26 Mai 2014
O candidato uribista Óscar Iván Zuluaga venceu o presidente Juan Manuel Santos no primeiro turno da eleição na Colômbia, segundo os resultados preliminares, com 96% dos votos apurados. O político – que defende uma postura firme contra a guerrilha FARC e a suspensão do diálogo de paz se esse grupo não abandonar “toda ação militar” – obteve 29,2% dos votos. O presidente Santos, que vinculou sua candidatura à busca pela paz, ficou com 25,5%. Os dois se qualificam assim para o segundo turno, numa eleição que radicalizou as posturas dos colombianos em torno do processo de paz, tema que monopolizou as atenções.
A polarização oferecida ao eleitorado se vê nos resultados, que aparentemente não foram influenciados pelos escândalos que sacudiram as duas campanhas, e sobretudo a da Zuluaga na última semana.
A reportagem é de Silvia Blanco e Elizabeth Reyes L., publicada pelo jornal El País, 25-05-2014.
O debate sobre a paz deixou os outros três candidatos em segundo plano, como já mostravam as pesquisas. A conservadora Marta Lucía Ramírez obteve 15,5%, seguida muito de perto pela esquerdista Clara López, com 15,3%. Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá apoiado pela centro-esquerdista Aliança Verde, ficou para trás, com 8,3%.
A negociação com as FARC também ofuscou outros aspectos que importavam para os cidadãos, como a segurança pública, a saúde e a educação. Nas seções eleitorais instaladas na Universidade Pedagógica, perto de uma região de escritórios da capital, muitos diziam estar desgostosos com uma campanha muito suja, mostrando-se dispostos a escolher qualquer um menos Santos ou Zuluaga. “Foi um circo patético, nunca vi nada igual”, disse Camilo Góngora, de 45 anos, que votou em Peñalosa. “Gosto dele porque não entrou na guerra desses dois [Santos e Zuluaga]. Além disso, Peñalosa será mais transparente com o processo de paz, que atualmente é uma farsa das FARC”, comentou.
Santos apostou a reeleição e sua carreira política no sucesso das negociações de paz com a guerrilha. Após meses de impasse em torno do tema do narcotráfico, a mesa de diálogo deu oxigênio político a Santos há nove dias, quando anunciou um novo avanço na pauta. Além disso, as FARC e a segunda maior guerrilha colombiana, o Exército de Libertação Nacional (ELN), anunciaram um cessar-fogo por ocasião da votação. “Votarei em Santos, mas não por ser ele, e sim pela paz e por meu país”, afirmou Cristina Cerón, de 56 anos. “Passaram um ano negociando e, se a guerrilha não se levantou da mesa, é por alguma coisa”, diz.
O processo de diálogo deixa para depois das eleições um assunto central: justiça e a reparação para as vítimas. É o mais delicado para os cidadãos e, também, a linha de flutuação que o uribismo tentou torpedear, apelando a uma “paz sem impunidade” e exigindo que os cabeças da tão vituperada guerrilha sejam mandados para a prisão. O ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010), ainda muito popular, dedicou-se a perseguir o processo de modo implacável e de açular a ideia de que Santos é um traidor castro-chavista em comparação ao seu herdeiro político, Zuluaga. Alexandra Villamizar, de 51 anos, diretora comercial de uma companhia aérea, votou no uribista. “Está em jogo para nós a preservação da democracia”, afirmou. “Não se pode entregar o país às FARC nem permitir que pessoas que mataram e sequestraram entrem para o Congresso”, disse, com preocupação. “Em outras circunstâncias escolheria Marta Lucía [Ramírez, do Partido Conservador], uma mulher brilhante. Mas é preciso bloquear Santos.”
O presidente tem um enorme apoio internacional para acabar uma guerra que causou 220.000 mortos e quase seis milhões de refugiados internos em cinco décadas. Se conseguir – e parece claro que é a tentativa mais bem encaminhada até hoje –, isso significará uma enorme transformação política, um primeiro passo para a normalidade, após meio século de conflito. A paz, calcula o Governo, teria um impacto direto sobre o PIB, fazendo-o aumentar entre 1,5 e 2 pontos percentuais. Mas os colombianos estão divididos. Para muitos, nas cidades, o diálogo não é tão prioritário, embora a maioria queira que ele prossiga, segundo as pesquisas. Um dos pontos fracos do presidente, segundo seus críticos, foi sua incapacidade de defender bem o processo de paz, de modo a gerar confiança.
Nas últimas semanas estouraram nas duas campanhas escândalos que turvaram o debate. Hackers, vazamentos de informações, vídeos e guerra suja monopolizaram as atenções, enquanto as propostas ficaram em segundo plano, em um dos países mais desiguais da América Latina e do mundo. A campanha de Santos se viu afetada por uma acusação de Uribe de ter recebido dinheiro do narcotráfico para financiar sua campanha presidencial de 2010; a da Zuluaga, por um vídeo no qual ele aparece conversando com um espião informático a respeito de como utilizar informação militar secreta como arma eleitoral, algo que ele nega. Isto irritou muitos eleitores, que preferiam propostas para a segurança pública e para a formalização do emprego, disse Ricardo Jiménez, de 56 anos. “Não dão oportunidades às pequenas empresas”, afirmou, lembrando que o país tem uma boa situação macroeconômica, crescendo ao ritmo de 4,5% ao ano. “Eu tinha sete empregados contratados. Agora eu pago a eles por diária, não posso mais lhes dar garantias”, lamentou.
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O candidato uribista supera Santos no primeiro turno - Instituto Humanitas Unisinos - IHU