O Silêncio das Ostras. Comentário de Alysson Oliveira

Cena do filme "O Silêncio das Ostras" | Foto: Divulgação/Olhar Filmes

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28 Junho 2025

Na infância, Kailane vive com sua família numa pequena vila onde todos trabalham numa mina próxima. Com o passar dos anos, ela acaba ficando sozinha, até que uma tragédia ambiental acontece na região.

O comentário é de Alysson Oliveira, jornalista e crítico de cinema, publicado por CineWeb, 23-06-2025.

Eis o comentário.

A famosa música dos anos de 1980, Eva, da banda Rádio Táxi (que teve outras regravações mais tarde), é um elemento importante dentro de O Silêncio das Ostras, primeiro longa ficcional para cinema do premiado documentarista Marcos Pimentel. É uma canção que fala sobre o fim de um mundo, cantada por um homem que chama sua Eva para irem para outro planeta, pois uma destruição causou “o fim da aventura humana na Terra.”

No longa, destruições socioambientais causam esse apocalipse em nível nacional e pessoal. Os desastres de Mariana e Brumadinho, em 2015 e 2019, respectivamente, são o centro da jornada da personagem Kailane, interpretada na infância por Lavínia Castelari, e na vida adulta, por Bárbara Colen. Roteirizado pelo próprio Pimentel, esse é um filme de camadas que se acumulam, de um desconforto iminente que se concretiza em breve.

Em pequena, Kailane vive numa vila operária de mineradores em meio a uma crise social, que aos poucos acaba desativando a mina e transformando o local numa cidade-fantasma, onde a menina tem como companheiros seus cachorros. Ela é a única filha de uma família cujo pai fica imóvel numa cadeira de rodas. A mãe, Cleude (Sinara Telles), é quem faz todos os esforços para manter todos, mas, conforme confessa à filha, sonha em sair dali e ser cantora.

Não custa muito e ela desaparece, deixando Kailane solitária com seu cachorro Ostra, e a menina passa a colecionar insetos. É uma jornada de perdas e solidões, com a morte do pai e a despedida dos irmãos, em busca de uma vida melhor. Cada vez mais sozinha, Kailane beira a desumanização, que virá quase que por completo com a tragédia ecológica que a tudo destrói.

Trabalhando com o experiente diretor de fotografia Petrus Cariry, Pimentel constrói um filme de estética particular, num tom que transita entre o drama e o documental, sua área de experiência, para fazer um filme impressionante em seu retrato da ganância capitalista. O contraste entre a beleza visual e a destruição materializa os processos e as contradições dos processos industriais no país – a falsa promessa de progresso, que, quando se dá, é a um alto custo.

Lavínia e Bárbara também têm uma sintonia particular na criação da personagem principal. Da semelhança física entre as duas atrizes à maneira como a personagem se comporta, é um claro caminho na sua compreensão de seu papel social e do ambiente em que vive, marcado por sua percepção solitária num mundo que parece destituído de razão.

Há momentos impressionantes, como, depois de sua casa ser destruída pela lama, Kailane sai numa espécie de peregrinação em busca de um lugar e encontra um homem (Renato Novais) preso até a cintura num buraco cheio de lama. Em contraste a isso, novamente, pois esse é um filme que destaca contrastes, há um circo e, novamente, a música Eva, cantada à capela, lembra que, se não houver mudanças, não há outra opção senão fugir numa arca de Noé intergaláctica.

Ficha técnica:

Nome: O Silêncio das Ostras

Nome original: O Silêncio das Ostras

Ano: 2024

País: Brasil

Gênero: Drama

Duração: 127 minutos

Classificação: 12 anos

Cor da filmagem: Colorido

Direção: Marcos Pimentel

Elenco: Barbara Colen, Lavinia Castelari, Sinara Teles

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