05 Mai 2018
“2018 é um ano em que acontecem várias eleições, que foram permeadas pela preponderância do voto jovem. Mobilizá-lo tem sido o leitmotiv de boa parte das equipes de campanha que, com maior ou menor sucesso, articularam discursos, atividades, programas e formas de comunicação com o estilo e os códigos desta parte do eleitorado. Dado o seu peso nos processos eleitorais, atraí-los para as urnas e aos candidatos nas últimas eleições regionais foi uma necessidade constante”. A análise é de Camila Vollenweider e Ava Gómez, ambas pesquisadoras do Celag, em artigo publicado por Telesur, 30-04-2018. A tradução é de André Langer.
A ascensão das mídias digitais e das redes sociais pôs de manifesto não apenas a visível preponderância dos mais jovens no ciberespaço, mas também as inusitadas capacidades da interatividade na mobilização coletiva da juventude latino-americana.
Durante a década de 2000, a região testemunhou diferentes mobilizações juvenis orientadas por objetivos específicos, que posteriormente se expandiram para o conjunto das sociedades e tornaram-se eventos políticos e culturais que tiveram impactos em todo o continente.
Os novos repertórios da mobilização coletiva foram orientados por demandas específicas de educação, como foi o caso das manifestações de Los Pingüinos em 2011 no Chile, em que os jovens demandavam amplas melhorias no sistema educacional; ou as manifestações organizadas no mesmo ano na Colômbia pela Mesa Ampla Nacional Estudantil, na qual estudantes universitários se organizaram para lutar contra a reforma da Lei 30, que consideravam um aprofundamento da deterioração da educação pública.
Mais recentemente, em 2016, um grupo de jovens universitários organizou-se através das redes sociais para mobilizar-se a favor da paz, uma vez conhecido o resultado do plebiscito na Colômbia. Em uma manifestação massiva, os jovens tornaram-se repulsivos à mudança em favor dos Acordos de Paz, expressando uma posição contrária aos resultados das pesquisas.
Essas mobilizações tiveram como resultado a interpelação à política tradicional dos países onde ocorreram e foram movimentos construídos a partir da autonomia, da horizontalidade e do distanciamento dos partidos políticos tradicionais. Mas não implicaram a posteriori a formulação de movimentos ou partidos integrados institucionalmente para disputar processos eleitorais. Dos mencionados, talvez tenha sido o movimento estudantil chileno que mais se aproximou da efetiva constituição de um partido político através do Juventude Rebelde, embora seu impacto na disputa política continue a ser marginal.
Os jovens são o grupo populacional com maior presença na região, um fenômeno que alguns países acertaram em chamar de “bônus demográfico” ou “dividendo demográfico” e que, estima-se, começa seu declínio à medida que entramos na década de 20 do século XXI. Eles também foram protagonistas nos processos eleitorais mais recentes.
Na Costa Rica, jovens entre 17 e 35 anos foram a população com maior peso no registro eleitoral (1.383.498, representando 40%). Depois das últimas eleições, 33% das novas cadeiras no Congresso serão ocupadas por políticos com menos de 40 anos, enquanto a idade média passará de 50 para 46 anos. Além disso, sua participação tornou-se visível no primeiro e no segundo turno das eleições: os principais eleitores de Carlos Alvarado eram jovens, mulheres e pessoas com formação superior [3] [4].
No caso de Honduras, 70% da população tem menos de 40 anos e 691.781 hondurenhos eram novos eleitores, um número equivalente a 13% do Censo Eleitoral Nacional Definitivo (CNDE), com um total de 1.497.290 eleitores jovens, compreendidos entre os 18 e os 25 anos, representando 24,7% da CNDE.
No caso do Paraguai, 1.841.832 jovens entre 18 e 34 anos estavam habilitados a votar, dos quais 884.927 tinham entre 18 e 24 anos. E, apesar do fato de que a tendência foi o aumento da participação nas eleições gerais (com 62,28% em 2003, 65,41% em 2008 e 68,56% em 2013), ao comparar por faixas etárias o nível mais alto de intervenção corresponde aos cidadãos de mais de 40 anos de idade (mais de 70%); enquanto isso, o segmento de 18 a 24 anos teve o nível mais baixo (menos de 63%). No caso das últimas eleições de 22 de abril, estima-se que a participação dos mais jovens tenha permanecido na tendência histórica de participação.
Nos casos da Colômbia e do México, há duas candidaturas que estão mobilizando fortemente o eleitorado jovem. No caso colombiano, Gustavo Petro reúne hoje o maior percentual de intenção de voto em um primeiro turno entre os jovens de entre 18 e 24 anos, com 43,7%, seguido por Iván Duque (35,3%) e, bem atrás, Germán Vargas Lleras, com 13,3%. Em um possível segundo turno, o candidato do Colômbia Humana também angaria a maior parte do apoio jovem: 60,5% dos jovens pesquisados o apoiam, enquanto Duque atrai 37,3% [5].
Pesa a favor de Petro não apenas um universo discursivo que inclui temas que atraem os jovens – como o meio ambiente, as minorias, etc. – e programas específicos em educação e emprego, mas que foi erigido em boa parte deles como uma alternativa de mudança ao estabelecido.
Algo semelhante acontece com Andrés Manuel López Obrador (AMLO), candidato à presidência do México pelo Morena. Em um país com 30,6 milhões de jovens entre 15 e 29 anos, dos quais 7,5 milhões não estudam nem trabalham e 60,6% dos que trabalham estão no setor informal, AMLO têm a preferência dos jovens. De acordo com a terceira edição da pesquisa Voto Millenial de Nación 321, 51% dos jovens votariam no AMLO – sem considerar os 29% de indecisos –, enquanto Ricardo Anaya, mais próximo em termos geracionais com 38 anos, tem 29% da intenção de voto [6].
No nível programático, López Obrador propôs um ambicioso programa de bolsas de estudo e capacitação profissional para jovens com poucos recursos, cotas para todos os jovens que desejam estudar e representação dessa faixa etária em seu futuro gabinete. Mas além das propostas, AMLO atrai esse grupo etário por sua imagem de incorruptível, combativo com o decadente sistema político mexicano representado pelo PRI e por sua figura política coerente. Um dado não menos importante a esse respeito é que, de acordo com o Instituto Nacional Eleitoral, dos mais de 90 milhões de cidadãos em condições de votar, 36.156.742 (36%) são jovens de 18 a 34 anos.
2018 é um ano em que acontecem várias eleições, que foram permeadas pela preponderância do voto jovem. Mobilizá-lo tem sido o leitmotiv de boa parte das equipes de campanha que, com maior ou menor sucesso, articularam discursos, atividades, programas e formas de comunicação com o estilo e os códigos desta parte do eleitorado. Dado o seu peso nos processos eleitorais, atraí-los para as urnas e aos candidatos nas últimas eleições regionais foi uma necessidade constante.
No entanto, foram e são poucas as propostas que conseguem gerar conexões mais fortes, uma vez que os jovens, embora participem massivamente através das redes sociais, têm pouca presença nas eleições. E, embora ocupem as ruas de maneira massiva e com diversas formas de protesto, acham as propostas dos candidatos pouco sedutoras.
O novo progressismo latino-americano parece ter identificado fórmulas concretas que podem desencalhar as relações entre os jovens e a política tradicional, embora ainda seja cedo para dizer que eles vão acabar com a abstenção dos jovens. Começar por propostas claras e específicas, mas, acima de tudo, viáveis, parece ser um primeiro passo para um acompanhamento definitivo.
1. Estimaciones y proyecciones de población total, urbana y rural, y económicamente activa.
2. Ibid.
3. Informe de Resultados Del Estudio de Opinión Sociopolítica
4. Informe de Resultados de la Encuesta de Opinión Sociopolítica Realizada en Abril de 2018
5. Resultados de la Gran Encuesta Caracol televisión, Blu Radio y Semana 27 de abril
6. Encuesta: Millenials lo tienen claro, 51% votaría por AMLO para presidente
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América Latina. Jovens e eleições: entre o desencantamento, a crítica e a mobilização - Instituto Humanitas Unisinos - IHU