11 Agosto 2017
Logo em seguida, Jesus obrigou os discípulos a entrar na barca, e ir na frente, para o outro lado do mar, enquanto ele despedia as multidões. Logo depois de despedir as multidões, Jesus subiu sozinho ao monte, para rezar. Ao anoitecer, Jesus continuava aí sozinho. A barca, porém, já longe da terra, era batida pelas ondas, porque o vento era contrário. Entre as três e as seis da madrugada, Jesus foi até os discípulos, andando sobre o mar. Quando os discípulos o avistaram, andando sobre o mar, ficaram apavorados, e disseram: “É um fantasma! E gritaram de medo. Jesus, porém, logo lhes disse: “Coragem! Sou eu. Não tenham medo.”
Então Pedro lhe disse: “Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água.” Jesus respondeu: “Venha.” Pedro desceu da barca, e começou a andar sobre a água, em direção a Jesus. Mas ficou com medo quando sentiu o vento e, começando a afundar, gritou: “Senhor, salva-me.” Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro, e lhe disse: “Homem fraco na fé, por que você duvidou?”
Então eles subiram na barca. E o vento parou. Os que estavam na barca se ajoelharam diante de Jesus, dizendo: “De fato, tu és o Filho de Deus.”
Leitura do Evangelho segundo Mateus 14,22-33 (Correspondente ao 19° Domingo, ciclo A do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
A narrativa que lemos hoje é continuação do milagre da multiplicação dos pães e dos peixes que foram distribuídos às multidões. Todos comeram, ficaram satisfeitos e ainda sobrou pão em abundância. Num primeiro momento os discípulos sugerem despedir as pessoas para que elas possam comprar alimento. Mas Jesus valoriza o pequeno, aquilo que parece insignificante, que na aparência não tem valor suficiente para alimentar tantas pessoas.
Logo que as pessoas são alimentadas e os pedaços recolhidos em doze cestos, Jesus “obrigou os discípulos a entrar na barca, e ir na frente, para o outro lado do mar”.
Pensemos um momento nos discípulos. Possivelmente eles estavam impressionados com o que tinha acontecido, e partilhariam entre eles aquilo que tinham visto, as respostas das pessoas, de alegria ou desconhecimento da origem do pão, as queixas, a fome etc. Podemos pensar que os discípulos teriam gostado de partilhar com Jesus tudo isto e ficar com ele. Mas Jesus precisa subir na montanha e rezar. Ele deve permanecer a sós com o Pai.
O milagre da multiplicação dos pães e a subida ao monte para rezar, lembra o que acontecerá na Última Ceia e a oração no Horto das Oliveiras.
Acompanhemos Jesus neste momento de oração até a noite, sozinho com a confiança no seu Pai, que iria dar a força necessária para viver o que o aguardava.
A coragem e o ânimo que vem do Pai são acolhidos como o sedento que procura a água que sacie sua sede. Somente assim ele pode continuar sua travessia.
Ele desce uma vez mais, à procura dos discípulos que estavam numa barca batida pelas ondas suportando o vento contrário. Como pescadores, eles conheciam o mar, não era a primeira vez que enfrentavam dificuldades pelo vento e pelas tormentas enquanto navegavam.
O texto narra que os discípulos ficam apavorados quando veem uma figura andando sobre o mar. E por isso gritam de medo!
Em vários momentos, no evangelho, aparece o medo. José, pai de Jesus, é o primeiro a narrar que tem medo de tomar Maria por esposa.
Em Mateus 8, 23-26, num contexto similar, os discípulos têm medo pela agitação do mar enquanto Jesus estava dormindo. Jesus questiona seu medo e chama-lhes “homens de pouca fé”. Os discípulos ficam admirados do poder de Jesus, que acalma os ventos e o mar, e se perguntam: “Quem é esse homem, a quem até o vento e o mar obedecem?”
Jesus vai dizer sempre as mesmas palavras: Não tenham medo!
No texto que lemos na Festa da Transfiguração, os discípulos têm medo diante do Mistério da Revelação do Filho Amado do Pai que aparece dialogando com Moisés e Elias.
As mulheres recebem o anúncio dos anjos de que Jesus havia ressuscitado, e correm com muita alegria para dar a boa notícia aos discípulos. Quando Jesus vai ao seu encontro, diz-lhes: Não tenham medo! E envia-os para anunciar aos irmãos que se dirijam à Galileia para vê-lo!
Na passagem que lemos hoje, o medo irrompe nos discípulos quando veem Jesus caminhando sobre as águas e pensam que é um fantasma. Logo é Jesus que, uma vez mais, diz-lhes: “não tenham medo”.
Pedro tem medo quando caminha sobre a água, indo ao encontro do Senhor; “ficou com medo quando sentiu o vento” e nesse momento “começou a afundar”!
O medo está geralmente relacionado à pouca confiança no Senhor, à falta de fé nos momentos difíceis, como por exemplo, na tormenta, durante a noite, quando estão na obscuridade e o perigo os invade.
Estas pessoas tinham muito conhecimento desse mar, não era a primeira vez que o atravessavam, mas por que tinham tanto medo? Jesus os mandou atravessar o mar no momento que ele queria ficar a sós e rezar. Era um momento que os discípulos também tinham que estar sós e aprender a resistir às tormentas, aos imprevistos do mar, com fé e confiança no Senhor, que sempre tem sua mão estendida para nos salvar.
Hoje há muitas situações de pessoas que escolhem navegar num mar desconhecido, à procura de uma terra diferente. Movidas pelo amor a sua família e pela coragem, sem nenhuma segurança, arriscam suas vidas à procura da terra, de alimento. Desafiam as tormentas que se apresentam numa pequena e quase insignificante barca. A exigência de sair de um mundo de contínua destruição, onde suas mulheres, meninos ou meninas podem ser capturados para ser vendidos como escravos sexuais ou de trabalho.
Essas e outras motivações os conduzem a mudar-se para o desconhecido. Do outro lado do mar confiam que uma vida nova os aguarda. Essa confiança no desconhecido os ajuda a deslocar-se apesar dos perigos que devem transpassar.
Sabem das variadas experiências de mortes e afundamento das barcas, não obstante continuam a atravessar o mar porque seu desejo está acima de tudo.
Na vida das nossas comunidades como seguidores de Jesus, nossa barca muitas vezes parece que vai sucumbir. Mas a fé nos confere a segurança para caminhar no meio da escuridão, suportando as dificuldades.
Assim como as pessoas se ajoelham, dando graças a Deus, quando chegamos à terra nova procurada também nós somos convidados a ter uma atitude de agradecimento pelas vezes que Jesus estende sua mão para salvar-nos e não nos deixar afundar.
Somente as pessoas que fazem essa travessia têm convicção suficiente para comunicar a outras a força e o ânimo indispensável para isso. Elas sabem das dificuldades que tiveram que atravessar. Os discípulos ajoelham-se diante de Jesus e adoram-no como o Senhor da sua vida.
Unamo-nos a eles e a tantos desconhecidos que atravessam tormentas, tempestades, impulsionados pela procura de uma terra nova. Que a vida nas nossas comunidades seja um exemplo da coragem que nos conduz e fortalece sempre. Que saibamos comunicar a humildade de Pedro, que reconhece que afunda e por isso procura a mão estendida de Jesus para salvá-lo.
Unificação
Unifica em ti
minhas dispersões
Sara minhas rupturas
no espírito e no corpo.
Apaga minhas seduções
que me precipitam no vazio.
Dissolve meus medos
que me paralisam na morte.
Fixa meu desejo
somente em ti.
Acolhe em teu descanso
o que sou e o que fui.
Benjamin González Buelta
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À procura de uma terra nova - Instituto Humanitas Unisinos - IHU