26 Fevereiro 2024
"Depois de dois anos de guerra na Ucrânia, de bombardeamentos e de sofrimento, perguntamo-nos o que ainda precisa acontecer para que a agressão pare e para que possamos reunir uma mesa para negociar uma paz justa", escreve Andrea Tornielli, no editorial publicado por L’Osservatore Romano, 24-02-2024.
Mesmo que as terríveis notícias que chegaram da Terra Santa nos últimos meses, e agora a morte do dissidente russo Navalny, tenham ofuscado as notícias de guerra da Ucrânia, hoje queremos recordar. Fazemo-lo hoje em dia, dando voz às testemunhas, a quem não cede à lógica do ódio, a quem continua a rezar e a agir para aliviar o sofrimento de uma população esmagada por 24 meses de bombardeamentos. Fizemo-lo deixando falar os números, porque a dura realidade do que está a acontecer, muitas vezes agora longe dos holofotes, descreve a absurda desumanidade desta guerra. Dezenas de milhares de vidas humanas são sacrificadas para conquistar alguns quilômetros de território, dezenas de milhares de jovens e idosos são feridos ou mutilados, cidades ucranianas inteiras foram arrasadas, milhões de pessoas deslocadas vivem no estrangeiro, milhares de minas são destinadas a minar a vida futura da população inocente... O que ainda precisa acontecer para que a agressão cesse e se sente à mesa para negociar uma paz justa?
Os inúmeros apelos do Papa Francisco para chamar a atenção para a “Ucrânia torturada” caíram em ouvidos surdos. A guerra e a violência parecem ter se tornado a forma de resolver disputas. A corrida armamentista em vista de futuras guerras é agora um fato, também aceito como inevitável. O dinheiro que nunca será encontrado para construir jardins de infância e escolas, para financiar cuidados de saúde funcionais, para combater a fome ou para promover a transição ecológica com a proteção do nosso planeta no coração, está sempre disponível quando se trata de armamentos. A diplomacia parece silenciosa diante das sirenes beligerantes. Palavras como paz, negociação, trégua, diálogo são vistas com desconfiança. A Europa muito pouco se fez ouvir, para além do protagonismo solitário de líderes individuais.
Nunca antes houve tanta necessidade de não ceder à lógica da guerra. É necessário continuar a invocar de Deus o dom da paz, como continua a fazer incansavelmente o Sucessor de Pedro, sabendo ver as brasas de esperança que ardem sob o manto cada vez mais espesso das cinzas do ódio. São necessárias novas lideranças proféticas, criativas e livres, capazes de ousar, de apostar na paz e de assumir o comando do futuro da humanidade. Precisamos do compromisso responsável de todos para que a voz daqueles que não se rendem à lógica “cainista” dos “senhores da guerra” que correm o risco de nos levar à autodestruição seja ouvida com força e determinação.
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