06 Novembro 2020
Publicamos aqui o comentário de Enzo Bianchi, monge italiano fundador da Comunidade de Bose, sobre o Evangelho deste 32º Domingo do Tempo Comum, 8 de novembro de 2020 (Mateus 25,1-13). A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Nestes últimos domingos do ano litúrgico, a nossa contemplação se dirige à parusia, à vinda gloriosa do Senhor, mediante a leitura das três parábolas que concluem o discurso escatológico de Jesus no Evangelho segundo Mateus (cf. Mt 25). Hoje, ouvimos a parábola do Noivo que tarda a vir e das dez virgens chamadas a esperá-lo.
“O Noivo estava demorando…” O Senhor Jesus é o Noivo messiânico (cf. Mt 9,15; Ef 5,31-32), que veio para estreitar a nova e eterna aliança de Deus com toda a humanidade, no amor e na fidelidade (cf. Os 2,21-22). Depois de narrar Deus com toda a sua existência, Jesus “foi tirado” (cf. Mt 9,15) dos seus de forma violenta, conheceu a injusta e vergonhosa morte de cruz: o Pai, porém, o chamou de volta dos mortos, selando com a ressurreição o amor por ele vivido.
Pois bem, na sua inabalável esperança na ressurreição, Jesus tinha previsto e prometido aos discípulos a sua própria vinda como Noivo definitivo no fim dos tempos, afirmando, no entanto, que a hora precisa desse evento não é conhecida pelos anjos nem pelo Filho, mas apenas pelo Pai. (cf. Mt 24,36).
O problema sério, sentido com urgência pelos autores do Novo Testamento, consiste em fazer as contas com a demora da parusia. Diante desse grande mistério, não devemos desanimar nem cair no cinismo, mas obedecer a um mandamento preciso de Jesus: “Despertem, fiquem prontos, porque vocês não sabem em que dia virá o Senhor de vocês” (Mt 24,42,44).
É precisamente nesse rastro que se situa a nossa parábola. Dez virgens, figura da Igreja chamada a se apresentar a Cristo como virgem casta (cf. 2Cor 11,2), pegam as lâmpadas para sair ao encontro do Noivo, que vem celebrar as núpcias eternas com a humanidade inteira. Jesus logo especifica que cinco delas são imprevidentes, e cinco, previdentes: as primeiras levaram consigo o óleo para reacender o fogo nas lâmpadas, prevendo um longo tempo de espera, as outros não o fizeram.
“O noivo estava demorando e todas elas acabaram cochilando e dormindo.” É difícil permanecer vigilante, manter-se constantemente voltados ao encontro com o Senhor. Por isso, Jesus insiste no fato de que o sono une todas as virgens: e quem de nós pode dizer que não passou por horas e dias de obliteração, de esquecimento da vinda do Senhor? Realmente ninguém está isento desse risco. A diferença está em outro lugar...
De fato, quando a noite é trespassada pelo grito: “O noivo está chegando. Ide ao seu encontro!”, todas as virgens, assim como haviam adormecido, acordam e preparam as lâmpadas. Então, as imprevidentes, vendo que as suas lâmpadas se apagam, começam a pedir óleo às previdentes, mas ouvem uma rejeição: “De modo nenhum, porque o óleo pode ser insuficiente para nós e para vós”.
Egoísmo? Falta de caridade? Não, simplesmente esse óleo ou se tem em si mesmo, ou ninguém pode esperá-lo dos outros: é o óleo do desejo do encontro com o Senhor. Cada um de nós conhece (ou deveria!) a sua própria verdade mais profunda, sabe aquilo que no próprio coração se mantém acordada ou, pelo contrário, apaga a espera do Senhor: nos dias bons como nos maus, na vigília como no sono – “Eu durmo, mas o meu coração vigia” (Ct 5,2), afirma a noiva do Cântico – é nossa responsabilidade renovar os estoques desse azeite, para que o nosso coração arda do desejo do encontro com o Noivo...
É na capacidade de manter vivo esse desejo hoje que está em jogo o juízo final, isto é, o fato de ser ou não reconhecido pelo Senhor quando Ele vier no fim dos tempos.
Neste tempo que vai da ressurreição do Senhor Jesus à sua vinda na glória, o grito da Igreja é o da noiva que, junto com o Espírito, invoca: “Vem, Senhor Jesus! Maranà tha!” (cf. Ap 22,17.20; 1Cor 16,22). E cada cristão, ao ouvir esse grito, deveria responder, por sua vez, com todo o coração, a mente e as forças: “Vem!”, sabendo que o desejo ardente da vinda do Senhor já é, aqui e agora, primícias da comunhão com Ele.
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Ainda há alguém que espera o Senhor? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU