07 Agosto 2020
Logo em seguida, Jesus obrigou os discípulos a entrar na barca, e ir na frente, para o outro lado do mar, enquanto ele despedia as multidões. Logo depois de despedir as multidões, Jesus subiu sozinho ao monte, para rezar. Ao anoitecer, Jesus continuava aí sozinho. A barca, porém, já longe da terra, era batida pelas ondas, porque o vento era contrário. Entre as três e as seis da madrugada, Jesus foi até os discípulos, andando sobre o mar. Quando os discípulos o avistaram, andando sobre o mar, ficaram apavorados, e disseram: “É um fantasma! E gritaram de medo. Jesus, porém, logo lhes disse: “Coragem! Sou eu. Não tenham medo.”
Então Pedro lhe disse: “Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água.” Jesus respondeu: “Venha.” Pedro desceu da barca, e começou a andar sobre a água, em direção a Jesus. Mas ficou com medo quando sentiu o vento e, começando a afundar, gritou: “Senhor, salva-me.” Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro, e lhe disse: “Homem fraco na fé, por que você duvidou?”
Então eles subiram na barca. E o vento parou. Os que estavam na barca se ajoelharam diante de Jesus, dizendo: “De fato, tu és o Filho de Deus.”
Leitura do Evangelho segundo Mateus 14,22-33 (Correspondente ao 19° Domingo, ciclo A do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Depois da morte de João Batista Jesus tinha partido com seus discípulos para um lugar deserto. Diante das multidões que o seguiam, ele sente compaixão e, apesar do desejo dos discípulos, Jesus não as despede e sim as alimenta. Depois de lhes dar de comer, Jesus “obriga os discípulos a entrar na barca e ir na frente para o outro lado do mar”. Jesus deseja ficar sozinho e por isso ele também despede as multidões. Pode-se pensar que as multidões tentavam proclamá-lo rei como se relata no evangelho de João, mas Jesus precisa da solidão para rezar, para situar-se de uma nova maneira na sua missão.
Necessita estar na intimidade com Deus.
Logo depois de despedir as multidões, Jesus subiu sozinho ao monte, para rezar. O monte é o lugar do encontro com Deus, o espaço da divindade. Jesus precisa rezar, porque a oração é o espaço da intimidade com o Pai e o sustento da sua missão. Toda sua vida foi marcada por momentos deste encontro com Deus, seu Pai. Depois de ter alimentado a multidão ele necessita subir ao alto, dirigir seu olhar ao Pai, estar junto dele! Por isso sobe ao encontro da divindade sozinho, como ressalta o trecho evangélico.
Ao anoitecer, Jesus continuava aí sozinho. Expressamente apresenta-se Jesus durante um tempo determinado, “ao anoitecer”, num espaço concreto, “aí”, sem nenhuma pessoa junto dele. Não há nenhuma descrição sobre como reza Jesus ou algum dado que permita imaginar este momento; fica no mistério. Simplesmente disse que tinha subido ao monte para rezar e estava aí sozinho, deixando aberta a porta para seguir seu exemplo e imitá-lo como modelo.
A barca, porém, já longe da terra, era batida pelas ondas, porque o vento era contrário. Enquanto Jesus reza, os discípulos navegam com dificuldade pelas águas agitadas pelo vento. Duas situações contrárias: Jesus está no alto na intimidade com o Pai e os discípulos estão lutando contra o vento que sacudia as águas e batiam na barca, impedindo-lhes de passar ao outro lado.
As águas turbulentas representam na simbologia bíblica as forças do mal, o sinal do caos, da destruição e da morte. A barca com os discípulos deve fazer uma travessia que não é fácil. O vento é contrário, como também acontece na comunidade de Mateus. É uma comunidade perseguida, que sofre as dificuldades do ambiente que a fez sofrer, desvalorizando e desacreditando sua fé e confiança em Jesus Ressuscitado. É uma comunidade que se encontra como esta pequena barca boiando no meio do lago contra diversas situações que lhe são contrárias.
Entre as três e as seis da madrugada. Levam várias horas remando contra os ventos que fazem soçobrar a barca. Possivelmente eles estão cansados e sentem-se abandonados por Jesus, que os obrigou a subir na barca e ir embora.
A barca da nossa vida, disse o Papa Francisco, “vê-se, frequentemente, balanceada pelas ondas e sacudida pelos ventos; e, se as águas por vezes estão calmas, não tardam a agitar-se. Então irritamo-nos com as tempestades do momento, como se fossem os nossos únicos problemas. Mas o problema não é a tempestade presente, mas o modo como navegar na vida”.
Nesta situação Jesus se dirige aos discípulos, andando sobre o mar. Pensemos nos sentimentos dos discípulos: perplexidade, espanto, surpresa, estupor! Como pode acontecer isso? O que é isso? Um espectro? E assim o medo apodera-se deles e ficam apavorados sem saber o que está acontecendo e pensando que é um fantasma.
Esta é a primeira reação, o medo e o pavor. Mas nesse momento Jesus apresenta-se, convidando-os a ter confiança: Coragem! Sou eu. Não tenham medo.
Ele está presente, e sua presença gera paz e tranquilidade em cada um deles. Mas não é suficiente que Jesus se faça presente, é preciso acreditar nele, e necessário confiar que ele está por cima dessas ondas geradas pelos ventos contrários que batem contra a pequena embarcação.
“O segredo de bem navegar é convidar Jesus a subir para bordo. O leme da vida deve ser dado a Ele, para que seja Jesus a traçar a rota. Com efeito, só Ele dá vida na morte, e esperança na dor; só Ele cura o coração com o perdão, e liberta do medo com a confiança”, disse o Papa Francisco.
Neste domingo somos chamados a confiar em Jesus que caminha por cima do mal da pandemia que atinge o mundo todo e faz soçobrar a barca das comunidades de todo o mundo. “Convidemos, hoje, Jesus a subir para a barca da vida. Como os discípulos, experimentaremos que, com Ele a bordo, amainam os ventos (cf. 14, 32) e nunca sofremos naufrágio. E só com Jesus é que nos tornamos capazes também de encorajar. Há uma grande necessidade de pessoas que saibam consolar, não com palavras vazias, mas com palavras de vida. No nome de Jesus, encontramos e oferecemos verdadeira consolação: não são os encorajamentos formais e previstos que restauram, mas a presença de Jesus”.
Por causa da pandemia, disse o Papa Francisco, na oração na praça São Pedro, “Desde algumas semanas parece que tudo se escureceu. Densas nuvens cobriram nossas praças, ruas e cidades; foram se adonando de nossas vidas fazendo de tudo um silêncio que ensurdece e um vazio desolador que paralisa tudo por onde passa: se palpita no ar, se sente nos gestos, se diz nos olhares”.
E continua dizendo, “Encontramo-nos assustados e perdidos. Igual aos discípulos do Evangelho, surpreendeu-nos uma tempestade inesperada e furiosa. Demo-nos conta de que estávamos na mesma barca, todos frágeis e desorientados; porém, ao mesmo tempo, importantes e necessários, todos chamados a remar juntos, todos necessitados de nos confortarmos mutuamente, porque desta sairemos somente como um, e que “não podemos seguir cada um por nossa conta, mas somente juntos”.
Neste tempo especial o Senhor nos chama a fazer uma travessia diferente, onde nossa pequena barca é batida pelas ondas da pandemia, confiando nele. Não conhecemos o outro lado, não sabemos como é possível chegar, a noite está escura e nossas comunidades e costumes parecem afundar-se, e como a Pedro, Jesus nos convida a confiar nele. Para isso devemos estender nossos braços para que Ele nos segure e não permitir ser afundados pela pandemia do medo, da dor que castiga tantas vidas e famílias.
“No meio do isolamento em que estamos sofrendo a falta de afetos e encontros, experimentando a falta de tantas coisas, vamos ouvir mais uma vez o anúncio que nos salva: ele ressuscitou e vive ao nosso lado”, pediu Bergoglio, sublinhando as “novas formas de hospitalidade, fraternidade e solidariedade”.
Neste domingo somos chamados a abraçar o Senhor e abraçar assim a esperança. Essa é a força da fé, que liberta do medo e dá esperança.
Fizeste-te
em nossa carne
pavor,
chaga,
condenação
e sepultura.
Desde dentro
do pecado,
confundido com ele
e maldito,
surpreendes-nos agora,
surgindo de repente
pelo mesmo centro
do medo,
do golpe,
do cerco,
do fosso.
E em meio
ao susto fantasmal
de teu ser luminoso
entre as ondas
de nossa noite partida,
nos sussurras
com voz estreada
de amigo:
“Sou eu, não temas,
caminha sobre a água”
Benjamin Gonzalez Buelta
Salmos para sentir e saborear internamente as coisas
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Fazer a travessia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU