13 Janeiro 2014
Um dos principais argumentos usados pelos defensores da abertura de uma rodovia pavimentada através do Parque Nacional do Iguaçu, no oeste do Paraná, é o de que a mesma alavancaria a economia regional. Mas, estudo publicado em 2010 mostra que a abertura da chamada “Estrada do Colono” não teria papel relevante na economia de municípios do oeste paranaense, baseada na produção de soja, milho, mandioca e trigo em pequenas propriedades.
A reportagem foi publicada pelo sitio WWF-Brasil, 10-01-2014.
“Os resultados mostram que a abertura da estrada não pode ser justificada a partir de uma perspectiva econômica. A capacidade econômica das 14 cidades (na região de influência do parque), bem como outras cidades do estado do Paraná, é mais dependente de transferências dos governos federal e estadual, bem como do ICMS Ecológico, do que de suas próprias receitas, com exceção de Foz do Iguaçu”, ressalta Ramon Arigoni Ortiz em seu estudo para o Centro sobre Mudanças Climáticas do País Basco (Espanha)(1).
O trabalho foi baseado em estatísticas e dados econômicos oficiais, bem como em entrevistas com lideranças da Associação de Integração Comunitária Pró-Estrada do Colono (Aipopec), políticos, Ibama, entidades civis, comerciantes e moradores de cidades como Serranópolis, São Miguel, Matelândia, Foz do Iguaçu e Céu Azul, todas vizinhas ao parque nacional.
Desde 2004, quando a pesquisa foi feita, os principais argumentos apresentados pelas fontes pró-estrada são de perdas econômicas significativas e crescimento econômico negativo com o fechamento definitivo da estrada, o que aconteceu em 2003 por ordem da Justiça Federal. Além disso, alegam que a unidade de conservação é um obstáculo ao desenvolvimento regional e que haveria dificuldades para famílias visitarem seus parentes no outro lado do parque nacional com o fechamendo da estrada.
“Essas pessoas ainda têm a perspectiva dos colonizadores, que ocuparam a região no passado e derrubaram a floresta para uso agrícola da terra. Este aspecto cultural estaria no centro do problema relacionado à Estrada do Colono. (…) Esta visão pode ser estimulada com interesses político-eleitorais, agravando a insatisfação popular”, afirma Ortiz em seu estudo.
E de acordo com a socióloga Maria de Lourdes Urban Kleinke, funcionária aposentada do instituto que participou, em 2005, da elaboração de um parecer técnico da Procuradoria Geral do Paraná sobre o fechamento da estrada, em todas as conversas com a população dos municípios próximos, nenhuma história de relações familiares comprometidas pelo parque foi de fato encontrada.
“Durante a pesquisa, não identificamos qualquer situação que comprovasse que a reserva comprometeu relações ou vínculos afetivos”, lembra a socióloga na cartilha A estrada não é o caminho, lançada por entidades civis para frear o projeto de lei que propõe a abertura de uma estrada através do Parque Nacional do Iguaçu. O material pode ser baixado no atalho ao lado.
Efeito de borda – Além dos mais de 17 mil metros quadrados de Mata Atlântica que podem ser desmatados se a abertura da “Estrada do Colono” for autorizada por deputados e senadores, estudos mostram que os impactos negativos sobre animais e plantas podem chegar a uma faixa de, pelo menos, 100 metros de largura em cada lado da via. É o chamado “efeito de borda” que, no caso do trecho que pode ser cortado no Parque Nacional do Iguaçu, atingiria negativamente a conservação da biodiversidade em uma área de quase 40 mil hectares(2).
O “efeito de borda” é uma “cicatriz” no meio da mata conservada, pela qual há maior entrada de luz, ventos e espécies exóticas, alterando a dinâmica natural da floresta e ameaçando a sobrevivência de espécies nativas mais sensíveis.
1) Nas palavras traduzidas do autor, o “WWF-Brasil apoiou financeiro este trabalho, ao que sou grato. No entanto, o WWF-Brasil não é responsável pelos resultados e opiniões neste estudo. Agradeço também a dois pareceristas anônimos por seus comentários construtivos, correções e sugestões. Os restantes erros e omissões são responsabilidade do autor apenas”. O estudo pode ser baixado no atalho ao lado.
2) In this regard, the potential impact of the Colono Road on the fauna and flora of the Iguacu National Park has been identified: “given a minimum range of 100 meters on each side of the road … there will be a total range of about 200-220 meters where the “edge effect” may be significant, probably critical” (Milano et al., 2000). Assuming this result, we estimated the forest area lost (in terms of its biodiversity) due to the opening of the Colono Road as ranging between 35,200 to 38,720 hectares.
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“Estrada do Colono” não tem relevância econômica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU