Por: André | 04 Dezembro 2013
Uma nota na página da internet da Conferência dos Bispos de Cuba (COCC) anunciou, em 11 de novembro, a nova liderança da Igreja cubana para os próximos três anos. A ausência do nome do cardeal Jaime Ortega y Alamino deu lugar a especulações na imprensa sobre sua imediata substituição à frente da Arquidiocese de Havana.
A reportagem é de Araceli Cantero e publicada no sítio Religión Digital, 30-11-2013. A tradução é de André Langer.
Contudo, a ausência do seu nome é algo normal por tratar-se de um bispo que já apresentou sua renúncia e talvez não pudesse completar um cargo de três anos.
Quando o cardeal Ortega apresentou sua renúncia ao completar 75 anos, em 2011, a Igreja cubana preparava a celebração de um Ano Jubilar Mariano pelos 500 anos da descoberta da imagem da Virgem da Caridade nas águas da baía de Nipe, em 1612. É bem provável que o Papa não quis aceitar a renúncia do cardeal antes desta celebração e do fim do Ano da Fé.
A nova liderança da COCC inclui a reeleição do arcebispo de Santiago de Cuba, mons. Dionisio García Ibañez como presidente algo normalmente usual. No lugar do cardeal, aparece como vice-presidente o bispo de Santa Clara, mons. Arturo González Amador. Os outros cargos foram mantidos.
O bispo auxiliar de Havana, mons. Juan de Dios Hernández Ruíz, SJ, continua como secretário-geral e no Comitê Permanente continuam o arcebispo de Camagüey mons. Juan García Rodríguez e o bispo de Holguín mons. Emilio Aranguren Echeverría. Também continua como secretário adjunto mons. José Félix Pérez Álvarez Riera, que não é bispo.
Uma substituição demorada
Agora que o Ano Jubilar terminou, os analistas assinalam que a substituição do arcebispo está para acontecer e logo. Mas talvez não tão logo, caso se levar em conta que o cardeal completará 50 anos de sacerdócio em agosto de 2014. Além disso, a Villa de San Cristobal de Havana completa 500 anos em 2015. Se a saúde do cardeal o permitir, o Papa poderia respeitar esta data permitindo-lhe celebrar seu aniversário ainda à frente da arquidiocese.
Enquanto isso, já se iniciaram na mídia as adivinhações sobre quem será o seu substituto na diocese capitalina.
Eduardo Mesa é um jovem católico que por anos dirigiu a revista Espacios na arquidiocese de Havana, diocese que conhece bem. Agora mora em Miami e em seu blog Cuba Plural aparecem algumas previsões sobre o tema. Na sua opinião, dada a complexidade da arquidiocese o substituto do arcebispo deve ser escolhido apenas entre os bispos que trabalham em Cuba. Sempre caberia a possibilidade de nomear um bispo cubano de uma diocese fora de Cuba, mas não é provável.
A Igreja católica na Ilha conta com oito bispos, três arcebispos, entre eles o cardeal, que estão à frente das três províncias eclesiásticas de Cuba, e dois bispos auxiliares, ambos em Havana.
Na seleção do futuro arcebispo da capital cubana o Papa Francisco consideraria diferentes elementos: a idade e a saúde em todos os seus aspectos, o perfil pastoral do candidato, seu serviço à Igreja e a complexidade do país e das dioceses envolvidas.
Variedade de perfis e experiência
Entre os atuais bispos cubanos há dois que deixaram o país nos anos 1960, foram ordenados fora e voltaram muitos anos depois. Há dois que são vocação tardia e exerceram uma profissão antes de serem sacerdotes. E há um espanhol.
A idade dos candidatos determinará o número de anos da possível permanência no cargo e por isso mesmo, talvez, o nome do bispo de Ciego de Ávila, mons. Mario Mestril, de 73 anos, fique fora das previsões.
No caso do Papa Francisco optar por um bispo de curta duração poderia nomear mons. Jorge Serpa, de Pinar del Río, de 71 anos, que trabalhou 31 anos como missionário na Colômbia. No seu retorno a Cuba, em 1999, serviu em Havana como vigário-geral e reitor do Seminário e, portanto, conhece a arquidiocese.
O atual bispo de Matanzas, mons. Manuel Hilario de Céspedes, de 69 anos, estaria na mesma categoria. Nascido em Havana, emigrou para Porto Rico em 1960 convertendo-se em engenheiro eletrônico. Entrou no seminário para vocações tardias na Venezuela e depois da sua ordenação trabalhou no país por 12 anos antes de voltar à sua nativa Cuba, em 1986. Foi designado para a diocese de Pinar del Río e trabalhou como chanceler e como vigário-geral antes de ser nomeado bispo de Matanzas, em 2005. É descendente do Pai da Pátria, Carlos Manuel de Céspedes e na opinião do ativista Dagoberto Valdés, que trabalhou próximo dele em Pinar del Río, é um homem com visão de futuro.
Um ano mais jovem é o arcebispo de Santiago de Cuba. Os analistas assinalam que exerceu bem o cargo de presidente da Conferência, para o qual foi reeleito. Assim como outros bispos cubanos, faz parte de uma geração que já cresceu na revolução, o que o torna conhecedor do sistema. Tem 68 anos e sua vocação surgiu depois de anos como engenheiro de comunicações. Natural de Guantánamo, na província oriental, serviu como sacerdote até sua nomeação, em 1995, como bispo fundador da diocese de Bayamo-Manzanillo. Desde 2007 é arcebispo da diocese primaz e a segunda mais importante cidade da Ilha.
