Por: Caroline | 28 Mai 2014
A extrema direita colombiana confirmou neste domingo, 25 de maio, o abalo iniciado com os resultados do último dia 9 de março, nas eleições parlamentares, no qual uribistas e conservadores obtiveram uma alta representação no Congresso e configuraram, como denominamos naquela ocasião, como um país “direitizado”.
A reportagem é de Luis Alfonso Mena S., publicada por Rebelión, 27-05-2014. A tradução é do Cepat.
No primeiro turno presidencial, Óscar Iván Zuluaga, Álvaro Uribe e Martha Lucía Ramírez que rejeitam o processo de diálogo de Havana entre as Farc-EP e o Governo Nacional, alcançaram 44,83% do total da votação, caracterizada de todo modo por uma elevada abstenção de 60%.
A Unidade Nacional, do presidente candidato Juan Manuel Santos (Partido da U, Partido Liberal e Mudança Radical), esteve abaixo de Zuluaga por pouco mais de 465.000 votos, isto é, 3,63% a menos.
Sem dúvida, em estados com grande nível de luta durante as greves agrícolas no ano de 2013 (como em Huila, Tolima, Boyacá, Caquetá e Santanderes) houve uma reação negativa sobre a votação de Santos.
A esquerda, representada na aliança do Pólo Democrático e a União Patriótica, cresceu substancialmente nesta oportunidade, se sua participação for comparada com as eleições realizadas no Congresso, afinal neste domingo chegou a quase dois milhões de votos, frente uma escassa margem da terceira oposição, ocupada pela conservadora Martha Lucía Ramírez.
Clara López deu um grande salto com a chegada de Aída Avella e da União Patriótica para a campanha do Polo Democrático, e triplicou a votação em relação àquela obtida pelo PDA para o Senado em nove de março, que foi de 541.000, frente aos 1.956.000 de ontem.
No Vale do Cauca, a dupla López-Avella ganhou no município da Flórida, foi a segunda em Cali, Buenaventura, Palmira, Yumbo e Candelaria; e terceira em Jamundí, isto é, vários dos mais importantes municípios do estado, no quais sua votação geral foi a segunda, liderada por Santos.
Peñalosa, a duras penas, superou o um milhão de votos, como consequência de sua campanha sem propostas diferenciadas. O voto em branco cresceu e ficou em 6%.
O mapa final dos comícios mostra uma periferia (nas costas Atlantica e Pacífica e o sul do país) com uma maioria do santismo, enquanto que o centro e o leste foram vencidos pelo uribismo (Zuluada). Uma evidencia da polarização entre a direita e a extrema direita, característica de todo o processo político do presente ano.
O que está por vir
Sem a menor dúvida, o que segue agora é o desenvolvimento dessa polarização registrada na última fase da campanha, no fundo da qual está o futuro dos acordos de paz para que se possa chegar a Havana e, além disso, a possibilidade de uma abertura democrática.
O uribismo é abertamente inimigo do processo de paz em andamento, é partidário do encerramento dos diálogos e da continuidade de uma guerra que sangrou o país ao longo de mais de 60 anos.
Zuluaga é simplesmente o alto-falante do nefasto ex-presidente Álvaro Uribe, acompanhado de uma ampla gama de elementos da extrema direita militarista e propenso ao paramilitarismo.
Santos fez parte do governo de Uribe que compartilhou, até o início do seu mandato em 2010, suas estratégias da chamada segurança democrática, e foi arquiteto dos crimes “falso positivos”, mas, todavia, apostou no diálogo com as Farc-EP e a abertura de um processo de paz, ao mesmo tempo em que recompôs as relações com a República Bolivariana da Venezuela.
É obvio que com o retorno do insistente e belicoso uribismo ao Governo, o processo de paz desmoronaria e arruinaria tudo o que foi alcançado até hoje com os diálogos de Havana, onde houve avanços substanciais em três dos cinco pontos fundamentais da Agenda de Conversas.
O anterior põe as forças sociais e políticas de esquerda frente à contraditória e paradoxa circunstancia de decidir entre manter a margem da campanha do segundo turno presidencial, ou participar dela, como já o definiu um setor do petrismo, em apoio a Santos, que garantiriam a continuidade dos diálogos pela paz, contudo frente ao qual as forças alternativas têm grandes questionamentos, não apenas pelo que fez durante o governo de Uribe, mas por sua falta de solução para as exigências de camponeses e setores populares nas intensas lutas sociais de 2013.
Além disso, suas políticas sociais e econômicas tiveram o maior índice de rejeição e mobilizações de repúdio ao longo dos últimos anos. No Polo Democrático e outras forças, certamente será realizado um debate muito crítico, pois há ali setores abertamente contrários a qualquer acordo com o santismo, dessa forma baseia-se em um acordo programático que, na realidade, toma de arrebate reivindicações de fundo do Governo.
Alianças?
O mais seguro é que a maior parte do fluxo do Partido Conservador que respaldou Martha Lucía Ramírez, uribista de longa data, ex-ministra de Defesa, servil do militarismo gringo, irá apoiar “Zorillo”.
Entretanto, a posição de Peñalosa, sempre ambivalente, assim como a de muitos de seus seguidores, que o apostam para a “anti-política” de todas as cores, não há segurança, mesmo que se pudesse pensar que são mais afins às posturas do Presidente candidato.
Ontem mesmo, Santos fez um chamado para Martha Lucía Ramírez, Clara López e Enrique Peñalosa para que o acompanhem. “O segundo turno será entre aqueles que querem o fim da guerra e os que querem uma guerra sem fim”, disse o Presidente frente a um auditório que gritava “sim se pode, sim se pode” e frente o qual concluiu afirmando: “Vamos escolher entre o medo e a esperança, entre os que querem guerra com os vizinhos e os que preferem boas relações”.
E acrescentou: “Convoco a todos que se unam por esta cruzada pela paz, e lhes digo desde já com afeto e reconhecimento: vocês fizeram propostas muito importantes que podemos tornar reais em quatro anos. Peço a vocês que nos acompanhem na luta contra a pobreza, contra a guerra, contra o pessimismo. Convoco a todos os colombianos pela unidade para a paz”.
Enquanto isso, Zuluaga, em uma intervenção que mais parecia um discurso presidencial que uma intervenção de um candidato que ganhou apenas uma etapa da campanha, voltou a atacar o processo de diálogo, e guardou silêncio sobre sua conspiração contra a paz em conveniência com o ciberespião Andrés Sepúlveda.
O povo colombiano enfrenta hoje a ameaça da volta, em maior escala, dos crimes de Estado, de uma maior perseguição contra a oposição, de mais falsos positivos e mais isolamento internacional, tudo pelo qual está disposto o candidato Zuluaga, movido pelos fios de Uribe. Contudo, também enfrenta-se o retorno do autoritarismo mais agudo e antidemocrático liderado pelo homem do “Z”.
Assim, as forças alternativas encontram-se frente a definições substanciais que requerem o maior nível de análise e de identificação científica do momento histórico, em que o que está em jogo é o futuro da paz, ameaçado pelos belicistas. O debate na esquerda e no campo social inicia-se hoje mesmo, e urge por serenidade, nível e maturidade.
A experiência da esquerda francesa em 2002, quanto teve que decidir entre a direita de Jacques Chirac e a ultradireita de Jean-Mari Le Pen, debruça-se neste ano de 2014 para a esquerda e as forças alternativas colombianas.
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Eleições na Colômbia, o que vem agora: guerra ou paz? Mais autoritarismo ou abertura democrática? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU