Por: André | 03 Junho 2014
Zuluaga garantiu que se vencer as eleições de 15 de junho manterá o diálogo com a guerrilha e não o suspenderá, como havia anunciado inicialmente. Ele e seu rival Santos estão virtualmente empatados.
A reportagem está publicada no jornal argentino Página/12, 30-05-2014. A tradução é de André Langer.
O candidato à presidência da Colômbia, Oscar Iván Zuluaga, garantiu na semana passada, dia 29 de maio, que se vencer as eleições de 15 de junho manterá as negociações de paz com as FARCs e não as suspenderá temporariamente, como havia anunciado inicialmente. “Vamos dar continuidade às conversações, mas vamos estabelecer as condições que eu sempre defendi”, disse. O candidato uribista justificou a drástica mudança de postura devido ao acordo alcançado com um setor do tradicional Partido Conservador, fundamental para vencer as eleições presidenciais no segundo turno. O presidente Juan Manuel Santos qualificou a jogada de seu rival de oportunista. “Isso é como uma confusão eleitoreira, assim a vejo”, disse o presidente. Os dois candidatos estão tecnicamente empatados na intenção de votos, segundo uma pesquisa publicada na quinta-feira, a primeira feita depois do primeiro turno, que aconteceu no dia 25 de maio.
As exigências que Zuluaga faz às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARCs) incluem um cessar-fogo de duração indefinida que contemple o fim da localização de minas antipessoas e do recrutamento infantil, assim como o cessar dos ataques contra civis, uniformizados e a rede de eletricidade. O candidato uribista, que obteve 29,2% dos votos frente aos 25,6% de Santos, selou, na quarta-feira, uma aliança com o setor do Partido Conservador representado por Marta Lucía Ramírez, que ficou em terceiro lugar nas eleições, com quase dois milhões de votos.
“Um dos temas tratados com Ramírez foi o da paz e uma das propostas que ela defendeu foi dar continuidade ao processo de Havana, com condições como excluir os menores do conflito”, expôs Zuluaga. Desde a sua candidatura pelo Centro Democrático (CD), o movimento político que tem como líder o senador eleito, ex-presidente e ferrenho crítico do diálogo de paz Alvaro Uribe, Zuluaga havia rechaçado a maneira como está posto o atual processo de paz entre o grupo insurgente e o governo de Santos.
A paz foi o eixo da campanha presidencial colombiana no primeiro turno e também o será no segundo turno, no próximo dia 15 de junho.
Santos advertiu que “a paz não se improvisa nem se faz de um dia para o outro”, ao mesmo tempo que se declarou surpreso com o que qualificou de “ato de oportunismo muito calculado”. O presidente, que busca a reeleição, recordou que Zuluaga “e seu chefe”, em clara alusão a Uribe, o acusaram durante os quatro anos de seu governo “de estar legitimando o terrorismo por acalentar o processo de paz”.
Além disso, o presidente recordou que Zuluaga defendeu a ideia de suspender temporariamente as negociações de paz desde que foi eleito candidato do CD em outubro, ratificou-o no domingo e tão somente três dias depois, após sua reunião com Ramírez, voltou atrás: “Por circunstâncias puramente eleitoreiras, vendo eles que a paz é o tema fundamental nesta eleição e que as pessoas cada vez mais a estão visualizando como a grande diferença entre as duas candidaturas, então agora eles querem acomodar-se”, apontou.
Em um tom irônico, Santos deu as boas-vindas a Ramírez e a Zuluaga porque “descobriram que a paz é boa”. O presidente acrescentou: “Mas, no fundo, os colombianos sabem perfeitamente que o verdadeiro chefe dessa extrema direita (por Uribe) não vai permitir que a paz chegue porque isso é algo que para ele não é aceitável sob nenhum ponto de vista, porque termina com sua razão de ser, e também com a de Oscar Iván Zuluaga”.
Pelos diferentes pontos de vista que defendem os dois candidatos finalistas sobre a paz, o Partido Conservador dividiu-se na terça-feira, dia 27 de maio, entre congressistas e bases que seguem Ramírez para apoiar alternativamente Santos e Zuluaga. Os primeiros a anunciar sua adesão ao presidente foram ao menos 40 dos 59 congressistas do conservadorismo que, após várias horas de reunião, assinaram um acordo programático que teria como eixo fundamental “o apoio ao processo de paz” que o governo celebra desde 2012 com a guerrilha das FARCs em Cuba.
Posteriormente, Ramírez confirmou sua proximidade ideológica com Zuluaga. A ex-ministra de Defesa do governo de Uribe, cuja eleição como candidata presidencial gerou uma crise no conservadorismo, argumentou que sua aliança com o candidato do CD se deve ao seu desejo de “acabar com a corrupção”.
De acordo com uma pesquisa publicada na quinta-feira, com margem de erro de 2,9% e realizada pela Cifras & Conceptos, Santos obteria no segundo turno 38% das preferências, um ponto percentual a mais que o número recebido por Zuluaga. O voto em branco aparece como uma opção para 15% dos colombianos, ao passo que 10% disseram não saber em quem votar ou não responderam. A pesquisa foi realizada entre os dias 26 e 27 de maio, dois dias depois do primeiro turno, com 1.672 pessoas em 62 municípios do país.
Em Bogotá, o maior colégio eleitoral do país, Zuluaga tem uma intenção de votos de 37% contra 34% do atual presidente. No estrato social baixo, Zuluaga é preferido por 39% frente a 37% de Santos; na classe média o presidente lidera com 37% ante os 36% do rival, e o mesmo acontece no estrato alto, onde é a opção para 44% e Zuluaga 35%.
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Colômbia. Giro na campanha do sucessor político de Uribe - Instituto Humanitas Unisinos - IHU