Da mesma idade é o atual bispo de Bayamo-Manzanillo mons. Alvaro Beyra. Natural de Camagüey, que fez parte dos seus estudos sacerdotais na Europa.
Bispos mais jovens
Outro grupo de bispos mais jovens inclui o bispo de Holguín, mons. Emilio Aranguren Echeverría, de 63 anos. Nascido e ordenado em Santa Clara, foi nomeado auxiliar de Santa Clara (abril de 1991) e em 1995 bispo de Cienfuegos, na zona central. Desde 2005, é bispo titular de Holguín, na zona oriental. Durante 14 anos foi secretário-geral da Conferência dos Bispos, com sede em Havana, cargo que implicou relacionar-se com os representantes da Oficina de Assuntos Religiosos do Comitê Central do Partido Comunista. Durante anos fez parte do Comitê Permanente da COCC e também trabalhou na presidência (Comitê Econômico) do CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano e do Caribe) onde se relacionou com seus colegas do continente. Na opinião de Mesa “tem uma grande capacidade de trabalho e a dupla qualidade de ser bom administrador e ao mesmo tempo possuir uma grande projeção pastoral”. Sua transferência para Havana seria uma nova mudança para a diocese de Holguín e provocaria mudanças em outras dioceses.
Também com 63 anos são o bispo de Guantánamo, mons. Willy Pino, originário de Camagüey, e mons. Domingo Oropesa, bispo de Cienfuegos e nascido e ordenado sacerdote na Espanha. Seus nomes não aparecem entre os candidatos cogitados pela imprensa.
Neste grupo de bispos está mons. Juan de Dios Hernández, de 65 anos, bispo auxiliar de Havana desde 2006 e jesuíta desde 1974. Ao contrário dos bispos já mencionados, esta alternativa não resultaria em mudanças em outra diocese. Como bispo auxiliar de Havana já conhece a arquidiocese, relaciona-se bem com o clero e como jesuíta tem muito boas relações com os religiosos e missionários. Considerado um “homem de equipe” sua nomeação só precisaria, caso vier a acontecer, nomeações de novos bispos auxiliares, algo que de qualquer maneira não se pode demorar devido à idade e à saúde do outro bispo auxiliar mons. Alfredo Petit, que está com 77 anos.
Da mesma geração de mons. Hernández é o atual arcebispo de Camagüey mons. Juan García Rodríguez, de 65 anos, que raras vezes é mencionado como candidato pelos analistas. E, contudo, é um homem “com cheiro de ovelha” e com o perfil que vai marcando o Papa Francisco. Conhecido por sua ação missionária, Mesa o qualifica como “homem sereno, muito observador e espiritual, alguém que sabe apreciar o valor das pequenas coisas e capaz de conservar a calma em qualquer tempestade”. Trabalhou como presidente da COCC (2006-2009) e representou Cuba na reunião dos Bispos Latino-Americanos e do Caribe em Aparecida. Calado e reservado, foi auxiliar (1997) do falecido arcebispo de Camagüey, a quem substituiu em 2012. Embora sua transferência para Havana implicasse na necessidade de buscar um substituto para a arquidiocese, tanto o bispo de Bayamo, como o de Guantánamo são fruto daquela arquidiocese e bem poderiam retornar a ela. Substituí-los, em dioceses menores, não seria tão complicado como no caso de outras dioceses.
O mais jovem dos bispos é mons. Arturo González Amador, da diocese de Santa Clara, que tem 57 anos. Sua nomeação significaria um possível serviço de 17 anos antes de completar os 75 anos. Seu trabalho pastoral é bem reconhecido e, além disso, leva adiante, com tato, a tarefa das relações com os cubanos na diáspora. Mas sua nomeação para Havana significaria “passar por cima” de outros colegas com experiência mais longa.
Todas as considerações apóiam-se em razões práticas, afirmam os católicos cubanos que só aceitam falar sem se identificar. Também indicam que, pensando no melhor para o futuro da Igreja em Cuba, talvez seja melhor ignorá-las.
Amigos de Cuba no Vaticano
Recentemente, vários bispos cubanos, inclusive o cardeal, viajaram para Roma. No Vaticano, puderam encontrar-se com antigos amigos, agora próximos ao Papa Francisco. Um deles é o arcebispo Giovanni Angelo Becciu nomeado núncio em Cuba em 2009. Foi testemunha das negociações da Igreja com o governo para a libertação de centenas de presos de consciência. Em 2011, mons. Becciu foi chamado para Roma como substituto para Assuntos Gerais da Secretaria de Estado Vaticano, e, como tal, tem acesso direto ao Papa.
Outro bom amigo da Igreja em Cuba é o arcebispo Beniamino Stella, atual prefeito da Congregação para o Clero. Foi núncio em Cuba de dezembro de 1992 até a primavera de 1999, etapa durante a qual foram criadas quatro novas dioceses em Cuba. Seu trabalho foi durante os duros anos do “período especial” desencadeado pela queda do bloco comunista e a perda para Cuba dos subsídios soviéticos. Sua discreta e efetiva presença ajudou a melhorar as relações dos bispos locais com o governo cubano, especialmente durante os preparativos da visita de João Paulo II à ilha em 1998.
É a Assembleia Geral da Congregação para os Bispos que deve dar o beneplácito sobre qualquer candidato ao episcopado, antes de apresentar o nome ao Papa. Mas tampouco se pode ignorar que os encontros destes dois prelados com os bispos cubanos junto ao seu conhecimento da Igreja cubana e do país podem também ser de grande ajuda ao Papa nesta etapa final do processo de substituição do arcebispo de Havana.
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Quem será o substituto do cardeal Ortega, em Cuba? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU