Estudar a história para viver a fé hoje

Foto: Canva

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

22 Novembro 2024

Fala-se que São Filipe Neri costumava dizer ao seu amigo Cesare Baronio, fundador da historiografia católica: venha pelo menos uma vez por mês ensinar a história da Igreja aos nossos alunos porque eles já não a conhecem, e caso não se conheça a história não se chegará a conhecer mais a fé. Esta atenção ao estudo da história é mais atual do que nunca e a Carta publicada pelo Papa Francisco indica isso com grande clareza. Como já aconteceu com a anterior Carta do passado mês de agosto, dedicada à importância da literatura, o Sucessor de Pedro dirige-se antes de tudo aos sacerdotes pensando na sua formação, mas lança uma luz para um tema que não interessa somente a eles.

A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican News, 21-11-2024.

Estudar a história da Igreja é uma forma de preservar a memória e construir o futuro. E é o modo melhor para interpretar a realidade que nos rodeia. Educar as jovens gerações a aprofundar o passado, a não confiarem nos slogans simplificadores, a moverem-se com destreza no labirinto de milhões de “notícias” muitas vezes falsas ou de qualquer forma tendenciosas e incompletas, é uma missão que diz respeito a todos nós. As palavras de São Filipe Neri insistem no vínculo peculiar da fé cristã com a história. A encarnação, morte e ressurreição do Filho de Deus é um acontecimento que dividiu em dois - um antes e um depois - a história da humanidade. A fé católica não é antes de tudo ideia, filosofia, moral, mas relação, vida, uma concretude, história. Somos cristãos graças a um testemunho transmitido de mãe para filho, de pai para filha, de avós para netos. E retrocedendo esta cadeia chegamos às primeiras testemunhas, os apóstolos, que partilharam, dia após dia, toda a vida pública de Jesus.

Este amor pela história, acompanhado pelo olhar de fé, faz olhar com atenção também para as páginas menos nobres e mais sombrias do passado da Igreja. "Estudar sem preconceitos porque a Igreja não tem necessidade de mentiras, mas somente da verdade", disse Leão XIII ao abrir o então Arquivo Secreto do Vaticano em 1889.

Certamente, aprofundar a história nos coloca em contato com as “manchas” e com “rugas” do passado. Francisco explica que "a história da Igreja ajuda-nos a olhar para a Igreja real para poder amar aquela que existe verdadeiramente e que aprendeu e continua a aprender com os seus erros e as suas quedas”. Reconhecendo a si mesma também nos momentos obscuros, a torna capaz de compreender "as manchas e feridas" do mundo de hoje.

O olhar do Papa está, portanto, muito distante de qualquer preocupação apologética, voltada a apresentar uma realidade açucarada; bem como pelas tendências ideológicas que pelo contrário pintam a Igreja como um covil de malfeitores.

Na realidade, uma Igreja que saiba verdadeiramente confrontar-se com cada ruga do seu passado, mais facilmente permanece humilde, porque tem consciência de que é o Senhor quem salva a humanidade, e não as estratégias de marketing pastoral ou o protagonismo deste ou daquele personagem da moda.

Leia mais