11 Junho 2011
Maureen A. Tilley (foto), professora de Teologia da Fordham University, nos EUA, abriu o 66º Encontro Anual da Sociedade Teológica Católica dos Estados Unidos - CTSA nesta sexta-feira, em San Jose, Califórnia, fazendo diretamente uma pergunta: "O que significa ser Santo?".
A reportagem é de Thomas C. Fox, publicada no sítio National Catholic Reporter, 10-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto e revisada pela IHU On-Line.
Sua conferência desdobrou-se por meio da história patrística, dos modelos de reação da Igreja ao pecado e à desunião, examinando o recente tratamento dado pelo Vaticano aos irmãos "desobedientes", e terminou com um apelo a implorar coletivamente a inspiração e a direção do Espírito Santo.
O tema do encontro deste ano da CTSA aborda a santidade. Oficialmente, o tema da conferência é "Católico inteiramente uno: Santos e santidade na Igreja pós-apostólica", que parece deixar muito espaço para a discussão teológica.
Seu discurso ao público foi seguido de um caloroso discurso de boas-vindas do bispo de San Jose, Dom Patrick Joseph McGrath (foto).
"O uso predominante do termo `santo` se refere ao Espírito Santo, ativo na comunidade cristã unida", disse Tilley, referindo-se às comunidades da Igreja primitiva. "O Espírito é a fonte da unidade. Por isso, a santidade não é um projeto individual, mas sim comunitário. É a Igreja – e não os indivíduos – que é chamada de santa no Novo Testamento".
Esse modelo funcionou no início, mas acabou tendo problemas com o crescimento da Igreja. Tornou-se cada vez mais difícil, disse Tilley – recentemente nomeada professora titular na Fordham –, particularmente quando se tratou de lidar com membros da Igreja que agiam contra a unidade, incluindo os pecadores dentro da Igreja.
Ela, então, esboçou várias respostas da Igreja primitiva ao dilema de acomodar a pecaminosidade em uma Igreja pura, cheia do Espírito Santo. De alguma forma, devia haver um lugar para a fragilidade humana.
Ao longo do tempo, disse ela, a Igreja testemunhou "uma conexão que ia finalmente diminuindo entre a Igreja, o Espírito Santo e a santidade, ou a falta dela".
Um bispo ou um padre pecador pode transmitir a graça de Deus nos sacramentos? Os batismos que eles ministram são válidos e repletos da graça?
"Gradualmente", continuou Tilley, "os pecados individuais dos membros da Igreja deixaram de ter importância para a questão da unidade ou da santidade. O ensinamento sobre a possessão e a ação do Espírito Santo era o que os mantinha unidos, e isso também foi muito reduzido", disse ela.
"Assim, podemos ver, na evolução do pensamento patrístico ocidental, um movimento de uma Igreja estritamente delimitada, sem nenhum lugar para o mal, a uma Igreja em que o mal deve ser tolerado até certo ponto, até o fim dos tempos, para o bem daqueles que Deus sabe que vão se arrepender antes da Colheita no fim do mundo".
Então, voltando-se à história da Igreja do século XX, Tilley disse ter visto líderes da Igreja apelando a diversos "modelos" de Igreja, enquanto eram forçados a acomodar ou a confrontar os irmãos desobedientes.
Ela comparou o modo como o Vaticano, de um lado, lidou com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X e a Associação Patriótica Católica Chinesa; e, de outro lado, com os bispos e teólogos.
"O desejo de unidade para os dois primeiros casos – a Fraternidade Sacerdotal São Pio X e a Associação Patriótica Católica Chinesa – revela um modelo de Igreja que acha que pode cuidar de si mesma e se foca na preocupação com o bem-estar das almas".
As disputas do Vaticano com os bispos e teólogos partiram de um modelo diferente, disse ela.
Repetidamente, João Paulo II e Bento XVI, afirmou, estenderam a mão à Fraternidade São Pio X e à Associação Patriótica Católica Chinesa. Esse não foi o caso, porém, da forma como trataram os membros do seu rebanho.
"Para as pessoas que não estão do lado de fora ou mesmo às margens, para os católicos ativos, a resposta vaticana é diferente". Aqui, disse ela, a unidade exigiu "santificação pessoal, que, por sua vez, é reconhecida não na partilha do Espírito como já se fez, mas na adesão à ortopraxia, elevada ao status de ortodoxia".
Tilley usou como exemplos do tratamento do Vaticano:
Enquanto isso, vários teólogos, disse ela, tiveram seu trabalho considerado como inaceitável para a Congregação para a Doutrina da Fé. "A resposta a esses homens e mulheres foi diferente. Bispos errantes, agora, encontram-se fora dos círculos do poder, ou fora do seu ofício, e teólogos veem suas obras serem condenadas sem serem ouvidos".
Tilley perguntou: "A Igreja é menos capaz de lidar com bispos e teólogos do que com cismáticos? Os atos de bispos e teólogos representam uma ameaça para a unidade, a santidade e a catolicidade da Igreja mais do que a Fraternidade Sacerdotal S. Pio X ou a Associação Patriótica Católica Chinesa?
Citando Bento XVI, a resposta é "sim", disse Tilley. Ele diz que "hoje vemos isso de um modo realmente terrificante: que a maior perseguição da Igreja não vem de inimigos externos, mas nasce do pecado na Igreja".
Ela concluiu afirmando que esse fenômeno revela duas ideias diferentes da Igreja como una, santa e católica. "Uma parece estar confiante de que a Igreja tem o que é preciso para cuidar dos pecadores errantes e trazê-los de volta ao rebanho. A outra é o medo de que o mundo mau, fora da Igreja e especialmente dentro dela, é capaz de seduzir e desviar as ovelhas".
"Pode-se dizer: `Bem, problemas diferentes exigem soluções diferentes`. Isso também pode ser verdade. Mas as soluções diferentes tendem a refletir as concepções de Igreja e a engendrar, formar e reforçar diferentes conceitos e tipos de Igrejas, uma confiante, e outra temerosa".
"Quem deve escolher? Os próprios santos. Eles já estão escolhendo quando admitem à comunhão os católicos divorciados e de segunda união. Eles já estão escolhendo naquilo que compram e leem. Estão fazendo boas escolhas? São direcionados pelo Espírito Santo? Como eles – vocês – estão preparados para fazer boas escolhas?".
Tilley terminou dizendo que é preciso haver uma recuperação do respeito, não apenas da boca para fora, ao papel do Espírito Santo de engendrar a unidade e a santidade na Igreja.
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"Respeitem o Espírito Santo na vida da Igreja" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU