20 Abril 2015
Um grupo de católicos influentes da arquidiocese de San Francisco está pedindo ao Papa Francisco que substitua Dom Salvatore Cordileone, com base em que ele estaria “fomentado uma atmosfera de divisão e intolerância”.
A reportagem é de Dan Morris-Young, publicada pelo sítio National Catholic Reporter, 16-04-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Em um anúncio, datado de 16 de abril, publicado no jornal San Francisco Chronicle, mais de 100 pessoas assinam o texto que diz que o arcebispo persegue “uma pauta única”, coagindo os professores com um “código moral que viola as consciências individuais bem como as leis trabalhistas da Califórnia” e “[isolando-se] da nossa comunidade” na medida em que “se ampara num minúsculo grupo de assessores recrutados de fora da nossa diocese e que foram afastados de suas próprias ordens religiosas”.
Referindo-se si próprios como “católicos comprometidos inspirados pelo Vaticano II”, entre os que subscrevem o anúncio estão destacados filantropos da arquidiocese, membros de conselhos escolares e universitários, o ex-diretor da organização local Catholic Charities CYO, advogados, médicos, figuras importantes do mundo dos negócios e corporativo, além de autoridades de organizações caritativas e fundações.
A arquidiocese emitiu uma nota à imprensa na quarta-feira (16) de tarde considerando a carta aberta publicada no jornal uma “representação equivocada do ensinamento católico, uma representação equivocada da natureza do contrato de docência e uma representação equivocada das diretrizes do Arcebispo”.
“A maior representação equivocada de todas é que os que a subscrevem o texto supõem estar falando ‘pela Comunidade Católica de San Francisco’. Mas não é isso o que acontece”, afirma a nota. “A Arquidiocese tem se reunido com um amplo leque de apoiadores. Juntos, temos nos engajado num diálogo construtivo em todos os assuntos levantados neste anúncio. Damos as boas-vindas à oportunidade de continuar esta discussão”.
Provavelmente este comunicado era uma resposta a um material postado, quarta-feira, no sítio do jornal San Francisco Chronicle pelos colunistas Phillip Matier e Andrew Ross. Uma cópia do anúncio serve, aí, como um pano de fundo para os comentários tecidos por estes dois.
“Segundo uma fonte que sabia da elaboração da carta aberta dirigida a Francisco, os católicos desafetos consideraram, primeiramente, publicar o anúncio semanas atrás. Eles seguraram o texto enquanto apelavam a autoridades da Igreja – incluindo o representante papal em Washington – para que resolvessem as suas preocupações. Quando nada resultou destas iniciativas, eles foram a público”, os dois escreveram.
Há uma coletiva de imprensa marcada para as 10h30min de hoje (16) no Edifício Merchants Exchange, de Clint Reilly, em princípio um dos principais personagens por detrás da carta aberta e uma figura destacada de San Francisco. Reilly é ex-presidente do conselho executivo da Catholic Charities CYO e atual presidente do Clinton Reilly Holdings.
Os que subscrevem o anúncio criticam o que chamam de uma “falta absoluta de sensibilidade para com a linguagem exigida [de Dom Cordileone] nos manuais usados nas escolas de ensino médio”, que “estabelecem um tom pastoral que está mais próximo da perseguição do que da evangelização”.
“Alunos, famílias e professores ficaram profundamente sentidos com esta linguagem, mesmo assim o arcebispo se recusa a ceder em suas exigências”, continua o anúncio.
Um texto com 2 mil palavras desenvolvido por Cordileone a serem incluídas nos manuais docentes em 2015-2016 nas quatro escolas de ensino médio da Arquidiocese de San Francisco foi tornado público em 2 de fevereiro deste ano. O material delineia áreas da moralidade sexual e prática religiosa que, segundo o arcebispo, precisam de uma clareza, uma ênfase e uma compreensão maiores por parte de alunos, corpo docente, funcionários e administradores.
O material também chama a atenção dos “administradores das escolas, do corpo docente e dos funcionários” para que “organizem e conduzam suas vidas de forma a não contradizer, enfraquecer ou negar visivelmente” o ensinamento da Igreja.
Muitos dizem que o documento vai contra a consciência individual, contrasta com o ensinamento pastoral e inclusivo do Papa Francisco e critica o que seria uma ênfase despropositada sobre tópicos sexuais. Muitos afirmam que certas passagens são insensíveis e incendiárias, de modo particular os termos: “intrinsecamente mau”, “grave erro” “gravemente mau”.
“Uma tal linguagem não tem espaço em nossos manuais” e é “prejudicial à nossa comunidade além de criar uma atmosfera de desconfiança e medo”, diz uma petição assinada por 80% do corpo docente e dos funcionários das quatro escolas no começo de março e lido nas minutas da reunião de 2 de março do Conselho dos Supervisores da Arquidiocese de San Francisco.
Contatado por Matier e Ross para falar sobre a mensagem da carta aberta de hoje, o advogado que também assina o texto Frank Pitre disse: “Parece que [Cordileone] está indo em uma direção que é completamente oposta daquela para onde o Papa Francisco está indo, além de estar criando uma atmosfera de intolerância completa. Tomara que esta iniciativa chame a atenção de alguém”. Pitre e sua esposa, Diane, assinaram a publicação.
Larry Nibbi, CEO da empresa Nibbi Brothers Construction, disse a Matier e Ross achar que Cordileone “está simplesmente causando um monte de discórdia, em particular entre os jovens da arquidiocese”.
“O cerne da nossa preocupação é que os fiéis acabem deixando de querer ir para a igreja porque eles não gostam da mensagem que está sendo enviada”, disse Nibbi, doador e ex-presidente do conselho de pais e mestres da Archbishop Riordan High School, uma das quatro instituições de ensino afetadas.
“Nem o departamento financeiro do The Chronicle tampouco as pessoas envolvidas com o anúncio disserem quanto custou a publicação. No entanto, sabe-se que um anúncio como este – de uma página inteira – geralmente custa dezenas de milhares de dólares”, escrevem os colunistas.
“Acreditamos nas tradições de consciência, respeito e inclusão sobre as quais a nossa fé católica se fundamenta”, afirma a introdução da carta aberta no anúncio. “Desde os arcebispos Alemany, Hanna, Mitty e McGucken, até os arcebispos Quinn, Levada e Niederauer, a nossa Arquidiocese tem sido uma ‘Igreja imigrante’ construída sobre uma rica tradição de diversidade”.
A carta aberta também criticou Cordileone pela nomeação que fez de um “pastor para a Paróquia Star of the Sea, o qual marginaliza a participação feminina na Igreja proibindo meninas de serem coroinhas, tendo também distribuído, sem explicação alguma, um panfleto potencialmente abusivo e sexualmente orientado a alunos de ensino fundamental”.
O Pe. Fr. Joseph Illo (administrador da Paróquia Star of the Sea) e um outro que lhe auxilia, o Pe. Patrick Driscoll, estiveram envolvidos numa polêmica envolvendo uma escola paroquial que tive uma ampla cobertura na imprensa. No dia 25 de março, tensões levaram a se fazer uma reunião na escola frequentada por quase 200 crianças. Nela, o bispo auxiliar William Justice e o vigário Raymund Reyes ouviram 16 breves falas dos pais.
Esta reunião na Paróquia Star of the Sea, a petição escrita pelos professores e funcionários das quatro escolas arquidiocesanas e o anúncio publicano no jornal dirigido ao Papa Francisco são três de vários revezes contra as iniciativas que Cordileone tem posto em prática desde que foi instalado em 2013.
• Uma carta, de 21 de março, enviada a Cordileone e assinada por 21 padres aposentados da arquidiocese criticaram-no por falta de consulta e colegialidade, e questionaram o tom empregado no manual produzido para orientar a linguagem do corpo docente.
• Dois pedidos de pronunciamento rejeitando a proibição aplicada pela Paróquia Star of Sea contra coroinhas meninas vieram à tona durante uma reunião de fevereiro do Conselho dos Sacerdotes, mas foram ignorados por Cordileone, que argumentou dizendo que Illo estava agindo dentro dos seus direitos como pastor.
• Três vigílias foram realizadas na Catedral de St. Mary of the Assumption por um grupo formado por pais e alunos. A última delas, em 30 de março, atraiu mais de 500 participantes que realizaram uma procissão saindo da histórica Mission Dolores Church, em San Francisco, até a catedral, onde uma petição, assinada por mais de 6500 pessoas contra o manual de linguagem aplicado às escolas, foi pendurada em uma das portas da igreja.
• O jornal San Francisco Chronicle publicou uma análise, em primeira página, que acusava o manual de linguagem como algo que estava indo diretamente contra o pedido do Papa Francisco em acolher os marginalizados. Publicou também semanas atrás um editorial afirmando-se contra a iniciativa.
• Oito legisladores da região de San Francisco assinaram uma carta conjunta endereçada a Cordileone. Nela, acusam-no de estar apresentando uma “mensagem alarmante de intolerância” aos alunos e pedem a retirada do manual enviado às escolas.
• A Federação dos Professores da Califórnia emitiu uma divulgação objetando a linguagem proposta pela arquidiocese por desrespeitar os contratos trabalhistas; e objetando a advertência presente no material segundo o qual os funcionários das escolas deveriam evitar atividades fora dos horários de trabalho que contradigam as posturas da Igreja.
Matier e Ross chamaram a atenção a para a participação programada de Cordileone na Marcha do Matrimônio, em Washington, D.C., no dia 25 de abril, “três dias antes de o Supremo Tribunal americano ouvir os argumentos em um caso que poderá fazer justiça, declarando como um direito constitucional o casamento entre gays e lésbicas”.
Não esperem que “Cordileone comece a voltar atrás em sua oposição ao casamento homoafetivo”, escreveram os colunistas.
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Católicos influentes pedem por destituição do arcebispo de San Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU