06 Março 2015
“Nesta cidade que contribuiu para dar vida ao movimento pelos direitos dos gays”, como escreve o New York Times, uma coisa assim jamais se teria podido imaginar.
A reportagem é de Matteo Matzuzzi, publicada por Il Foglio, 04-03-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
O arcebispo Salvatore Cordileone firmou e promulgou um regulamento no qual se esclarece que nas escolas superiores católicas da diocese por ele administrada os docentes deverão ter presente, de agora em diante, aqueles que ainda são os princípios da moral católica. Não é oportuno, portanto, que diante do crucifixo pendurado na parede se diga aos estudantes que “os atos homossexuais não são contrários à lei natural”, que a contracepção não é “intrinsecamente uma coisa negativa”, que a pesquisa sobre as células seminais é uma grande conquista da ciência. Na prática, é aquilo que faz todo esforço que se respeite o código deontológico feito aprender aos próprios dependentes, nos quais se põem preto sobre branco os limites a não ultrapassar. Mas, em San Francisco os protestos se transformaram rapidamente numa quase rebelião.
“A nossa comunidade está entristecida, os nossos professores estão aterrorizados”, diz quase entre lágrimas miss Jessica Hyman, há vários lustros docente numa das quaro escolas atingidas pelas regras fixadas pelo bispo. As siglas lgbt sofreram por extenso longos comunicados de condenação nos quais trazem à baila, é claro, o Papa Francisco, acusando o chefe diocese californiana de “fechar a porta” também a “profissionais qualificados, entre os quais muitos fiéis católicos gays”. Outros, falando diretamente de um regulamento que sabe tanto de “testes de pureza”, evocando o retorno à Europa dos anos Trinta. O protesto é montado, entre estudantes e professores, tanto que foi organizada uma marcha silenciosa iluminada por velas para a catedral de St. Mary, cujo perfil moderno a faz parecer um centro do bem-estar. Cá e lá, na escuridão do anoitecer, aquele cartaz com a celebérrima frase papal “quem sou eu para julgar?“, estampada em todos os caracteres disponíveis em Word e declinada agora em todo contexto útil a colocar contra hierarquias episcopais e desideratos pessoais. Um docente no instituto do Sagrado Coração, um tal de Gus O’ Sullivan, com a vela na mão explicou estar ele recolhido em prece “pelo arcebispo, cujo coração modificou”.
Mas que “caça às bruxas!”, reagiu Cordileone: “Aqui ninguém quer licenciar ninguém”. Os pontos do documento tão contestado, explicou, são todos “tomados do catecismo da igreja católica, e não contêm nada de novo”. Se muito, numa época marcada por debates ardentes sobre fé e moral, o prelado conservador (lhe é jogado na cara pelos contestadores o não aos matrimônios entre pessoas do mesmo sexo e a participação – não obstante os apelos de vip e dezenas de intelectuais – à Marcha pela vida de Washington do ano passado) disse ter considerado “importante ajudar os docentes a fornecer aos próprios estudantes válidas perspectivas” sobre argumentos que poderiam dar apoio a qualquer confusão excessiva: “As novas gerações estão hoje sob a forte pressão de quem os quer conformados a certos padrões contrários àquilo em que cremos”. Uma motivação que, no entanto, não convenceu oito legisladores locais, os quais solicitaram a Cordileone que retirasse imediatamente “as normas discriminatórias”. A acusação é de “ter usado a religião como um cavalo de Tróia para privar os nossos concidadãos dos seus direitos fundamentais”.
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San Francisco contra o bispo que quer o respeito dos valores católicos nas escolas católicas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU