Por: Jonas | 20 Julho 2016
Dom Julio Parrilla, bispo de Riobamba, torna pública a carta-resposta ao Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, explicando as razões da retirada do memorável Mural da Catedral, símbolo dos mártires latino-americanos que propuseram uma Igreja para os pobres e marginalizados, presenteado pelo Nobel da Paz. A carta é publicada por Religión Digital, 18-07-2016. A tradução é do Cepat.
Fonte: http://goo.gl/7u4Vrx |
Eis a carta.
Ao Sr. Adolfo Pérez Esquivel
Querido irmão, respondo sua carta pública, a primeira que chega em minhas mãos, na qual me pergunta sobre o destino do mural que doou à Igreja de Riobamba. Compreendo sua estranheza e lhe peço desculpas, pois certamente devo uma explicação que esperava fazer chegar a você assim que terminadas as obras de acondicionamento. Faço isto agora, com os melhores sentimentos de admiração e gratidão.
A mudança realizada obedece duas razões. Uma, mais circunstancial; a outra, mais de fundo, sempre contando com o parecer dos responsáveis da Catedral e do Conselho Episcopal.
Em primeiro lugar, realizamos na Catedral obras de readequação, propiciando alguns espaços litúrgicos novos, necessários para a atenção pastoral ao Povo de Deus. Isso nos levou a considerar a possibilidade da mudança do mural. Como você bem sabe, na Catedral permanecem os murais de Oswaldo Viteri, no presbitério, e de Pablo Sanaguano, na Capela de Santa Bárbara.
Em segundo lugar, a Diocese se encontra comprometida na recuperação do centro de formação e pastoral de Santa Cruz. Tal centro, em uma situação de quase abandono, foi, como você bem disse, desde a época de Dom Proãno, a Casa Mãe ou o coração da Igreja de Riobamba. Disto, de seu valor e significado, sou plenamente consciente e me sinto orgulhoso por herdar tal experiência. Em Santa Cruz, continuamos celebrando assembleias, reuniões e qualquer iniciativa de formação, tanto da pastoral indígena, quanto mestiça. Há quase um ano, empreendemos obras muito importantes de atualização que garantam que Santa Cruz continue sendo nosso espaço privilegiado de encontro e de formação.
Nesta perspectiva de continuidade e de recuperação da memória histórica, pensamos o Mural em destaque no salão de eventos do Centro de Santa Cruz, perfeitamente localizado, cuidado e ressaltado. Ou seja, localizado no lugar eclesial de diálogo, comunhão e formação da Diocese. Entendemos que semelhante referência, unida à imagem de Dom Proãno, a seus livros e demais efeitos pessoais (estamos criando um espaço apropriado de exposição), manterá viva a memória de delineamentos e opções fundamentais para nossa Igreja, que se sente em profunda comunhão de fé e de vida com a Igreja Latino-Americana.
Muitas coisas mudaram, querido Adolfo, com a passar dos anos e das mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais que ocorreram, mas as inspirações de Dom Proãno (a amor aos pobres, aos indígenas e ao trabalho por sua libertação, o valor da comunidade como sujeito de missão, a participação e a corresponsabilidade dos agentes de pastoral...) seguem vigentes, pois não são mais que um sinal da permanente fidelidade ao Jesus do Evangelho. As palavras de Proãno: “Creio no homem e na comunidade” que recebem a todos os que chegam a Santa Cruz, continuam sendo o lema que preside a casa e o espírito que ilumina nosso caminhar.
Desejo contar com sua compreensão e apoio, mas tenha a certeza que o Mural continuará inspirando muitas das inquietudes de nosso povo e de nossa igreja, também reunidas no Plano Pastoral Diocesano atualmente em vigor.
Tomara que algum dia possamos contar com sua presença em Riobamba e, especialmente, em Santa Cruz. Aqui tem sua casa, a amizade e a solidariedade do bispo desta igreja, que tenta caminhar com fidelidade a Jesus e aos pobres, seu principal templo.
Uno-me a você na oração e no comum amor ao Reino de Deus.
Dom Julio, bispo de Riobamba no Equador
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A resposta do bispo de Riobamba, Equador: “As inspirações de Dom Proãno seguem vigentes” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU