09 Junho 2014
À medida que os cardeais se reuniam em Roma para eleger um novo papa, a reforma curial se tornou a palavra de ordem do conclave. Essa é a chave do mandato do Papa Francisco. É também um dos seus maiores desafios. Se ele é capaz de despertar a Igreja de seu coma institucional, isso depende inteiramente da sua capacidade de gerir a oposição.
O artigo é do historiador italiano Massimo Faggioli, professor de história do cristianismo da University of St. Thomas, em Minnesota, nos EUA, publicado na revista norte-americana Commonweal, 05-06-2014. A tradução é de Cláudia Sbardelotto.
Eis o texto.
Poucas semanas depois de Bento XVI anunciar a sua renúncia, o filósofo político Giorgio Agamben publicou um pequeno livro chamado Il Mistero del male. Benedetto XVI e la fine dei tempi, Laterza, 2013. O mistério do mal. Bento XVI e o fim dos tempos, em tradução livre) Nesse volume, Agamben chama a renúncia do papa de um momento profético e argumenta que ela destaca a crise de legitimidade institucional. Suas conclusões podem ser rebuscadas - um confronto escatológico entre a Igreja e o poder político, provavelmente, não seja iminente - mas ele põe em foco o sentido da crise que abalou o Vaticano nos meses que antecederam a partida de Bento XVI. Uma série de escândalos - do Vatileaks ao banco do Vaticano – questionaram as capacidades administrativas de Bento XVI, perguntas que ele próprio parecia responder quando decidiu renunciar em fevereiro de 2013. À medida que os cardeais se reuniam em Roma para eleger um novo papa, a reforma curial se tornou a palavra de ordem do conclave. Essa é a chave do mandato do Papa Francisco. É também um dos seus maiores desafios. Se ele é capaz de despertar a Igreja de seu coma institucional isso depende inteiramente da sua capacidade de gerir a sua oposição.
O primeiro ano de Francisco foi caracterizado por uma luta cuidadosamente codificada por terreno entre a velha e a nova guarda. Um debate abstrato sobre a "continuidade ou descontinuidade" do Concílio Vaticano II foi substituído por uma conversa sobre questões concretas, como a pobreza e a desigualdade. O Papa Francisco tem mostrado uma vontade de interromper velhas práticas - por exemplo, o Vaticano proíbe oficialmente sacerdotes de lavar os pés de mulheres na quinta-feira santa, mas foi exatamente isso o que ele fez apenas algumas semanas depois de sua eleição. A nova linguagem e o estilo de Francisco não foram universalmente acolhidos pelos bispos, especialmente alguns em seu próprio quintal. Alguns deles silenciosamente resistem a essas mudanças.
Na Itália, por exemplo, a velha guarda parece especialmente recalcitrante. Os mais proeminentes bispos italianos - os cardeais de Veneza, Milão, Turim, Gênova, Florença, Nápoles e Palermo - foram todos nomeados por João Paulo II ou Bento XVI. Agora parece que muitos dos mais poderosos e visíveis bispos italianos têm pouco a dizer sobre a agenda de Francisco. Apenas o cardeal Carlo Caffarra, de Bolonha, um dos projetistas do documento mais importante de João Paulo II sobre as questões relacionadas à vida - tem se disposto a comentar publicamente, mesmo que apenas para se opor à proposta do cardeal Walter Kasper de permitir que alguns católicos divorciados e recasados recebam a Eucaristia. O resto dos bispos italianos têm ficado mais ou menos ausentes do debate público sobre a família e o casamento na iminência do sínodo episcopal de outubro próximo.
Os bispos alemães são uma outra questão. Eles estão envolvidos há muito tempo com a questão sobre as práticas sacramentais para os católicos recasados. No início de 1990, os bispos alemães propuseram práticas pastorais que admitiriam alguns católicos divorciados à comunhão. Mas a Congregação para a Doutrina da Fé, sob o então cardeal Joseph Ratzinger, obrigou-os a desistir dessa proposta.
