual da Igreja tem sido alvo de críticas.
Durante a sua recente viagem aos Estados Unidos, Francisco encontrou-se com cinco vítimas de abuso e também reconheceu no avião papal de volta a Roma que alguns bispos “acobertaram” alegações de abuso, chamando aquilo de “muito feio” e prometeu impor uma prestação de contas.
Francisco disse às vítimas que estava “profundamente sentido” pelos tempos em que eles não foram acreditados. Ele acrescentou que “o clero e os bispos serão responsabilizados quando abusarem ou deixarem de proteger as crianças”.
No entanto, Francisco também usou um discurso de 23 de setembro aos bispos dos EUA em Washington, DC, para elogiar sua “coragem” em resposta aos escândalos de abuso, irritando algumas vítimas e grupos de defesa que se ofenderam pelo modo que pelo menos alguns bispos americanos lidaram com a situação.
Collins, uma antiga defensora das vítimas de abuso, foi estuprada aos 13 anos de idade por um padre em um hospital católico de Dublin, na Irlanda. Ela é uma das duas sobreviventes de abuso que está na comissão papal, juntamente com Peter Saunders, leigo britânico.
Embora o vídeo tenha marcado a primeira vez em que o Papa Francisco pessoalmente comentou sobre a polêmica gerada pela nomeação de Barros, o Vaticano em março divulgou um comunicado dizendo que a Congregação para os Bispos examinou sua candidatura “e não encontrou razões objetivas para se opor à nomeação”.
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Marie Collins, integrante da comissão de abuso sexual do papa, critica sua resposta ao escândalo do Chile - Instituto Humanitas Unisinos - IHU