Por: André | 25 Março 2015
“Quanta falta de pudor humano e episcopal, quanta ausência de respeito a si mesmo, quanta falta de dignidade!” Com essas palavras se expressa o Conselho Editorial da revista chilena Reflexión y Liberación, 22-03-2015. A tradução é de André Langer.
Fonte: http://bit.ly/1CLPf9h |
Eis o texto.
Uma manhã inédita para a história da Igreja chilena e latino-americana foi vivida na Catedral de Osorno. Uma jornada triste, sobretudo pelo testemunho de divisão que foi eloquente. Uma divisão provocada pela obstinação de uma pessoa que não ouviu o clamor do Povo de Deus.
Certamente, alguns vão querer atribuir a divisão àqueles osorninos que majoritariamente rechaçaram Juan Barros, porque não lhe concedem autoridade moral para estar à frente de uma diocese que tem cheiro de santidade desde as suas origens. Também haverá outros que vão querer vitimizar o bispo Barros pela reação de um povo que resiste em aceitar como bispo um cúmplice e acobertador de um dos crimes mais punidos moralmente pela sociedade.
A verdade de fundo é outra.
As verdadeiras vítimas de hoje são aquelas pessoas que um dia, sendo crianças ou jovens, se aproximaram da Paróquia El Bosque, em Santiago, em busca de Deus, em busca de ajuda e conselho, e se depararam com um verdugo que destruiu suas vidas. Que, para perpetrar seus crimes, contou com a cumplicidade de homens como Juan Barros, e que para manter sua impunidade, conseguiu que este fosse nomeado secretário pessoal do cardeal Juan Francisco Fresno. Dessa maneira, o mentor de Barros se blindava diante das acusações que pudessem chegar à Arquidiocese de Santiago. Esta vil estratégia da rede de proteção de Fernando Karadima funcionou durante anos.
Efetivamente, as acusações chegaram à autoridade eclesiástica, mas se defrontaram com um muro intransponível. A maldade estava blindada ferreamente. Quando, depois de muitos anos, os crimes puderam ser denunciados na justiça penal chilena, e depois que a juíza Jéssica González os aceitasse, não pôde puni-los porque o verdugo foi beneficiado pela prescrição de seus crimes. Assim, a cumplicidade e o obstrucionismo foram determinantes na prescrição da maldade.
Então, o que hoje aconteceu em Osorno é grave. E constitui um ato de violência que afeta diretamente as vítimas que, em um passado distante, foram violentadas. Replica-se dessa maneira a figura da re-vitimização dos inocentes, porque com o que hoje [sábado, dia 21 de março] aconteceu em Osorno as vítimas de ontem voltam a ser vitimizadas no presente com a iníqua investidura de Juan Barros Madrid como bispo de Osorno.
Assim se compreende o impactante testemunho compartilhado por Juan Carlos Cruz na Rádio Bío Bío, no exato momento em que Barros assumia em Osorno. Assim se consegue aquilatar a emoção dolorosa de uma vítima abusada, que com a cerimônia de Osorno volta a abrir uma pungente ferida na alma, pela recordação de fatos intrinsecamente perversos. Por isso, as palavras entrecortadas de Juan Carlos Cruz estremeciam aos ouvintes do Chile até a impotência.
Fonte: http://bit.ly/1CLPf9h |
Ao voltar o olhar sobre os acontecimentos de Osorno a contradição era evidente.
Um bispo que chega de madrugada à catedral, às escondidas do povo, protegido fortemente por um esquema de segurança que envolveu policiais e guardas privados armados, com o acesso do templo restringido aos fiéis, recorrendo depois a uma mormacenta procissão que era acompanhada por um coro desconcertante cheio de dor e impotência, misturado com aplausos.
Quanta falta de pudor humano e episcopal, quanta ausência de respeito a si mesmo, quanta falta de dignidade! Enquanto a expressão de um rosto imutável não fazia senão violentar o ambiente, mostrando a mesma desenvoltura e cinismo com que negou os fatos que as vítimas descreveram com horror.
Não seria este o retrato do perfil sacerdotal dos seguidores de Karadima? Descaramento, impudicícia, cinismo, falta de vergonha, imperturbabilidade, a mesma que se requeria para ser testemunha de tanta atrocidade criminosa, calando até a cumplicidade sem fim.
Assim, Juan Barros Madrid assumiu como bispo de Osorno, mas não poderá ser pastor.
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Juan Barros já é bispo de Osorno, mas não poderá ser seu pastor - Instituto Humanitas Unisinos - IHU