Como um todo, a conferência de bispos alemães tem levado a sério o chamado de Francisco para uma "Igreja pobre para os pobres". Quando chegou a hora de eleger um novo presidente da conferência, os bispos alemães escolheram um estudioso da doutrina social católica, o cardeal Reinhard Marx. Francisco nomeou-o para seu Conselho de Cardeais, que o está aconselhando sobre a reforma da Cúria. Os bispos alemães também investigaram Dom Franz-Peter Tebartz-van Elst ,o "bispo esbanjador", pelos gastos exuberantes em uma nova residência. O papa recentemente aceitou sua renúncia.
Entretanto, o Papa Francisco parece sentir que tem muito trabalho a fazer na Itália. Ele começou nomeando vários bispos que são bastante diferentes dos escolhidos por João Paulo II e Bento XVI. Por exemplo, ele nomeou três bispos auxiliares com fortes laços com o falecido cardeal Carlo Maria Martini, de Milão, algumas vezes, um crítico dos últimos dois pontificados. Martini, que serviu como arcebispo de Milão de 1980 a 2002, foi o mais influente bispo italiano da era pós-Vaticano II. Quando o antecessor de Martini, o cardeal Luigi Tettamanzi, assumiu, ele "exilou" sacerdotes que eram mais próximos a Martini. A decisão de Francisco de fazer de alguns deles bispos envia uma mensagem inequívoca para a conferência.
Francisco também tentou mudar a estrutura da própria Conferência Episcopal Italiana. Este órgão não incluía todos os bispos italianos até 1964 – foi durante o Concílio Vaticano II (e como resultado deste) que todos os bispos da Itália começaram a fazer parte da conferência. Mas desde então tem servido como uma espécie de escritório satélite do Vaticano. É a única conferência episcopal cujo presidente é nomeado pelo papa. O cardeal Camillo Ruini, nomeado por João Paulo II em 1985, serviu como presidente de conferência por mais de duas décadas. Ele fez com que a agenda dos bispos italianos estivesse de acordo com aquela de João Paulo II. Francisco mudou tudo isso, convidando os bispos italianos a eleger seu próprio presidente da conferência. Mas nem todos acolheram essa oferta. Em vez disso, os bispos italianos fizeram um acordo: eles vão votar uma "terna" de três nomes a partir da qual o papa irá selecionar o presidente da conferência. Isso não é exatamente o que Francisco queria, mas talvez este compromisso vai poupar-lhe a dor de cabeça de ter que enfrentar um presidente que trabalhe contra ele.
Em algumas ocasiões, o Papa Francisco reconheceu a resistência ao seu programa. Os historiadores da Igreja nos lembram do início do pontificado de João XXIII, especialmente os meses que antecederam ao Concílio Vaticano II. Mas o pontificado de Francisco apresenta algo diferente: um "papa emérito" e sua comitiva.
Um grupo de publicações italianas dão voz à resistência, como o jormal neoconservador Il Foglio e veículos mais populistas como Libero e Il Giornale (todos têm laços estreitos com o império midiático de Berlusconi). E alguns analistas políticos do milanês Corriere della Sera, o jornal do "establishment" capitalista na Itália, também parecem preocupados com Francisco. Eles costumam alertar os leitores sobre a veia populista de Francisco, especialmente em questões de imigração e justiça econômica.
Além disso, há blogueiros e jornalistas italianos que permanecem perto de algumas autoridades do Vaticano (especialmente Sandro Magister no L'Espresso). Eles lembram os leitores que existem "dois papas". Il Foglio está republicando, em partes separadas, os ensinamentos de Ratzinger /Bento XVI (incluindo o seu muito criticado discurso em Regensburg), que parece uma tentativa de minar o novo papado. Para os escritores, os principais problemas são as preferências litúrgicas de Francisco (especialmente sua falta de paixão pelo rito pré-conciliar revivido por Bento XVI em 2007) e sua suposta falta de clareza teológica, em comparação com o seu antecessor. Eles contam com fontes de dentro do Vaticano. É preciso ter em mente que a famosa frase do Papa Francisco "Quem sou eu para julgar?" foi uma resposta direta a uma acusação contra um sacerdote publicada poucos dias antes por Sandro Magister.
Argumentos contra a proposta de Kasper de que alguns católicos divorciados e recasados possam ser admitidos à comunhão aparecem em publicações italianas com laços com os bispos que a consideram "mudança doutrinária". Eles temem que isso equivaleria a uma traição do legado Wojtyla-Ratzinger em questões de ética sexual. Após o cardeal Kasper entregar sua proposta ao consistório em fevereiro - a mando do papa – o cardeal Gerhard Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e o cardeal Caffarra de Bolonha foram repetidamente entrevistados por Il Foglio. Eles apresentaram o argumento de Kasper como uma negação de séculos de teologia moral sobre família e casamento. Mas não mencionaram que repensar as práticas pastorais significaria repensar a linguagem que eles (Caffarra especificamente) elaboraram para João Paulo II. Eles não estão apenas lutando pelo legado de João Paulo II. Eles estão lutando pelo seu próprio legado.
Em maio, o Papa Francisco fez um discurso para abrir a assembleia geral do episcopado italiano (um papa nunca fez isso antes). Seu tom era fraternal, mas ele pressionou os bispos a mudarem a linha da Igreja italiana. Sob o cardeal Ruini, os bispos italianos focaram-se no "desafio antropológico" da modernidade secular. Mas Francisco destacou questões sociais (família, trabalho, imigração) e exortou os bispos a viverem com simplicidade. Pediu-lhes que "seguissem Pedro" e atualizassem seus planos pastorais. A esse respeito, ele soava muito parecido com Paulo VI. Em um discurso de 1964 aos bispos italianos, Paulo VI encorajou-os a crescerem e a serem pastores de seus rebanhos.
Por que Francisco é tão direto com os bispos da Itália? Em primeiro lugar, poucos deles o apoiam abertamente. E segundo: Francisco foi eleito em parte para limpar os escândalos que assolaram os papados de João Paulo II e de Bento XVI, e a maior parte da Cúria continua sendo italiana.
As tensões entre Francisco e a velha guarda ainda vão demorar a se dissipar porque a cultura burocrática da Igreja Católica é resistente à mudança. Os bispos não têm muita experiência com rebaixamentos – apenas com o antigo termo "promoveatur ut amoveatur" (remover para obter promoções). Mas eles viram Francisco agindo contra o "bispo esbanjador" e com outros bispos que estavam envolvidos com o escândalo financeiro. O papa ainda disse que está avaliando o "castigo" para um bispo que for considerado culpado em um caso relacionado a abusos sexuais. Isso dificilmente alivia a ansiedade dos bispos que estão reticentes com Francisco.
Um novo livro fornece uma janela para essas tensões. Il progetto di Francesco. Dove vuole portare la Chiesa ("O projeto de Francisco. Para onde quer levar a Igreja", em tradução livre) consiste em uma entrevista com Víctor Manuel Fernández, reitor da Universidade Católica da Argentina e que, mais importante, foi nomeado bispo pelo Papa Francisco em maio de 2013. Fernández é um dos conselheiros mais próximos do papa. Na entrevista, conduzida por Paolo Rodari, correspondente do La Repubblica no Vaticano, Fernández expande as intuições teológicas de Francisco, que foram expressas de uma forma a evitar o confronto direto com seus antecessores. O livro serve como um guia para as ideias teológicas do pontificado de Francisco, especialmente no que diz respeito à sua exortação apostólica Evangelii Gaudium.
Fernández foi um dos teólogos que ajudou o então arcebispo Bergoglio a redigir o documento final da V Assembleia do Episcopado Latino-americano em Aparecida (Brasil) em 2007. Assim, ele é uma testemunha-chave para a mudança de paradigma personificada pelo jesuíta argentino. Na conclusão do livro, Fernández revela que poucos anos antes do conclave 2013, ele foi anonimamente reportado à Congregação para a Doutrina da Fé por deficiências doutrinárias. Ele respondeu à Congregação, mas isso não satisfez os seus críticos. Nesse ponto, explica Fernández, Bergoglio "insistiu que eu mantivesse a minha cabeça erguida e ... não deixasse que eles [a Congregação] tirassem a minha dignidade."
De acordo com Fernández, Bergoglio não tem muita paciência para qualquer "obsessão ideológica", nem mesmo quando ela toma a forma de debates sobre a interpretação do Concílio Vaticano II. Fernández insiste que Bergoglio quer "aplicar o Concílio Vaticano II em sua totalidade ... sem retrocesso, com a intenção de levar a Igreja para fora de si mesma, a fim de chegar a todos". Por exemplo, "isso também se aplica a muitos caminhos de reforma que foram inaugurados pelo Concílio Vaticano II, mas que pararam na metade, como a importância que o Concílio deu à colegialidade e às conferências episcopais".
Segundo Fernández, a abordagem anti-ideológica de Francisco "pode ser irritante para uma minoria e que não é representativa de toda a Igreja". Ele conecta isso com uma ideia central do pontificado de Francisco, a hierarquia de verdades. "Se tivéssemos um estilo missionário verdadeiramente capaz de chegar a todos, nós nos concentraríamos no que é essencial, que é, simultaneamente, o que é mais atraente, porque responde às necessidades mais profundas do coração humano." Ao concentrar-se no que é essencial, Fernández continua, "o papa assumiu um ensino forte do Vaticano II: a 'hierarquia das verdades' (ver o decreto do Concílio Vaticano II denominado Unitatis redintegratio), que se aplica "tanto para os dogmas da fé, como para todo o ensinamento da Igreja, incluindo o ensinamentos morais". Para Francisco, quando se desconecta a doutrina de seu contexto - que é o querigma - ela torna-se "ideológica".
Quando se trata de política na Igreja, Fernández é bastante contundente. Ele reconhece abertamente a oposição ao papa, explorando o problema da "dissidência conservadora" em uma Igreja onde não é comum os conservadores discordarem de um papa. "Até dois anos atrás", explica ele, algumas pessoas nunca teriam questionado o que um papa dissesse. Mas "agora eles ... difundem todos os tipos de críticas sobre o Papa Francisco". Em relação àqueles cujos projetos variavam "um pouco" dos projetos de papas anteriores, Fernández diz que eles "eram muito respeitosos com as escolhas desses papas, ou pelo menos aceitavam-nas em silêncio". Mas agora ele vê "alguns na Igreja que se sentem ameaçados pelos discursos e pelo estilo de Francisco, e eles parecem ter perdido de repente toda a sua afeição pela figura do papa".
Segundo Dom Fernández, Francisco acredita na participação do povo de Deus (bispos, sacerdotes e leigos) nos processos de tomada de decisão da Igreja. O papa está interessado em reformar mais do que somente a Cúria. Ele sabe que isso é importante, mas não vai resolver todos os problemas estruturais da Igreja. A Igreja precisa de mais "sinodalidade". Ou seja, a Igreja deve desenvolver processos através dos quais todos os católicos "podem se sentir representados e ouvidos ... dando mais autonomia para as Igrejas locais". Nesse sentido, é hora de "ouvir mais o povo de Deus".
Mas ouvir implica riscos. Se o papa realmente quer permitir a todos os católicos um lugar na mesa, então ele vai ter que ouvir muitas pessoas que não estão especialmente satisfeitas com a sua liderança até o presente momento. Nem todos esses críticos trabalham na Cúria. Há os órfãos de Joseph Ratzinger, que veem a resistência teológica conservadora contra a modernidade como a única chance de salvar o ocidente. Por exemplo, o filósofo Marcello Pera (ex-presidente do senado italiano) desapareceu da cena pública. Foi ele que, juntamente com Ratzinger, escreveu um panfleto, em 2004, que associava o relativismo moral, a imigração muçulmana e a decadência da Europa. Mas ele e seus companheiros ainda estão ativos em grupos de reflexão e programas de doutorado; sua influência é difícil de medir.
Alguns membros dos novos movimentos católicos – muito apreciados por João Paulo II – estão sendo desafiados por Francisco. Ele pediu para os membros do Neocatecumenato reconstruir a unidade onde eles criaram divisão. Outros movimentos e ordens, como os Legionários de Cristo, estão apenas lutando pela sobrevivência. Eles também são os órfãos de pontificados anteriores.
O Papa Francisco também enfrenta críticas daqueles que buscam restaurar o catolicismo europeu do século XIX, como o historiador Roberto de Mattei. A sua Fundação Lepanto afirma que o Concílio Vaticano II foi uma ruptura radical com a tradição, como fazem também as revistas on-line que ele supervisiona, Corrispondenza Romana e Radici Cristiane. Os neomedievalistas resistem a Francisco porque eles se opõem ao Vaticano II em questões litúrgicas. O bastante difundido blog Rorate Caeli cai neste campo, assim como Vittorio Messori, coautor do famoso Relatório Ratzinger (1985). Ainda recentemente, em 28 de maio, ele escreveu sobre o papado com dois papas, Bento XVI e Francisco, no jornal mais importante da Itália, Il Corriere della Sera.
E, por outro lado, há aqueles que pensam que Francisco não foi longe o suficiente. A revista mensal Micromega, por exemplo, oferece um espaço para alguns dos teólogos exilados por João Paulo II e Bento XVI para fazer pressão por uma revolução radical dentro da Igreja. Católicos italianos que escrevem para Micromega, como os padres Paolo Farinella e Franco Barbero, tendem a ver Francisco nada mais do que um sorriso amplo pintado na mesma velha, patriarcal e repressiva Igreja.
Em outras palavras, não faltam adversários para Francisco. O tamanho e a forma da resistência são produtos da liderança da Igreja ao longo das últimas décadas - problemas deixados apodrecendo por João Paulo II e agravados pelo seu sucessor. Diga-se o que quiser sobre os pontificados de João Paulo II e Bento XVI; eles não fizeram muito para curar as feridas que cresceram dentro da Igreja que eles lideraram.
A transição de Bento XVI ainda está se desenrolando, e o próximo ano vai trazer momentos críticos no pontificado de Francisco, os sínodos de 2014 e 2015. A situação é comparável àquela enfrentada por João XXIII depois que ele se tornou papa. Em 1959, ele anunciou que iria convocar um Concílio "ecumênico". Ele começou a falar com palavras novas e a ensinar com novos gestos. O papa encontrou forte resistência por parte de bispos comprometidos com a manutenção do status quo. E, à medida que a preparação para o Concílio Vaticano II continuava, a maioria dos observadores externos duvidavam das chances de seu sucesso. Afinal de contas, um papa de 77 anos de idade seria forte o suficiente para dirigir a barca de Pedro em uma nova direção? Será que uma pessoa de fora do Vaticano saberia até mesmo onde encontrar a direção?
Mas para todas as diferenças entre a Igreja da década de 1950 e a de 2013, a "solidão institucional" de João XXIII é semelhante à solidão do Papa Francisco hoje. As promessas de Francisco não dependem somente de Francisco, mas em grande parte do resto da Igreja - e, em particular, dos bispos e cardeais. Como João XXIII, ele não é jovem o suficiente para levar a cabo as suas próprias reformas. Caberá aos bispos e aos fiéis reconstruir a credibilidade do catolicismo. Naturalmente, o paradoxo é que um papa constantemente no centro das atenções da mídia está tentando salvar a Igreja de uma "papolatria" criada em parte por esses holofotes.
Depois da morte do Papa Urbano VIII (1623-1644), a família Barberini, os servos, aliados e clientes do falecido tiveram que fugir de Roma durante a noite para salvar suas vidas. Quod non fecerunt barbari, fecerunt Barberini - "o que os bárbaros não fizeram, a família Barberini fez". A retribuição por ter servido um papa não foi apenas política. Os tempos mudaram desde o tempo da corte papal de Roma do século XVII. Uma espécie de "sistema de despojos" ainda existe, e transições de um pontificado para outro sempre foram complicadas. Mas Francisco tem um papa emérito que ainda se veste de branco e vive no Vaticano (que renunciou, ao contrário de seus predecessores), juntamente com todos os bispos nomeados por ele e por seu antecessor recém-canonizado, cujo pontificado foi o segundo mais longo da história moderna. Desta vez, contudo, a transição papal dificilmente poderia ser mais complicada.
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O papa conseguirá gerenciar a sua oposição? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU